Pesquisar

Depoimento com Acadêmicos – Dr. Paulo Silva Belmonte de Abreu

Quanto um passeio familiar guiado por um pai com veladas intenções de estimular o futuro profissional do filho, resulta muito acertado ou, ao contrário, completamente errado? No caso do senhor Silvio Belmonte Abreu a iniciativa deu certo com o filho Paulo. Já com uma experiência similar de Paulo, junto ao casal de filhos, o desfecho foi bem diferente. As visitas aos hospitais, que sempre dava um jeito de incluir nos passeios de final de semana, não encantaram a dupla que um dia confessou achar um “roteiro chato” em um período semanal que deveria ser dedicado ao descanso e ao divertimento. Os filhos de Paulo e Marta Guerra Belmonte de Abreu, escolheram rumos diferentes do pai: Francisco seguiu a arquitetura e Julia a publicidade. O consolo do pai é que possuem carreiras bem sucedidas e gostam do que fazem. O pai não deixa, entretanto, de provocá-los lembrando que ambos trabalham bastante nos finais de semana ao invés de descansar e divertirem-se.

Por sua vez, o fiscal do crédito rural do Banco do Brasil, Silvio, entusiasmava o menino nas incursões nas propriedades dos agricultores, onde Paulo aprendeu a valorizar a vida, que via surgir no nascimento de plantas e filhotes de animais. Ali diante da riqueza biológica do campo, Paulo fez os primeiros experimentos com dissecação de pequenas espécies, como ratos e sapos, que transformava em tapetes para as brincadeiras de suas irmãs.Assim, sem ter influências de parentes que não tiveram carreiras na medicina, virou médicos e especulou ser cirurgião antes de definir-se pela psiquiatria e mais tarde pelo que chama de sub especialidade, a neuromodulação.

Nascido em Camaquã, em 30 de janeiro de 1953, o segundo de cinco filhos de Silvio e Terezinha Ribeiro Silva, Paulo teve uma infância interiorana marcada pela alegria de uma família ampla e acolhedora, que privilegiava a convivência de diferentes gerações e celebrava unida e festivamente todas as datas comemorativas.

O mesmo modo de vida perdurou em Porto Alegre (para onde ele mudou-se quando tinha sete anos) praticamente pelo tempo que antecedeu o ingresso na faculdade. Para as redondezas da Avenida Independência, endereço da nova moradia, se transferiram, também, os avós e alguns primos,reforçando a comunidade originária de Camaquã.

Depois de cursar os estudos iniciais nas  escolas públicas Grupo Escolar Argentina e Grupo Escolar Othelo Rosa e ser aprovado no exame de admissão para o Colégio Aplicação vinculado à UFRGS, Paulo estava com o destino esboçado para o aprendizado da Medicina na instituição de ensino superior federal de 1972 a 1977. Ali, ‘namorou’ a arquitetura e ‘flertou’ com a agronomia marcando, com a medicina, as três opções possíveis à época.

Antes da residência médica em psiquiatria realizada na PUC de 1978 a 1981, quase ‘noivou’ com a cirurgia plástica e, por pouco, não foi seduzido pela nefrologia, mas, embora por acaso, encontrou o rumo quando foi convidado para fazer estágio de acompanhamento terapêutico em um hospital psiquiátrico e ergueu, como estandarte profissional definitivo, a busca do entendimento para tentar livrar o paciente da loucura.

Especializou-se em Métodos e Técnicas de Ensino Superior na PUCRS (1984-1985), fez Mestrado em Health Sciences na The Johns Hopkins University School of Hygiene and Public Health, de Baltimore, USA (1986- 1987), Doutorado em Medicina/Ciências Médicas pela UFRGS (1992-1995), doutorado na The Johns Hopkins University (1995) e Pós-Doutorado em Biologia Molecular na UFRGS (2000-2001). Ainda recebeu o título de médico em Portugal em Concurso da Universidade do Minho (2010).

Fez carreira docente inicialmente na PUCRS (1982-1986), depois no Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS, onde é professor titular. Pesquisador CNPq 1C com alto índice de citações. Foi por duas vezes coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS (2006-2008), do Conselho da Universidade (CONSUN/UFRGS), da Comissão de Ensino e Pesquisa (CEPE/UFRGS), da Comissão de Vagas Docentes e do Conselho da Unidade (Medicina/UFRGS). Chefiou o Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRGS (2013-2017) e o Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA, 2010-2013).

É membro do Conselho Editorial das Revistas Médicas Trends e Neurobiologia, e revisor da Revista Brasileira de Psiquiatria, Temas, Psiquiatria Clínica, Brasileira de Epidemiologia, Archives of General Psychiatry, Biological Psychiatry e Canadian Journal of Psychiatry. Foi coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria do HCPA e é Médico Assistente do HCPA, onde dirige o programa de Esquizofrenia (PRODESQ), e participa do Instituto de Psiquiatria Translacional e do Grupo de Neuromodulação. Foi contemplado por Financiamentos do CNPq, Ministério de Ciência e Tecnologia, CAPES, GRICES-Portugal, IBRO-Suécia, FAPERGS, FIPE-HCPA e ProadiSus. Presidiu duas vezes a Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana e está atualmente no terceiro mandato na Associação Brasileira Estimulação Cerebral.

É Sócio Honorário da Associação Gaúcha de Pacientes Esquizofrênicos, consultor da Conitec/Ministério da Saúde para Protocolos Clínicos e Diretrizes de Tratamento para Esquizofrenia e Transtorno Esquizoafetivo desde 2003 e membro dos Serviços de Neurologia, Neurocirurgia e Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento.

Tem experiência médica psiquiátrica ininterrupta de 42 anos, com ênfase em Esquizofrenia, Psicoses e Demências, e Psiquiatria Intervencionista. Participa de estudos colaborativos internacionais na determinação de bases neurobiológicas das psicoses, de modelos animais de psicoses, de novas terapêuticas (estimulação cerebral invasiva e não invasiva) e neuroproteção com investigadores da UFRGS, PUCRS, UFRJ, USP, Unifesp, Unicamp, Universidade de Braga-Portugal e Universidade de Toronto.

Na ASRM, onde ingressou por sugestão do colega e Acadêmico Sérgio de Paula Ramos, surpreendeu-se com uma entidade bastante diferente do que “imaginava como um olimpo seleto de mestres aposentados inatingíveis, quase imortais”. Ali, aprendeu a valorizar, também, as oportunidades de trabalho que viu da troca de conhecimentos dentro de um ambiente acolhedor e estimulante, da oportunidade de aumentar os conhecimentos da comunidade sobre doença mental, além de estimular carreiras de novos médicos na difusão de avanços na medicina.

Comprometido com o aprimoramento da instituição, participa da diretoria e é um assíduo frequentador de sessões culturais e dos encontros científicos, convivendo com confreiras e confrades de diferentes origens e diversas especialidades que formam o todo maior do campo médico.

Assista ao depoimento completo do Acadêmico no vídeo disponível abaixo.