O que fazer quando metade dos pacientes não adere à orientação médica? A interrogação proposta pelo primeiro vice-presidente da ASRM, Sérgio de Paula Ramos, foi mais do que uma provocação “para eu mesmo aprender”, como ele disse com bom humor na apresentação dos acadêmicos convidados para o palco do auditório do CREMERS no sábado (28): Claudio Telöken, Domingos D’Àvila e Nilton Brandão.
Foi, acima de tudo, o êxito de um novo formato, inédito nas reuniões da Academia, em que os palestrantes conversavam entre si e dialogavam com a plateia, na qual os médicos trocaram experiências clínicas e permitiram-se até fazer um mea culpa sobre o papel do doutor no consultório.
Há quem acredite que os 50% em média dos doentes que não obedecem às prescrições devem ser encarados como uma dificuldade normal do relacionamento médico-paciente e, portanto, ossos do ofício sem solução.
O urologista Telöken destaca que os dependentes de substâncias químicas minimizam os problemas sexuais que devem resultar em impotência e em infertilidade. E não abandonam as drogas que ajudam a moldar a imagem física desejada por eles e valorizada no meio social em que vivem. O trágico é que os jovens estão consumindo, sem controle algum, testosterona -inclusive as definidas como produtos veterinários para animais de competição.
D’Àvila contou que um médico transplantado parou de tomar medicação após cinco anos. O seu colega e paciente justificou que achava que o enxerto era já um órgão de seu organismo e por isso abandonou totalmente os medicamentos. O resultado é que voltou a adoecer novamente do mesmo mal.
Brandão afirma que os pacientes do SUS recebem receitas para oito a nove medicamentos contínuos diários em diferentes dosagens e horários. E isto dificulta a adesão. Narrou, ainda, que mesmo uma paciente esclarecida e com nível superior renegou os oito remédios alopáticos trocando-a por igual quantidade de homeopáticos, mas ingeria mercúrio cromo.
Os médicos também reconhecem que podem estar errando. Por exemplo: na comunicação com o paciente, na linguagem incompreensível do “mediquês”, na falta de escuta das queixas reais ou imaginárias dos doentes e na exagerada poli medicação que receitam.
Mas o que é possível fazer, afinal, para tentar mudar esta situação? Telöken brinca dizendo que, às vezes, “a arma útil e eficiente é a esposa”. Isto é, o médico deve buscar a parceria da mulher, pois ela, no afã de concretizar sua realização como mãe, intensifica e alerta seu parceiro dos riscos da infertilidade perene ou prole com alterações.
D’Ávila acredita que é preciso conversar, discutir e mostrar os riscos e as vantagens aos pacientes. Mas só com uma estrutura com acompanhamento regular do paciente – a ser feito mesmo por assistente social -, será possível tentar monitorá-lo eficientemente e comprovar sua anuência às recomendações do médico.
Por sua vez, Brandão acha que o médico tem que reverter a tendência atual do profissional que se transforma em um algoritmo sem capacidade criativa, para se aproximar do paciente e obter sua cumplicidade na aceitação à palavra do doutor. “O melhor caminho no enfrentamento do problema estará sempre no aperfeiçoamento da ‘relação de confiança ‘prudência entre médico e paciente, cada um consciente do seu papel (profissional, respeito, humanístico, ético) para a obtenção de melhores resultados na função de curar ou de cuidar”, reforça ele.