Homenagem aos vencedores do Concurso de Contos para estudantes de Medicina (29 de outubro de 2022)
Digno presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, dr. Luiz Lavinsky, ao cumprimentá-lo, saúdo as confreiras, os confrades, os homenageados e seus familiares.
Primeiro devo cumprimentar a coordenadora do projeto cultural da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, acadêmica Miriam Oliveira, pela excelente condução do Concurso Contos para Estudantes de Medicina, realizado no decorrer de 2022 pela Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Cumprimentar também os organizadores das normas do edital, Germano Bonow e Paulo Prates, bem como aos demais colegas que participaram comigo da comissão julgadora: Carlos Gottschall, Gilberto Schwartsmann e Rogério Xavier.
Confesso, acadêmica Miriam Oliveira, coordenadora do projeto Cultural da Academia, que fiquei muito feliz ao ler os textos dos alunos, ao ver que, no Rio Grande do Sul, continuava se mantendo a longa tradição de médicos escritores. Mas de onde vem essa particularidade, visto que não se acha produção literária semelhante em outros estados brasileiros?
Disse o poeta, historiador e professor de Literatura, Guilhermino César, em seu texto, Medicina e Literatura, publicado no Correio do Povo em 27/7/1978: 3): “Numa época em que não havia no Brasil cursos de Letras, as Escolas de Medicina eram verdadeiros berçários de escritores. Entretanto, mesmo após a disseminação das faculdades de letras, a medicina tem legado à literatura escritores expoentes”. Dentre eles, destacava, então: Aureliano de Figueiredo Pinto, Dyonélio Machado, Cyro Martins e Moacyr Scliar.
Vale destacar que desde Hipócrates, o Pai da Medicina, os médicos trabalham com o corpo e os sentimentos das pessoas. Registram suas queixas físicas e suas dores da alma. Nessa singular relação, eles convivem com milhares de pessoas, e com a desafiadora peculiaridade de que nenhuma é igual à outra. E, mesmo tendo de cumprir uma gama de responsabilidades e de trabalho, os médicos nunca se contentaram em registrar apenas as particularidades das doenças dos seus pacientes.
Depois de Hipócrates, os documentos produzidos na Era Cristã registram que São Lucas, um dos evangelistas que escreveu Atos dos Apóstolos, teria sido médico. Esta hipótese se sustenta em seus próprios textos que mencionam muitas pessoas doentes e as formas de tratamento que usava. Outro argumento favorável a essa teoria situa-se na proximidade existente entre a terminologia usada por ele ao se referir aos enfermos e a terminologia empregada por Hipócrates em seus livros.
E a observação feita pelo ilustre professor Guilhermino César encontra eco num passado não muito distante aqui no nosso meio. Em 1914, dois anos depois de ter sido fundado o Centro Acadêmico de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, sob a presidência do acadêmico Raul Moreira, hoje Patrono da Cadeira 58, da nossa Academia, foi lançada a revista Vida e Arte, na qual os alunos publicavam trabalhos, contos, poesias e desenhos satíricos. Mais tarde surgiram várias revistas e jornais das Associações das Turmas Médicas de cada ano, conhecidas como Revistas das ATMs. Dessas publicações tiveram destaque especial O Manhoso, O Ectópico e o Pascoal. A tônica do humor produzido pelos alunos incidia sobre temas mais recorrentes, tais como o temido vestibular, o trote, a passeata e o baile dos bixos, de modo especial, aos que não se submetessem aos ditames dos veteranos. Há registros de críticas a alguns professores, bem como comentários sobre as dificuldades dos estudantes de medicina: moradia, alimentação, falta de livros na biblioteca, falta de funcionários para estudos extras para estudo de Anatomia à noite.
Em 1937, Balbino Marques da Rocha, com o título Estância de Dom Sarmento, publica pela Editora Globo, um livro de sátira que alcançou grande repercussão, dentro e fora da faculdade. E toda essa produção literária realizada entre 1914 e 1932, não deixou de ter vinculação com o movimento que a Sociedade de Medicina de Porto Alegre e os cronistas médicos dos jornais encetavam contra a Lei da Liberdade Profissional, implantada no nosso Estado através da Constituição Positivista de 1891.
Cabe salientar, de outra parte, que, em 2013 publiquei um ensaio intitulado “Médicos escritores através dos tempos”. Pelo fato de ter sido publicada uma extensa obra sobre médicos escritores gaúchos já falecidos, no volume 7, da série Médicos (PR)ESCREVEM, coordenada por Fernando Neubarth, Blau Fabrício de Souza, Luiz Eduardo Degrazia e Franklin Cunha, em 2001, ative-me apenas aos autores locais, nacionais e internacionais que publicaram e ou publicavam os gêneros romance, conto e teatro. Hoje, ao retomar o tema, aproveito para salientar que, além dos médicos que citei então, há dezenas de médicos no estado que se dedicam à produção literária do gênero poesia, crônica, ensaio, História de Medicina, que devo destacar nesta cerimônia:
- João Gomes Mariante
- Carlos Antônio M. Gottschall
- Paulo Sérgio Rosa Guedes
- Rogério G. Xavier
- Carlos H. Menke
- José J. Peixoto Camargo
- Gilberto Schwartsmann
- Osvandré Luiz Canfield Lech
- Paulo Prates
- Maria Helena Itaqui
- Leonor Schwartsmann
Então, bem-vindos ao grupo de médicos escritores do Rio Grande do Sul, ilustres acadêmicos vencedores:
Em 1º lugar Luís Felipe Saldanha, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas.
Em 2º lugar, Rodrigo Nascimento, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Em 3º lugar, Júlia Breitenbach Diniz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo.