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Acadêmico Gustavo Py Gomes da Silveira


Adeus ao Acadêmico Gustavo Py Gomes da Silveira.

GUSTAVO, GENTE BOA

Blau Souza

Talvez como consequência de distração divina, faleceu no dia cinco de abril do corrente ano o Dr. Gustavo Py Gomes da Silveira. Sua morte ocorreu antes do previsto, mas da forma que ele desejava: dormindo. Não sei se tal desejo só passara a existir depois de assegurada a imortalidade. Mas sei que esta não chegou pela eleição de seus pares numa academia de médicos, nem por gerar filhos ou plantar árvores, mas por uma vida inteira dedicada à medicina e seu ensino. Nisso, ele foi um exagerado e cuidou e ensinou a cuidar das mulheres nas três universidades com faculdades de medicina de Porto Alegre. Não pretendo exaltar seu trabalho na ginecologia. Para isso, na juventude, frequentou os melhores serviços pelo mundo e seus livros e trabalhos científicos confirmam a excelência de seu desempenho. Nascer como filho de João Gomes da Silveira e neto de Aurélio Py, ambos professores de medicina e patronos da nossa Academia, foi o desafio inaugural para o guri quieto, sério e ativo que conheci na Enfermaria Dez da Santa Casa. Depositário de muitas virtudes, tornou-se um líder dentro da medicina e dentro do ensino médico e não foi por acaso que chegou à Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e dela foi um grande presidente. Foi quando o auxiliei na edição do quarto volume com biografias de patronos e ocupantes de cadeiras da academia, maneira não convencional de contar a própria história da medicina gaúcha.

Gustavo era um homem ocupado, mas sempre arranjava tempo para ler, escrever e participar de atividades culturais. Como Cyro Martins escrevia “no rabo das horas” e elegeu a história, o memorialismo e a genealogia como temas principais de sua literatura. Seu primeiro livro, O fundador de Tupanciretã, é de 1994, teve coautores, e versou sobre seus antepassados açorianos e o pioneirismo da família Silveira, na qual seus tetravós foram os fundadores de Tupanciretã. O segundo livro, lançado em 2013, é uma biografia de seu pai por ocasião do centenário de seu nascimento. Tomado de um amor que transfere aos leitores, trata da vida de um expoente da medicina gaúcha com uma riqueza de informações que extrapola aspectos individuais e dignifica nossa medicina e nossa cultura. O terceiro livro, Os Reverbel, veio com muitas viagens e pesquisa. Gustavo buscou numa aldeia francesa e no século XVI a origem de uma família, bem como a migração de um de seus membros para o Uruguai e Brasil. Em Couriac, Gustavo conviveu com parentes Reverbel que continuam a produzir queijos Roquefort a partir do leite de ovelhas muito especiais. A atividade se mantém na família há cinco séculos. Ao examinar a vida de Antoine Céléstin Charles Reverbel, imigrante e seu antepassado pelo lado materno, Gustavo conseguiu reavivar laços internacionais, intercontinentais, com rigor na genealogia, mas permitindo a visão de homens e mulheres com suas circunstâncias e atividades cotidianas através de séculos. Os livros de Gustavo foram escritos com conhecimento, mas acima de tudo com muita emoção. Seu sono imperturbável não permitirá que eu o apresente como candidato a membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, como pretendia. A instituição perdeu com o meu demorar… Aliás, encerro esses comentários lembrando Carlos Reverbel, seu parente e membro do mesmo Instituto. Dizia Carlos Reverbel não ter conhecido em toda sua longa existência, um único genealogista que não fosse gente boa.