É possível especular que a relação do neurologista Sigmund Freud com a cocaína causou ou potencializou o surgimento da psicanálise?
Uma cogitação livre sem comprovada evidência científica pode ser considerada, levando-se em conta os estudos aprofundados do Acadêmico Sérgio de Paula Ramos, compartilhados na atividade científica da Reunião Ordinária da Academia Sul- Rio-Grandense de Medicina (ASRM), realizada neste sábado (28), no auditório do CREMERS. O Dr. Sérgio de Paula Ramos especializou-se na história de Freud – assim como nas biografias de outros dependentes químicos famosos como Winston Churchill, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, Tim Maia e Garrincha – buscando consolidar uma visão crítica que permita o equilíbrio entre a paixão dos admiradores e a rejeição dos detratores que se dividem em relação ao homem considerado um dos 20 mais importantes do século XX pela revista Time.
Segundo o Acadêmico, Freud foi consumidor regular de cocaína durante 11 anos (de 1884 a 1895). Neste período, prescreveu a droga para um de seus professores e para pacientes e enviava a substância junto com cartas, para a namorada Marta, no norte da Alemanha. “Escreveu quatro artigos sobre cocaína, mas esses textos não figuram em suas obras completas”, afirma Paula Ramos.
Após a elaboração de O sonho de Irma, foi capaz de livrar-se da dependência de cocaína de modo súbito e definitivo, próprio das personalidades geniais. Possivelmente ao dar-se conta da inutilidade da droga, a que recorria em momentos de depressão, decidiu buscar uma ‘solução sem medicamentos’.
Então surgiu o psicanalista, com a dimensão da carreira, da obra e do legado grandioso que todos conhecem. Entretanto, Freud não parou de fumar uma média diária de 12 a 18 charutos. Submeteu-se a cauterizações nasais e a cerca de 30 cirurgias. Morreu aos 82 anos, oficialmente vitimado por câncer da mucosa oral.
Assista à gravação da Reunião clicando AQUI.
Ellis Busnello
Antes da sessão científica, o Acadêmico Paulo Silva Belmonte de Abreu realizou, em nome da ASRM, uma homenagem ao Acadêmico Emérito Ellis Alindo D’Arrigo Busnello (falecido em 12/07/23) relembrando, resumidamente, sua brilhante jornada como psiquiatra e médico comunitário. Em nome dos familiares presentes no auditório, a filha Maria Luiza agradeceu o tributo, recordou a paixão pela vida que o pai cultivava. “Ele gostava de frequentar a Academia, gostava de ser homenageado e, sobretudo, gostava do ser humano”.
Adesão dos pacientes
Coordenado pelo primeiro vice-presidente da ASRM, Sérgio de Paula Ramos, um talkshow com os acadêmicos Claudio Telokën, Domingos d’Avila e Nilton Brandão da Silva encerrou a programação no final da manhã. A conversa no palco envolveu acadêmicos na plateia debatendo sobre o tema “O que faço com o paciente que não segue as orientações”. Os participantes defenderam diversas e diferentes posições sobre o comportamento de pacientes e dos próprios médicos, mas concordaram que, em média, cerca de 50% dos doentes crónicos não costumam respeitar as orientações médicas.