Nelson da Silva Porto, nascido em Soledade no dia quatro de novembro de 1927, é filho de Olmiro Ferreira Porto e Morena da Silva Porto. Seu pai era farmacêutico e de certa forma propiciou os primeiros contatos do filho com os médicos e com a Medicina. Olmiro era um líder político e comunitário regional e foi prefeito de Soledade por três vezes, sendo que em duas através de eleição. Era presidente dos vicentinos, numa família muito religiosa. Sua mãe faleceu muito moça e o pai voltou a casar, fazendo-o com Jurema Ortiz Porto. Desse casamento, nasceram: Sérgio, médico e escritor já falecido; Rogério, geólogo e economista, e Suelena, formada em Matemática na UFRGS.
Nelson Porto fez o curso primário no Colégio Santa Inês em Soledade. O curso secundário nos quatro anos correspondentes ao ginásio, ele fez como aluno interno no colégio marista Nossa Senhora da Conceição de Passo Fundo. Os anos de curso científico foram completados no Colégio Rosário em Porto Alegre, quando deixou de morar no colégio em regime de internato. Desde os doze anos decidira-se por ser médico e foi aprovado em terceiro lugar no exame vestibular à Faculdade de Medicina de Porto Alegre de 1946, apesar de ter sido prejudicado no exame oral, quando evidenciou a falta de atualização de um dos examinadores e recebeu zero. Foi um ótimo aluno, ainda que estivesse fazendo em paralelo, o curso de Química, na Pontifícia Universidade Católica. Lecionou Biologia no Colégio Rosário e deixou de fazê-lo em face de denúncias de que era materialista. Levado pelos seus alunos do colégio, passou a lecionar no Curso Pré-Vestibular ABC do professor Alberto de Britto e Cunha, em que deu aulas de várias matérias entre os anos de 1949 e 1953.
Por uma questão de disciplina, somente no quarto ano do curso médico passou a frequentar a Santa Casa e foi recebido na Enfermaria 26 do professor Saint’ Pastous, pelos amigos José Martins Job e Mário Rangel Balvé. No final de 1948 foi convidado para a Enfermaria 29 do professor Rubens Maciel, onde estava o amigo Darcy de Oliveira Ilha. Participava das atividades do Gabinete Central da Santa Casa, de que era diretor o doutor Osório Lopes. Já decidido pela Radiologia, trabalhou em consultório mantido pelo doutor Darcy Ilha, numa clínica junto com os amigos José Job, clínico; Mercedes Ilha, pediatra; e Paulo Saint’ Pastous, radiologista e filho do professor. Graças a este, conseguiu ser aproveitado como técnico em radiologia no IAPI. Em 1951, formou-se médico e participou da instalação do Instituto de Radiologia Clínica no edifício Cruzeiro do Sul na Rua dos Andradas. Logo se tornou sócio dos amigos Job e Ilha, com quem aprendera Radiologia. Dedicava ao Instituto todo tempo que lhe restasse e continuava a trabalhar na Santa Casa. Em 1953 relutou em aceitar o convite para ser radiologista do Hospital Petrópolis, pois antes pretendia dominar melhor a radiologia do aparelho urinário, para atender à especialidade bastante exigida naquele hospital. Nesse mesmo ano, foi levado pelo professor Arthur Mickelberg para o Departamento de Cirurgia da UFRGS e lá ficou por quatro anos. Logo depois passou para a cadeira de Radiologia Urinária do Departamento de Urologia chefiado pelo professor Luiz Sarmento Barata, posição que ocupou por doze anos. Já lecionava Tisiologia quando da chegada do professor José Fernando Carneiro e foi tomado pelo clima de renovação da Pneumologia no Estado e pela construção do Pavilhão Pereira Filho. O professor Carneiro contava com ele e apoiou sua ida para estágio no Hospital Karolinska de Estocolmo, centro radiológico de fama internacional. O doutor Darcy Ilha, que já passara pelo serviço sueco, tudo fez para que saísse a viagem, inclusive conseguindo para o amigo [a posição de médico de bordo no transatlântico em que viajou. Isso ocorreu em 1958 e o brasileiro, médico de bordo, não muito ligado ao futebol, ofereceu um brinde com champanhe aos ocupantes do barco por conta do primeiro campeonato mundial de futebol conquistado pelo Brasil, justamente na Suécia e enfrentando os donos da casa na partida final. Durante a viagem, foi comunicado de que ganhara a bolsa para estágio no país nórdico. Com despesas pagas, pagamento pelo desempenho da função de médico de bordo, valor da bolsa e mais a participação que os sócios de consultório faziam questão de mandar sobrou algum dinheiro que permitiu a compra de toda a coleção da Ata Radiológica, além dos suplementos reunindo teses publicadas na Suécia. Como médico visitante no Hospital Karolinska, estagiou nos setores de Pediatria e Angiocardiografia com os professores Kjellberg e Ulf Rudhe; Serviço Central e Urinário com o professor Knut Lindblom; e Radiologia de tórax com o professor Noordstrom. O professor Nelson Porto acompanhou o professor Kjellberg na sua transferência para Gotemburgo e teve oportunidade de examinar as primeiras angiocardiografias feitas no Serviço. Para coroar sua passagem pela Europa e com carta de recomendação do professor Rudhe, Nelson Porto passou duas semanas em Oslo, na Noruega, e teve oportunidade de examinar o arquivo de casos privados e selecionados do professor Friedman Dahl, que juntava material para a publicação de seu famoso livro Roentgen Examinatios in Acude Abdominal Diseases.
