Pesquisar

Cadeira 42

José Mariano da Rocha Filho

Filho do doutor José Mariano da Rocha e de Maria Clara Marques Cunha da Rocha, nasceu em Santa Maria no dia doze de fevereiro de 1915. Foi aluno do Ginásio Santana e depois do Ginásio Estadual de Santa Maria, onde concluiu o secundário em 1931. Doutorou-se pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre no ano de 1937. Como Acadêmico na capital gaúcha, foi Presidente do Centro Acadêmico Sarmento Leite (1935-1936), da Federação de Estudantes Universitários de Porto Alegre (FEUPA) e da Casa do Estudante, organizada por ele. Foi ganhador do Prêmio Carlos Chagas, maior distinção concedida a estudantes da Faculdade na época. Fez várias viagens de estudo, tendo frequentado o serviço dos irmãos Finochietto em Buenos Aires. Ao voltar para exercer a medicina em Santa Maria, tornou-se professor e logo diretor da Faculdade de Farmácia criada por seu tio, pelo pai e por outros que sonhavam com a evolução do ensino superior na cidade. Conseguiu que a Faculdade de Farmácia fosse admitida como integrante da Universidade de Porto Alegre e, logo depois, da Universidade do Rio Grande do Sul. Quase tudo estava pronto e em 1954 ele fundou a Faculdade de Medicina de Santa Maria, aproveitando as pressões suscitadas pela existência de vestibulandos aprovados e excedentes na Faculdade de Porto Alegre. A partir daí, com várias faculdades funcionando, fundou a Universidade de Santa Maria, a primeira universidade federal no interior do Brasil. Criou a Cidade Universitária, que hoje leva seu nome e foi pioneiro na instalação Campus Universitário Avançado (Roraima). Estimulou o intercâmbio internacional e instalou a chamada Universidade Inter-Americana de Santa Maria. Fazia tudo isso enquanto mantinha intensa atividade cirúrgica no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, sem nunca deixar de sonhar e de lutar por um hospital universitário com funcionamento pleno. Seus ex-alunos recordam, com saudade, afirmações como “o bom cirurgião faz a anatomia aparecer” ou “se necessário, a incisão pode iniciar na boca e terminar no ânus”. Foi capitão médico da Brigada Militar do Estado e chefe do serviço de cirurgia do hospital da corporação em Santa Maria. Foi médico da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e membro ativo da Sociedade de Medicina de Santa Maria. Em Porto Alegre, foi membro titular do Conselho Regional do Rio Grande do Sul e presidente da Orquestra Sinfônica. Exerceu liderança em todas as atividades que desempenhou.

Assim, foi destaque como ruralista e criador de bovinos da raça Santa Gertrudis. Agradava-lhe o pequeno tamanho dos terneiros ao nascer, sem produzir distocias, bem como o potencial de crescimento e de engorda dos animais da raça. Também lhe agradava a visão dos rodeios de gado colorado pastando nos campos da várzea do Seival. Na política partidária chegou a concorrer ao Senado da República. Foi considerado o santa-mariense do século e, através de concurso de indicação popular instituído pela Zero Hora, foi o mais votado como destaque entre os gaúchos do século. Cidadão emérito de Santa Maria, cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito, recebeu muitas comendas e títulos honoríficos em diversos países. Foi da Academia Rio-Grandense de Letras e ocupou a cadeira 42 da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, cujo patrono é seu pai, e onde foi sucedido por Blau Fabrício de Souza. Sua viúva Maria Zulmira, da família Dias de Caçapava do Sul, bem como seus filhos, dos quais José e José Manoel são médicos, zelam com muito carinho por tudo o que Mariano da Rocha construiu. Tantas foram suas lutas, que algumas passaram a ser divulgadas e conhecidas por seus aspectos bizarros, verazes ou não. Quando das mudanças de governo, sempre conseguia que os interesses da Universidade de Santa Maria fossem atendidos. No governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, sua Universidade foi um dos poucos órgãos a receber bons recursos no Rio Grande do Sul. Ocorre que Mariano da Rocha, no dia da posse, colocou num dos bolsos presidenciais uma fotografia do microscópio eletrônico, cujo funcionamento visava assegurar para sua faculdade de medicina. Tal ato era para ser notado e o foi pelo surpreso Juscelino, rendendo ao reitor a amizade e a confiança do homem das Alterosas. Si no é vero, é bene trovato.

Deixou grande número de entrevistas, conferências, aulas inaugurais e discursos, centrados na Universidade de Santa Maria. O livro A Terra, o Homem e a Educação, publicado pela Editora Palotti no ano de 1993 em Santa Maria, conta boa parte desta história. Buenos Aires por um médico, Novos rumos da Microbiologia, A cirurgia na república argentina. Alguns aspectos da cirurgia norte-americana, A universidade brasileira foram outros temas tratados. Fez conferências e foi homenageado em cidades brasileiras como Bragança Paulista, Rezende, Goiânia; ou mundo afora, como em Houston, Hawai, Bonn, Munique e Guadalajara. O grande tema era a Universidade de Santa Maria e seu pioneirismo, mas não faltaram discursos em inaugurações de exposições-feiras de Santa Maria, nem discursos de campanha eleitoral.

O basto bigode pouco deixava aparecer dos lábios a sorrir no ritual franco da amizade, mas os olhos negros fugiam ao impacto das sobrancelhas mefistofélicas e se enchiam da malícia que o gênio português acrisolou nos Açores e que veio a desabrochar nesse extremo sul da nação brasileira. José Mariano da Rocha Filho tornou-se inesquecível. E não é essa uma das finalidades das academias? Pois que assim seja. Mas por trás do aspecto brejeiro e da sutil ironia, Mariano da Rocha foi um grande homem. Seus feitos perpassaram uma vida consagrada à medicina, ao ensino e à sua Universidade de Santa Maria.