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Academia Sul- Rio-Grandense de Medicina empossa presidente Miriam da Costa Oliveira e vice-presidentes Sérgio de Paula Ramos e Darcy Ribeiro Pinto Filho

Na manhã de sábado (27), no auditório do Cremers, em Porto Alegre, vestindo o tradicional pelerine verde que cobre os ombros dos integrantes da ASRM em sessões solenes, os acadêmicos aplaudiram a posse da presidente Miriam da Costa Oliveira e dos vice-presidentes Sérgio de Paula Ramos e Darcy Ribeiro Pinto Filho para o biênio 2023/2024.

Acadêmica Miriam da Costa Oliveira assume presidência da ASRM

A endocrinologista Miriam é a primeira médica a conduzir a instituição, fundada em 19 de maio de 1990. Como disse em sua manifestação, a ex-reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), salientou a importância do contexto em que  assume a presidência e destacou que enfrenta dois desafios principais. Segundo ela, o primeiro está “no horizonte desta sala formada por uma elite médica, de excelência reconhecida e múltiplos talentos alimentados por um patamar cultural sólido”. “Tolo seria quem não temesse o olhar e o ouvido crítico desta plateia”, advertiu ela. O segundo está representado pelas transformações globais ocorridas neste primeiro quarto de século dos anos 2000 que englobam alterações sociais e mudanças tecnológicas que impactam a Medicina.

“Há, no mínimo, dois aspectos que preocupam na inteligência artificial. O mais simples é que é um sistema dados-dependente. Qual a qualidade dos dados inseridos? Quem controla?

Mas o que realmente assusta é a inteligência artificial generativa, com a possibilidade de substituição do trabalho criativo pelas máquinas (nada que a literatura de ficção já não tenha explorado) e a consequente perda de milhões de empregos”, pontuou ela,

A acadêmica observou ainda que o compromisso social da Academia é expor à sociedade ” a nossa prática em ciência, ética, dedicação profissional e produção intelectual”. Incluindo os presentes afirmou que “temos que nos agarrar, com força, no que considero o âmago da Academia: primeiro, sermos modelos de homens e mulheres, e modelos de médicos, com foco na honestidade e ética; segundo, zelarmos pela memória da Medicina no Rio Grande do Sul, porque nós vamos, a Academia fica”.

O psiquiatra e psicanalista Paula Ramos e o cirurgião torácico Darcy Ribeiro já tinham integrado diretorias em gestões anteriores.

Darcy Ribeiro Pinto Filho, Miriam da Costa Oliveira e Sérgio de Paula Ramos

Também compõem a diretoria executiva, como primeiro secretário, o acadêmico Jefferson Piva; como segundo secretário, o acadêmico José Miguel Chatkin e, como tesoureiro, o acadêmico Jorge Milton Neumann.

DESPEDIDA

Acadêmico Luiz Lavinsky em seu discurso de despedida da presidência da ASRM

Em seu discurso, o presidente que deixou o cargo, Luiz Lavinsky, lembrou a gestão assolada pelas repercussões da pandemia e destacou o planejamento estratégico que envolveu a tradicional equipe executiva, inovada com a criação de 10 diretorias, “permitindo viabilizar a maior parte possível de nossas obrigações estatutárias e possibilitar de que um grande número de acadêmicos ficassem mais integrados à vida da ASRM, contribuindo para o surgimento de lideranças que mantivessem o contínuo crescimento de nossa entidade que tanto valorizamos, como podemos ver na prática com os competentes e motivados acadêmicos que tomam posse hoje”.

Entre o que apontou como inovações em muitas esferas citou as Reuniões de Ciência e Tecnologia, os Encontros de Polos Regionais, a edição de Newsletters, 23 Reuniões Administrativas regulares, o Caderno Vida ZH com páginas mensais escritas pelos Novos Talentos e seus tutores, a Diretoria Científicas e de Eventos, a Interinstitucional, a de Comunicação, da Memória, a Cultural com novas bases e finalmente a constituição de um Conselho Consultivo de ex-presidentes”.

Médicos defendem maior afetividade na relação com paciente

O painel intitulado “Desafios do exercício médico”, conduzido pelo empossado vice-presidente Sérgio de Paula Ramos, em sua última participação como diretor de Atividades Científicas e Eventos, recebeu, ao seu final, diversas congratulações dos acadêmicos, atentos na plateia do auditório do Cremers, no sábado (27), após a posse da nova diretoria liderada pela presidente Miriam da Costa Oliveira, que tem como segundo vice-presidente o acadêmico Darcy Ribeiro Pinto Filho.

Os três painelistas compuseram uma brilhante apresentação, unificada pela sólida e contundente unanimidade na defesa da compaixão e da empatia como condições obrigatórias para exercer a Medicina.”Quem não gosta de gente, não pode ser médico”, asseverou o acadêmico José Camargo.

Moderador do painel ele falou sobre “Como monitorar a qualidade do atendimento médico”. Insistindo, sobretudo, na valorização do relacionamento afetivo com o paciente, o cirurgião torácico observou que, mesmo com a acelerada robotização da Medicina, os profissionais de verdade sempre serão valorizados. “Robô não tem ombro amigo para o paciente se apoiar, não chora com ele, nem o abraça”. Exemplificou com o caso de uma menina de 9 anos, internada com leucemia na Santa Casa, que chorava muito sem ter nenhum sintoma de dor física. À paciente escuta do médico, ela lamentou que uma determinada médica ia sair em férias brevemente. E explicitou: “Ela é a única doutora que aquece o estetoscópio para escutar o peito da gente”.

PACIENTES INCUIDÁVEIS

Para o dr. Eduardo Garcia (UFCSPA), que discorreu acerca de “Ser médico em um país envelhecido”, o idoso, cada vez mais numeroso no mundo, no Brasil e acentuadamente no Rio Grande do Sul, “não é um adulto que envelheceu, mas um paciente diferente com necessidades específicas”.

Garcia recorreu à metáfora do “Paradoxo de Cumas”, aludindo ao pedido da sacerdotisa Sibila, da pequena aldeia de Cumas no sul da Itália, feito aos deuses para viver a quantidade de anos correspondente aos grãos de areia que enchiam sua mão. Foi atendida pelas divindades, mas virou idosa e padeceu com fragilidades, enfermidades e velhice inevitável. “Eu quero morrer!”, confessava aos conhecidos a anciã,até, de fato, falecer finalmente. “Sibila errou ao não pedir a juventude eterna”, ponderou Garcia, para quem o prolongamento da vida deve incluir prevenção e cuidados para envelhecer sem sofrimento.

“Não temos pacientes incuráveis, mas doentes incuidáveis”, assegurou o dr Ivan Antonello (PUC-RS) que abordou os “Vínculos afetivos na relação médico- paciente em enfermidades crônicas”. Ele declarou que aprendeu, ao longo de quase 50 anos de profissão, que não existe o que incorporou como lei, no início da carreira, sobre a importância da neutralidade afetiva ou isenção de sentimentos do médico para com o doente. “Essa neutralidade afetiva é a ausência de afeto”, afirmou. O médico considera que contribui para o distanciamento, entre o doutor e o usuário, o perigoso aviltamento da profissão que vitima os colegas mais jovens – com o excesso de pedidos de cursos de Medicina para elevar a quantidade atual (360 escolas), a flexibilização do Revalida, residências teóricas sem provas práticas,a telemedicina impessoal e projetos de lei que esboçam proposta de que enfermeiros com mais de 10 anos de atuação possam atender a população de baixa renda como médicos.

Clique AQUI e assista à sessão solene de posse.