Privilegiado por compartilhar a cadeira número 44 com o pai e patrono Luiz Soares Sarmento Barata, o acadêmico fundador Henrique Sarmento Barata teve sua proposição derrotada, em votação nos primórdios da entidade, para uma proposta do colega Rubens Maciel, integrante da Academia Nacional de Medicina, que defendia a inclusão de mais associados da capital do que médicos do interior na constituição da similar gaúcha.
Mesmo definindo Maciel como seu ídolo, o Dr. Barata não mudou de posição nos últimos 30 anos. Para ele, a entidade deveria ter, desde o começo, 50% de acadêmicos de Porto Alegre e outra metade do interior do estado. Esta disputa sobre proporcionalidade, definida por escrutínio legitimado na composição com 40 porto-alegrenses e 20 interioranos, está registrada no histórico livro de 50 folhas com as 25 primeiras atas, identificado em letras manuscritas de autoria Telmo Kruse, registrando a contenda em encontro entre os pioneiros da fundação no dia 12 de junho de 1990, em plena estruturação do quadro social.
Mesmo sendo agraciado com o título de Cidadão Emérito da capital gaúcha onde nasceu em 6 de janeiro de 1933, o Dr. Barata devota um enorme reconhecimento a localidades do interior rio-grandense. Presta reverência para Jacutinga, onde, logo após formado em 1960 em Porto Alegre pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou a carreira substituindo um colega no hospital do então distrito de Erechim. “Era um pequeno paraíso”, compara. Mas considera imprescindível em sua trajetória a passagem pela cidade de Passo Fundo e mais especificamente pelo Instituto de Educação Metodista (IE) ao qual dedica eterna gratidão. “O IE mudou a minha vida”, contou ele, aos 86 anos, em uma tarde de outubro de 2019, em conversa na sede da Academia, à espera da hora de ir atender no Hospital Moinhos de Vento e participar na manhã seguinte de reunião de docentes na PUCRS, da qual ostenta o título de Professor Emérito. “O meu pai disse, certa vez, ao diretor da escola, que o IE tinha impedido que ele perdesse um segundo filho”. Seu primeiro filho Jorge, falecido aos 22 anos em uma mesa de cirurgia em São Paulo, deixara toda a família Barata extremamente abalada com a perda. Mentor e companheiro do irmão de cinco anos a menos, Jorge levara consigo o sentido da vida para Henrique, que passou a ter um comportamento rebelde, agressivo, descontrolado e era expulso com frequência das escolas em que era matriculado em Porto Alegre. Cada vez mais esboçava um futuro incerto, que assustava os pais, Luiz e dona Tereza.
Em 1952, logo após chegar à cidade do Planalto, hospedado por um advogado amigo da família e programado para estudar no IE, Henrique conta que foi expulso já no primeiro dia de aula por mau comportamento. Ao final do turno escolar, despachado para a sala do diretor, o norte americano Daniel Lander Betts , o garoto de 17 anos foi tomado de perplexidade. Ao invés da esperada e justa reprimenda, o reverendo metodista telefonou para a mulher, Francis, para consultá-la se poderia levar um aluno novo para almoçar com o casal. Iniciava assim, ao inesperado acaso, um exemplar processo de educação e cidadania que foi fundamental para a mudança e o amadurecimento do adolescente rebelde. Do IE, onde foi até motorista de ambulância graças à precoce habilidade para dirigir carros, Henrique só saiu para ingressar no curso superior definindo-se pela profissão do pai, cujo crescente renome no meio médico se consolidaria com a criação e também a primeira direção do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre.
Henrique Sarmento Barata fez sua formação cirúrgica e urológica na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o então Hospital-Escola da Faculdade de Medicina da UFRGS. Depois, rumou para o Rio de Janeiro onde realizou treinamento no Serviço de Urologia da Santa Casa. Nos Estados Unidos em 1965 e 1966, trabalhou em serviço de ambulância e na Ohio State University como Fellow in Urology, participou de projetos científicos sobre Hipertensão reno-vascular; Quimioterapia com 5 FU e irradiação do câncer vesical; Bioensaio e infusão de angiotensina em pacientes hipertensos; Uso de epiplon na ureterostomia cutânea; Uso de epiplon na anastomose pielo-ureteral. Só voltou ao Brasil em 1967, assumindo a função de Auxiliar de Clínica Urológica, voluntário da Cadeira de Clínica Urológica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi responsável pelo setor de urologia oncológica do Hospital Santa Rita da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e assumiu a direção do Hospital São Francisco da mesma Santa Casa, cargos que exerceu até 1971 quando participou na estruturação da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ali, desempenhou a função de Professor Titular de Urologia e Chefe do Departamento da Faculdade de Medicina da PUCRS e, no mesmo ano, estruturou e montou a Disciplina de Urologia da mesma Faculdade e também o Serviço de Urologia do Hospital Escola da Faculdade de Medicina dos quais foi, respectivamente o Professor Titular e o Chefe de Serviço. É autor e co-autor de centenas de trabalhos científicos em Urologia e de vários capítulos de livros da especialidade. É o autor e editor do livro referencial Fundamentos de Urologia.
Faleceu em 2021, aos 87 anos.