Ilustríssimos Presidentes da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina:
Aloysio Achutti, Nelson Pires Ferreira, Carlos Gottschall, Luiz Rohde, José Camargo, Luiz Fernando Jobim, Gilberto Schwartsmann, Luiz Lavinsky
Colegas membros desta Academia
Autoridades que nos acompanham
Convidados, Amigos, Senhoras e senhores
Os atuais acadêmicos titulares da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, dos quais hoje 66% estão com 75 anos ou mais, a princípio seniores da vida, fomos especialmente impactados, pelo inusitado, por duas recentes situações históricas excepcionais. Em 5 de maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde anunciou o fim da pandemia de Covid-19, após 40 meses e 1221 dias. Um ano depois, menos dois dias, neste 3 de maio de 2024, a água invadiu as ruas de Porto Alegre, a partir de seu Centro Histórico.
Cada um de nós guardará lembranças deste episódio conforme as próprias particularidades. Algumas imagens me fizeram chorar e eu saberia descrevê-las agora. No entanto, a principal imagem que vou guardar, de beleza plástica indiscutível, é uma cena, vista do alto, que tem uma única pessoa. Ela está dentro de um bote a remo, em torno do nosso Mercado Público, que domina o cenário. A água tem a cor de ferrugem, regurgitada que foi, do esgoto. Mas, curiosamente, a cor é igual à cor do céu em alguns pores do sol. Tal cena me fez lembrar da exposição que aconteceu em 2022, aqui em nossa cidade, do ucraniano Sioma Breitman, tido como o retratista de Porto Alegre, especialmente quanto aos seus registros da enchente de 1941. E lembrei também, não sei por qual associação, da visão que se tem, quando no alto do convés do navio que passeia pelo rio Nilo, vê-se os mercadores que, lá embaixo, em botes, atiram suas mercadorias.
Por que esta introdução, triste, aparentemente desconectada de um evento festivo como o da posse de hoje? Porque, olhando o Mercado Público, lembro da Academia.
O Mercado é uma referência na cultura do Rio Grande do Sul, com mais de 150 anos, o mais antigo do Brasil. Sofreu com enchentes e sobreviveu a quatro incêndios. A solidez da pedra sobre pedra que representa a estrutura física do mercado e a sua história farão com que continue. Já a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina completou, no último dia 19, 34 anos. Além de recente, ao contrário do Mercado, a Academia sul-rio-grandense ainda não tem sede própria. Qual o ponto que as duas instituições têm em comum? A herança cultural, em nosso caso, inata.
Nossa Academia, desde seus inspiradores e primeiros líderes, é formada por representantes renomados no meio médico local. Além do conceito ocupacional, indivíduos íntegros, com a capacidade de servir de modelo à classe profissional.
No entanto, nossa Academia tem pouco menos de 100 membros, contadas todas as categorias. Esses membros representam aproximadamente 50% das especialidades médicas oficializadas pelo Conselho Federal de Medicina. Para a operacionalidade, contamos com um funcionário e poucos colaboradores. De forma isolada não temos estrutura de recursos humanos e suporte para protagonizar campanhas públicas. Também não temos projetos estruturados para angariar apoios e recursos. Mais que tudo, somos pouco conhecidos pela sociedade, quando não dizer por nossos pares. Neste cenário, realista, quais os encaminhamentos para construirmos o futuro da Academia?
Na nossa visão e a curto prazo, as ações não serão vultosas ou ruidosas. São pequenas ações concatenadas que visam atender às finalidades da Academia, como a manutenção da sua atividade original, isto é, a atualização científica em temas médicos, e a manutenção de atividades que chegaram posteriormente, como publicações sobre a história médica no Estado e sessões culturais. Mas isto não basta e é necessária a divulgação do nosso afazer. É preciso que o nome e as ações dos nossos membros vão a público. Que escrevam, informem, ocupem espaços. Como disse em outra ocasião, a credibilidade inerente e conquistada da Academia a torna legítima interlocutora para os temas que envolvem conhecimento médico e saúde da população. Precisamos ampliar nossa interação com a sociedade.
Encerramos um ano de gestão de uma Diretoria que trabalhou ininterruptamente para realizar um rol de ações que estão sumarizadas no Relatório de Gestão que encaminhamos aos senhores e que gostaríamos que fosse lido.
Agora, reconduzidos pela confiança dos confrades e confreiras, confiança esta que nos sensibiliza e pela qual somos gratos, já trabalhamos num novo Plano de Metas. Vamos seguir a linha que nas palavras acima defendemos, e queremos estar sempre juntos e contar com a colaboração efetiva de todos vocês.
Agradeço a todos os colegas da Diretoria na Gestão 2023-2024 e conclamo os antigos e os novos membros da gestão 2024-2025 para um trabalho denso. Convoco a todos para mais uma prestação de serviços a esta Academia para honrar a excepcionalidade profissional de nossos Patronos, o arrojo de nossos fundadores, o empenho de nossos ex-presidentes, a confiança dos acadêmicos que os elegeram e a escolha da Presidente que os convidou.
E termino, como iniciei, e não há como fugir, com os tempos atuais. Li, há poucos dias, uma coluna do Nizan Guanaes, em que ele coloca que a terceira guerra mundial não será entre países, mas a guerra entre o homem e a natureza, a qual não poderemos ganhar, e que encerrava com a seguinte frase: Senhores, estamos na primeira classe do Titanic. Sim, neste momento não é fácil escrever, não é fácil festejar, mas a esperança, mesmo que escondida, vive.
Obrigada a todos!
Miriam Oliveira
Presidente ASRM 2024-2025