Como definiram alguns participantes da live da ASRM desta terça-feira (19) foi uma sessão cultural fascinante e inédita. Convidado do diretor cultural Acadêmico Cláudio Marroni,o médico e escultor Paulo Favalli não discorreu somente conceitualmente a respeito de técnica artística do seu Memorial da Gratidão instalado na sede da AMRIGS. Como médico, o cirurgião plástico que se dedica, principalmente, à reconstrução mamária e de outros traumas físicos, praticamente dissecou detalhadamente todo o processo de construção do tríptico que batizou como “A Esperança de Pandora”, elaborada durante a pandemia da Covid 19, entre 2020 e 2021.
Certamente quem o ouviu esbanjando conhecimentos profundos e referenciais históricos de arte e de anatomia, terá um olhar diferenciado diante das três imagens do monumento referentes à Morte, à Ciência e à Cura. Tamanha foi a riqueza de detalhes revelados pelo autor desde a concepção até as etapas de fundição do bronze e adição de massa de modelar à base de óleo que é imprescindível uma cuidadosa observação visual que respeite cada pormenor para entender a dimensão completa do conjunto – que tem 7,5 metros de comprimento, 2,65 metros de altura e 1,4 metro de profundidade, formando um grande retângulo na parede, do piso ao teto. E com cada placa de bronze pesando 180 quilos.
Os monólitos de cada imagem – no formato retangular usado em túmulos- estão interligados por círculos inspirados em escudos de esculturas guerreiras antigas que se transformam em microscópio e aparelho de oxigênio estilizados, na parte central. Na imagem da Cura, as marcas delineadas no rosto da figura da médica, remetem aos sinais das máscaras que perduraram no rosto dos profissionais que combateram o coronavírus nos hospitais. Inspirado em esculturas gregas femininas, seu cabelo agrupado em coque mostra o ajuste feito às pressas das mulheres em trabalho à beira dos leitos dos doentes.
O escudo da escultura da Doença é circundado por 19 espículas, número que identifica a Covid 19.
Na jornada de vida, iniciada em 1974, desvendando cedo o talento autodidata, Favalli se submeteu à experiência de criar o molde de seu próprio rosto respirando pela boca, através de um canudo de plástico.Paralisou a atividade artística duas vezes por razões pessoais opostas: em 2009 nasceu o filho Dante que tem com a artista plástica e esposa Silvia Brum e em julho de 2021, na pandemia, perdeu a mãe Clotilde.
Para estudantes de artes e mesmo futuros cirurgiões, a apresentação nomeada “A pandemia traduzida em arte- o processo criativo por trás do Memorial da Gratidão” pode servir como uma aula valiosa para ser somada à formação profissional. Para os demais participantes, provavelmente uma lição de arte que enriquece a vida. Ou o ensino de vida que enriquece a arte. Pois trata-se de alguém que trabalha com as mão, que é o significado de cirurgião em grego, e de escultor na atividade apaixonada de Favalli.
A gravação da íntegra da apresentação está disponivel no YouTube.
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