Na sua volta a Porto Alegre, Nelson Porto foi um dos grandes auxiliares do professor José Fernando Carneiro a quem considerava um gênio. Aprovado em exame, foi nomeado [Auxiliar de Ensino. Na então Faculdade Católica de Medicina, foi convidado para ser [Professor Adjunto. Como radiologista, sempre procurou ser um anátomo-patologista no vivo usando raio X e contraste, e como professor, jamais deixou de exigir disciplina e lógica na elaboração diagnóstica. O ano de 1965 marcou de forma definitiva a revolução operada nas fases de diagnóstico e de tratamento na Pneumologia gaúcha com a inauguração do Pavilhão Pereira Filho. Nesse mesmo ano o professor Nelson Porto foi paraninfo dos formandos da Faculdade de Medicina da UFRGS. Modesto, sempre preferiu assistir aos progressos de seus colegas de Pavilhão na vida universitária e profissional do que buscar a própria afirmação pessoal. Bruno Palombini, José Camargo, José Moreira, Luis Carlos Correa da Silva, Jorge Hetzel, José Moreira, Klaus Irion, além de vários chefes de departamentos em diferentes regiões do país, são seus discípulos e amigos. Após a morte do professor Carneiro, ele assumiu a direção do Pereira Filho e também aí mostrou capacitação invulgar. A busca constante de excelência nos meios diagnósticos e de tratamento, a instalação pioneira do mestrado em Pneumologia, a publicação com reedições do Compêndio de Pneumologia coordenado pelo professor Luis Carlos Correa e a realização do primeiro transplante de pulmão da América do Sul, seguido por tantos outros, demonstram isso. Por seu notório saber, passou a professor titular das Faculdades de Medicina da UFRGS e da FFFCMPA. Conseguiu imprimir sua marca em tudo o que é feito no Pavilhão Pereira Filho: disciplina, honestidade científica e dedicação diária aos pacientes e ao ensino. Não é por acaso que o professor José Jesus Camargo o coloca numa posição ímpar ao dizer que a palavra Mestre, quando usada sozinha no Pavilhão Pereira Filho, sempre se refere a Nelson Porto. Suas qualidades pessoais e de capacitação técnica e administrativa levaram-no a ocupar posições e a merecer honrarias na Santa Casa, tendo chegado a ocupar o cargo de provedor. Recebeu da Academia Nacional de Medicina o Prêmio Alfred Jurzykowski em 1991 e é membro honorário da Sociedade Portuguesa de Radiologia.
Em 1954 casou com Suely da Silva Porto, nascida em Uruguaiana, formada em Filosofia, com interesse focado na Psicologia. Mesmo exercendo a profissão, Suely sempre foi extremamente dedicada ao marido e aos filhos: Lúcia, médica formada pela UFRGS e que repetiu o terceiro lugar obtido pelo pai no vestibular; Laura, arquiteta, também formada pela UFRGS; e André, que fez Artes Plásticas em Nova York e, após mestrado e doutorado em Filosofia, é professor universitário. Tem quatro netos.
Apesar do tempo dedicado à Medicina, Nelson Porto sempre foi um ótimo leitor, sobretudo dos filósofos; homem bem informado e que por vezes surpreende, como ao fazer uma conferência sobre bomba atômica em sua cidade natal, logo após a segunda grande guerra. Sócio fundador do Departamento de Radiologia na AMRIGS e participante ativo de órgãos de representação médica, é membro fundador da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, em que ocupa a cadeira 40, que tem como patrono o professor José Fernando Carneiro.