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14 de novembro: Dia Mundial do Diabetes – por Fernando Gerchman


Dia 14 de novembro é o Dia Mundial do Diabetes. Escolhido como um dia de consciência e mobilização contra a doença. O que é o diabetes, como se diagnostica, quais cuidados temos que ter com a doença, como se trata? A Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina entra na mobilização e publica as informações abaixo com o objetivo de conscientizar a população gaúcha sobre a doença que é quarta maior causa de perda de capacidade funcional e morte combinadas no Brasil, conforme dados publicados pelo Institute of Health Metrics and Evaluation, da Universidade do Washington, baseado no Global Burden of Disease de 2021 (Lancet 2023; 402: 203–34).

O que é o diabetes?

Uma doença que leva a níveis de glicemia elevados por menor produção de um hormônio produzido pelo pâncreas, chamado insulina, e/ou por menor ação corporal desse hormônio na regulação dos níveis de glicemia. O aumento dos níveis de glicemia leva a uma série de problemas de saúde, fazendo com que o diabetes seja, no mundo ocidental, a maior causa de cegueira. Além disso, o diabetes é uma importante causa de demência por Alzheimer e doença vascular cerebral, e associa-se a um risco significativo de depressão e ansiedade, doença osteomuscular, cirrose e insuficiência hepática e câncer.

Primeiro Passo: conscientização, pois os números preocupam!

Em adultos com 50 anos ou mais, o diabetes leva a perda de 25% do tempo de vida por incapacidades. Pessoas com diabetes podem perder progressivamente a capacidade de exercer atividades corriqueiras do dia a dia, por dor osteomuscular, por problemas cardiovasculares, renais e por déficit de visão. A doença abrevia a expectativa de vida, em média, de 4 a 10 anos. O tratamento adequado e as medidas de prevenção de problemas relacionados têm profundo impacto reduzindo o risco de mortalidade e complicações relacionadas a doença.

Quais os números da doença no mundo e no Brasil?

Estima-se, que em 2021, 529 milhões de pessoas no mundo eram portadoras da doença. Em 2050, 1,31 bilhões terão diabetes. Estes números crescem com o aumento da idade, da obesidade, do sedentarismo e de uma piora da maneira como nos alimentamos. Estima-se que um quarto das pessoas entre 75 e 79 anos de idade tem diabetes. No Brasil, esses números são possivelmente maiores que 30%.

Como se identifica o diabetes?

Basta duas coletas de sangue em dias separados com medidas de glicemia ou hemoglobina glicada compatíveis com o diagnóstico ou a combinação de dois desses testes compatíveis e coletados no mesmo dia. Os valores que são utilizados para o diagnóstico são os seguintes: glicemia maior ou igual a 126 mg/dL ou valores de glicemia igual ou maior que 200 mg/dL, 2 horas após ingerir 75 gramas de glicose (ambos com 8 horas de jejum). Um exame de sangue chamado hemoglobina glicada, que não requer jejum, maior ou igual a 6,5% também define o diagnóstico de diabetes. Também é possível se fazer o diagnóstico com glicemia igual ou maior que 200 mg/dL, sem necessidade de coleta em jejum, quando há sintomas como sede e/ou urinar ou fome em excesso. Nesse caso, basta uma medida para o diagnóstico. O teste de ponta de dedo não é utilizado para o diagnóstico.  Mas valores elevados de glicemia com este teste podem servir de sinal de alerta para se fazer o exame de sangue (exemplo, acima de 100 mg/dL em jejum de 8 horas ou 140 mg/dL duas horas após se começar uma refeição).

É importante ressaltar que a maior parte dos casos não causa sintomas numa fase inicial. O diabetes causa prejuízos a saúde mesmo em quem não tem sintomas resultantes da glicemia elevada. Os sintomas de glicemia elevada são: excesso de sede, urinar em excesso, ter fome excessiva, visão turva, perda de foco visual. Em casos extremos, com glicemias muito elevadas: perda de peso, náuseas, vômitos, falta de ar, câimbras, hálito que lembra a acetona, diminuição dos níveis de consciência e até mesmo o coma. Não é incomum pacientes que apresentam a doença há anos e que são assintomáticos, terem como manifestação inicial da doença o infarto do miocárdio, o derrame (acidente vascular cerebral), a insuficiência renal aguda, levando a diálise, a perda parcial ou total de visão ou, até mesmo, a internação por lesões graves no pé que foram causadas por perda de sensibilidade e/ou de circulação e que podem levar a amputação, como manifestação inicial. Por isso procure um médico para que seja realizada uma avaliação se você tem valores de glicemia como os acima mencionados, mesmo que não sinta nada! Não espere ter sintomas!

Existe mais de um tipo de diabetes?

Existem dois tipos principais de diabetes. O tipo 2 é o mais comum, acontece em cerca de 90% dos casos e está associado, na maioria dos casos, ao excesso de peso e sedentarismo, ocorrendo após os 30 anos de idade, podendo também ocorrer em adolescentes e adultos jovens com excesso de peso. O diabetes tipo 1 (5 a 10% dos casos) ocorre por ausência de produção de insulina pelo pâncreas. Costuma ocorrer em crianças e adolescentes, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida. A maior parte dos casos diagnosticados hoje em dia é em adultos. Costuma causar mais sintomas numa fase inicial. Uma outra forma importante de diabetes é o gestacional. Por isto, é fundamental se fazer testes de glicemia no início da gravidez e entre 24 e 28 semanas de gestação. Há outras formas menos usuais de diabetes, incluindo as formas genéticas, as causas hormonais e induzidas por medicações, como os corticoides, secundário a pancreatite crônica e relacionada a fibrose cística e hemocromatose e a associada a Síndrome de Down e Turner. Médicos Endocrinologistas são os especialistas em identificar as causas menos usuais de diabetes e com a ajuda de testes genéticos e marcadores de autoimunidade tem sido mais fácil identificar essas causas..  

