Arthur Mickelberg, filho dos doutores José e Romana Mickelberg, nasceu em 8 de fevereiro de 1923 em Porto Alegre – RS. Casou-se em 29 de março de 1950 com Ana Julia Martins Dahne, com quem teve um filho, o médico cirurgião vascular, José Arthur Mickelberg. Fez seu curso primário na Olinda Schule (atual colégio Visconde de Porto Seguro) em São Paulo. Cursou o Ginásio Júlio de Castilhos em Porto Alegre de 1936 a 1937 e também nele, fez o curso pré-médico até 1939. Em 1940 inscreveu-se no exame vestibular da Faculdade de Medicina que hoje integra a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estava então com 16 anos de idade e este exame foi permitido pelo ministro da educação, Dr. Gustavo Capanema, em caráter especial, devido ao brilho invulgar que o jovem Arthur já apresentava. Concluiu seu curso médico em 1945, sem jamais realizar exames finais, pois passou por média o curso inteiro. Formou-se em Medicina em 12 de dezembro de 1945. Neste período de sua vida já dominava os idiomas alemão, francês, espanhol, italiano e russo. Vocacionado para a atividade docente, começou a lecionar na Universidade ao atuar na Santa Casa, na Enfermaria de Neurocirurgia do professor Elyseu Paglioli (1946).
Algum tempo depois, iniciou suas atividades na Enfermaria 18 do professor Guerra Blessman. Logo se destacou entre os professores da Faculdade de Medicina e se tornou livre docente, por concurso, na Clínica Propedêutica Cirúrgica em doze de junho de 1950. Posteriormente, em disputa entre docentes da mesma cátedra, tornou-se catedrático interino. Naquela época este título necessitava da avaliação e nomeação pelo presidente da república, o que aconteceu. Em 1959, foi realizado concurso para Cátedra de Clínica Cirúrgica da UFRGS que estava vaga.
Foi mais um memorável concurso da Faculdade, julgado por banca de professores da própria universidade e convidados ilustres de outros centros de ensino médico. De caráter público, foi assistido pelo corpo discente da Faculdade. O brilho, a disputa intelectual e científica desses concursos contaminavam os alunos fazendo com que se estabelecessem verdadeiras torcidas a favor de um ou de outro candidato. Preferido pela grande maioria da assistência, o professor Mickelberg foi aprovado com média 9,2 em setembro de 1959, mas ficou em segundo lugar. Em 1968 assumiu a Cátedra de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da UFRGS, em que sempre teve participação brilhante e efetiva. Em 1970 foi eleito presidente e coordenador da Comissão de Carreira de Medicina da UFRGS, cargo que era ocupado pela primeira vez. A Comissão de Carreira assumia a responsabilidade da doutrina da formação de médicos, graduação, sua avaliação, currículos, 182 programas e implantação da reforma do ensino. Ocupou o cargo até julho de 1974. Em 1971 tornou-se membro efetivo da 2ª Câmara (Bio – Médica) do Conselho de Coordenação de Ensino e Pesquisa da UFRGS, cargo exercido até julho de 1974. A reforma da estrutura pedagógica das universidades brasileiras eliminou a figura do professor catedrático e a organização docente se fez em departamentos.
O professor Mickelberg passou a ser professor titular e chefe do Departamento de Cirurgia da UFRGS, por eleição, em 1974. Participou a partir de 1949 em congressos e jornadas apresentando trabalhos ou sendo convidado como conferencista ou para participar de mesas redondas e simpósios. Seu exemplo abriu a mente dos jovens médicos gaúchos para o estudo, a investigação, e a atuação clínica e cirúrgica na patologia vascular periférica. Seus trabalhos como docente e pesquisador passaram a ser reconhecidos no Brasil e fora dele. Participou ativamente em congressos médicos estrangeiros, tornando-se respeitado na América Latina e na Europa. Foi membro correspondente da Academia Peruana de Cirurgia, da Associação Médica Argentina, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, membro do Capítulo Latino-Americano da Internacional Vascular Society, membro da Sociedade de Angiologia Del Uruguay, membro titular da Societê Internationale de Cirurchia (Bruchelas), membro do Comitê Executivo da Union International d’Angeologie (Roma) e de tantos outros.
Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular em 1952, e tornou-se seu presidente de 1957 a 1958, e, num segundo período, de 1982 a 1983. Participou de forma importante na criação da Regional do Rio Grande do Sul. Nessa época, tornouse membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em sua vida profissional e acadêmica, o Professor Mickelberg recebeu inúmeras honrarias e comendas: – 1944 – Prêmio Serapião Mariante: Concedido pela 29ª Enfermaria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (atual 35ª Enfermaria) ao interno que melhor trabalho tivesse apresentado durante o ano; – 1946 – Prêmio Carlos Wallau 1945 – Conferido pela Congregação da Faculdade de Medicina de Porto Alegre à melhor tese apresentada na área da cirurgia; – 1958 – Medaglia di Bronzo Ricordo – Conferida pelo presidente da República Italiana, por ocasião de sua visita ao Brasil, após ter colaborado como médico oficial do presidente; – 1959 – Cidadão amigo de São Paulo – Condecoração – conferida pelo então prefeito da Cidade de São Paulo, Dr. Adhemar de Barros, por ocasião da inauguração do Hospital dos Funcionários Municipais; – 1963 – Medalha comemorativa do 50º aniversário da fundação da Faculdade de Direito de Pelotas. Em sinal de reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à cultura cientifica e universitária do nosso Estado; – 1976 – Medalha Honra ao Mérito – Guerra Blessmann. Por serviços prestados há mais de 20 anos ao Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. – 1976 – Medalha comemorativa do sesquicentenário da fundação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. – 1977 – Título de Irmão Benemérito da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – RS. – 1977 – Medalha Mérito do Centro Naval Médico Marcílio Dias, do Ministério da Marinha – Rio de Janeiro. – 1977 – Medalha Homenagem ao Mestre – Jubileu de Prata (1952 – 1977) da Sociedade Brasileira de Angiologia – XXII Congresso Brasileiro de Angiologia – Belo Horizonte, Minas Gerais – Setembro 1977.
Também lhe foi conferido a Medalha do Mérito Angiológico René Fontaine – o mais elevado título honorífico, da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, por serviços prestados à educação médica, na graduação e na pós-graduação em angiologia e cirurgia vascular. Recebeu o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal de Santa Maria e da Universidade de Passo Fundo. Embora não tenha exercido nenhuma atividade de caráter político, fora da área médica, em Porto Alegre existe rua com seu nome no Bairro Vila Nova. A Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, iniciou suas atividades em 19 de maio de 1990 e o Prof. Mickelberg foi um de seus fundadores. Membro titular, ocupou a cadeira de número 43 cujo patrono é o Dr. Luis Francisco Guerra Blesmann e teve expressiva atividade na consolidação e desenvolvimento da Academia em seus primeiros anos. Foi seu primeiro tesoureiro. Após seu falecimento, o professor Rubens Maciel, que era membro honorário da Academia, solicitou e obteve a titularidade da cadeira 43, passando a atuar como membro titular.
O Prof. Mickelberg sempre manteve uma atitude de inquietude cientifica e curiosidade aguda pelo novo. Tinha uma personalidade espirituosa e o convívio informal era facilitado pelas muitas histórias que sabia contar. Era grande sua facilidade de comunicação e sólida sua cultura médica. Os últimos 10 anos de sua vida foram caracterizados por uma redução importante de sua capacidade de trabalho e de produção cientifica, conseqüente a enfermidades que o acometeram. Embora reduzida, sua atividade científica e profissional não foi interrompida. Na Faculdade de Medicina durante este período continuou sua atividade docente na graduação. Manteve também o Programa de Residência Medica em Cirurgia Vascular e Angiologia. Este Programa, reconhecido pela SBACV, formou especialistas durante vários anos. Um deles, o doutor Pedro Pablo Komlos, aluno, residente e, mais tarde, colaborador do professor, é um dos maiores conhecedores de sua obra, que recorda com especial carinho. Sereno frente à doença, que a cada dia lhe roubava um pouco mais da função renal, faleceu no dia 02 de maio de 1998, deixando entre nós a saudade e o respeito por sua vida profícua e criativa.