João Gomes Mariante nasceu em Porto Alegre em 1918, numa casa da Rua Mariante, assim chamada por homenagear seu avô Guilherme, cuja morte ocorreu neste mesmo dia. Filho de Tancredo Lopes Mariante e de Ignácia Gomes Mariante, passou boa parte da infância na estância paterna, localizada em Porto Mariante, às margens do Rio Taquari e surgido em tempo de diáspora dos açorianos no Continente de São Pedro.
Fontes múltiplas de conhecimento o prepararam para a aprovação num exame de madureza, o chamado Artigo 100, e que o ligou ao Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina, na qual se formou em 1946. Durante o tempo de faculdade, também se iniciou no jornalismo. Foi editor da revista Medicina Social e comentarista de saúde pública no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro.
Ao final do curso, foi escolhido como orador na festa de formatura. Recém formado, voltou para sua terra natal, Porto Mariante, onde até construiu edifício para hospital, e que hoje é usado como colégio. Utilizava um jeep pintado de vermelho para atendimento dos chamados, ou os atendia a cavalo, por balsa ou por barco. Passou por Venâncio Aires, onde foi chefe do posto de higiene, fundou clube do Rotary e liderou campanhas de saúde pública.
Buscando especialização, transferiu-se para o Rio de Janeiro e foi aprovado em concurso para psiquiatra. Lá morou e trabalhou por vários anos. Na busca da excelência, fez formação psicanalítica em Buenos Aires. Na Argentina, ficou por oito anos. Não só fez formação, como passou a formar gente. Foi professor extraordinário da Universidade John Kennedy e proferiu por duas vezes a aula magna na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires. Deu aulas de psicologia em Córdoba e em Rosário. Fez muitas conferências, e no El Ateneo Sigmund Freud, foi palestrante ao lado de Jorge Luis Borges e de personalidades da cultura e da psicanálise da Argentina.
De volta ao Brasil, Foi muito bem recebido em São Paulo, onde morou e trabalhou por 26 anos. Lá, desenvolveu intensa atividade científica e didática, como membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise e professor de pós-graduação de psiquiatria dinâmica da Faculdade de Ciências Médicas. Conveniências de família e o chamamento terruño trouxeram-no para Porto Alegre. Concentrou moradia e consultório num mesmo espaço.
As coisas iam bem até que tudo foi destruído por incêndio. Biblioteca, obras de arte, fotos, diplomas, valores, tudo desapareceu. Dr. Mariante sentiu que o recomeço, na velhice, exigia adaptações. Reencetou a atividade jornalística e passou a escrever, visando publicar livros. Seu jornal MenteCorpo atingiu a tiragem de 35.000 exemplares e passou a ser lido em capitais e cidades importantes do Brasil e do exterior. Com forte conteúdo cultural, fez meritórias campanhas, sobretudo contra a violência. Publicou o livro Os três ases de trinta, e logo após Três no divã. Membro honorário da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e altamente participativo mesmo após completar 100 anos, foi casado com Augusta Mariante e tem dois filhos, quatro netos e quatro bisnetos. Publicou os livros: Os três de ases de 30 (Mercado Aberto, 2007), Três no divã (Já Editores, 2010) e Getúlio Vargas, o lado oculto do presidente (Esfera, 2016). Não chegou a ser publicada uma coletânea de crônicas publicadas em jornais com o título já escolhido: Desordem e Regresso. Foi casado com Augusta Mariante, com quem teve dois filhos, Cláudia e Túlio, cinco netos e cinco bisnetos. Faleceu, aos 102 anos, no dia 9 de agosto de 2020.