Quem deve fazer o exame de sangue para identificar a doença?

  1. Adultos >= 45 anos
  2. Excesso de peso (obesidade ou sobrepeso+ risco adicional):
  3. Familiar com diabetes,
  4. História de doença cardiovascular, ou hipertensão
  5. Colesterol HDL menor que 35 mg/dL e/ou triglicerídeos maior que 250 mg/dL
  6. Síndrome dos ovários policísticos
  7. Sedentarismo
  8. Pré-diabetes
  9. História de diabetes na gravidez
  10. Presença de acantose nigricans (uma mancha amarronzada/preta que costuma ocorrer na parte de trás do pescoço ou na axila).

Podemos evitar o diabetes?

Como a obesidade é o fator de risco mais importante para diabetes, quem tem obesidade deve ser avaliado. Tratar a obesidade com redução significativa de peso reduz de maneira muito significativa o risco para o desenvolvimento de diabetes. Se você tem pré-diabetes (medida de glicemia em jejum de 8 horas igual ou superior a 100 mg/dL ou hemoglobina glicada >= 5,7%, ou valores de glicemia >= 140 mg/dL duas horas após ingestão de 75 gramas de glicose) também deve ser avaliado. Evitar o ganho de peso excessivo é muito importante para prevenção. Procure ter uma alimentação saudável: evite o consumo excessivo de açúcar, frituras, alimentos ultra-processados (que passam por uma série de processos de transformação e industrialização), o consumo excessivo de bebidas alcóolicas. Tenha uma dieta rica em verduras, folhas, alimentos integrais. Você deve consumir leite, preferencialmente desnatado, ou seus derivados (preferir os queijos brancos, como o minas ou a ricota, iogurte desnatado), evite a manteiga e a margarina, tenha um consumo limitado de ovos (não mais do que um por dia), prefira o óleo de oliva como o preferencial para consumo e cozimento), evite o óleo de coco, tenha um consumo reduzido de carne vermelha e porco. Prefira o frango (sem pele), e os peixes. Evite os cremes brancos. Limite o consumo de embutidos. Seja econômico no consumo de sal. Não leve o saleiro para a mesa. Evite bebidas açucararas. Prefira a água ou os chás como bebidas preferenciais. Faça ao menos 3 horas de exercício físico por semana. Diversifique: faça caminhas ou corridas, ginástica funcional, alongamentos, musculação. Escolha o esporte que lhe dá prazer: futebol, tênis, vôlei, ciclismo…

Como tratamos e evitamos os problemas relacionadas a doença e evitamos que você perca anos de vida ou tenha problemas relacionados a doença?

Sendo o excesso de peso o responsável por 52% dos problemas e da mortalidade que o diabetes causa, perder peso torna-se o principal alvo de tratamento em quem tem excesso de peso. Perdas de 10 a 20% podem causar não só o controle parcial ou total da doença, mas sua reversão. O outro cuidado que você deve ter é fazer revisões periódicas para buscar problemas que o diabetes pode estar causando nos olhos, rins, coração, nos nervos e sistema circulatório que trazem o sangue e a sensibilidade para os seus pés. Faça avaliações periódicas. O médico deve realizar exames buscando identificar diferentes tipos de câncer associados ao diabetes e a obesidade, quando necessário (por exemplo: intestino, mama, pâncreas, endométrio). A avaliação do estado mental busca identificar a depressão, a ansiedade e compulsão alimentar, transtornos psiquiátricos associados ao diabetes. Deve-se identificar, em quem tem problemas de memória, problemas cognitivos leves, que pode ser uma etapa inicial da demência por Alzheimer ou por pequenos derrames cerebrais, problemas também mais frequentemente associados. É fundamental se obter um controle da glicemia, da hipertensão e das alterações dos níveis de colesterol e triglicerídeos. Deve se monitorizar a função dos rins, avaliar se a perda de proteína na urina, realizar avaliação oftalmológica periódica, e realizar avaliação da sensibilidade nos pés e sua circulação. 

Podemos usar uma série de medicações e insulina para tratar a hiperglicemia no diabetes mellitus tipo 2. Programas bem estruturados de dieta e atividade física são considerados fundamentais para o tratamento. Evite o tabagismo. Pare de fumar! Tabagismo e diabetes aumentam em muito o risco de mortalidade cardiovascular. fazem muito mal a saúde. Evite! As novas medicações que usamos para tratar o diabetes causam redução de peso e previnem a doença cardiovascular e renal do diabetes. Hoje em dia, se o paciente tiver acesso as melhores opções, é muito improvável que não obtenha um controle ideal da doença. Enfim, em quem tem obesidade importante e não responde as medidas de mudança de estilo de vida e ao tratamento farmacológico do diabetes, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção de tratamento, devendo esta indicação ser criteriosa e realizadas por profissionais experientes.

Para quem tem diabetes mellitus tipo 1, o manejo com insulina é obrigatório. Com o desenvolvimento de insulinas modernas, de tecnologias que permitem a monitorização cuidadosa da glicemia, e de bombas de infusão de insulina, os pacientes com diabetes mellitus tipo 1 tem observado uma revolução na sua assistência. Em seguida teremos insulina semanal sendo lançada no mercado. Uma série de novas tecnologias estão tornando o tratamento do diabetes mellitus tipo 1 mais fácil para o paciente. Para quem tem dificuldade de realizar o tratamento com estas tecnologias e obter um controle adequado, o transplante de ilhotas pancreáticas e pâncreas pode ser uma opção de tratamento em centros altamente especializados.