Formação
Sua formação primária e secundária foi cumprida no Colégio Santa Maria. Cursou a Faculdade de Medicina da UFRGS em Porto Alegre (1953-1958), fazendo Residência em Medicina Interna na UFRGS (1960-1961). Foi residente-chefe da primeira residência médica do estado e segunda no Brasil, com sede na Enfermaria 38 da Santa Casa, conhecida como Serviço do Professor Eduardo Faraco. Possui Pós-Graduação em Genética Humana (UFRGS).
Pioneirismos
Quando o secretário da saúde do RS, o dentista Jair Soares, quis saber por que ele pedia licença para deixar o trabalho no estado, ele observou que a pasta sequer tinha estatísticas sobre… o que tornava impossível tratar dos males. “Não tem dados ???!!!,” arregalou os olhos o espantado futuro chefe do poder executivo gaúcho. Com a convicta confirmação de Achutti, o secretário Soares o desafiou. “Por que o senhor então não propõe corrigir isto?” Embretado, caiu de novo em uma armadilha do desafio, pediu duas semanas para desenvolver um projeto pioneiro que logo se tornou exitoso e modelo para todo o país.
Sua jornada profissional de enfrentar desafios está intimamente ligada à trajetória da própria cardiologia do RS e, portanto, de inevitáveis pioneirismos.
Ele participou da primeira equipe de Cirurgia Cardiovascular, acompanhando quase todas as primeiras 1.000 cirurgias. Criou em 1963 o Serviço de Cardiologia do Hospital da Criança Santo Antônio, onde trabalhou até 1973. No Instituto de Cardiologia, criou o Ambulatório de Cardiologia Pediátrica.
Na Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente, criou uma rede de ambulatórios e programas de Cardiologia Preventiva: Febre Reumática, Doença Hipertensiva e Tabagismo, depois integrados no Serviço de Controle de Doenças Crônico-Degenerativas. O Programa de Prevenção da Doença Reumática foi adotado pela Organização Pan-Americana da Saúde, realizando-se, sob sua coordenação em Porto Alegre, a primeira reunião do projeto de Prevenção e Controle Interpaíses, com representantes de seis países, na realização de estudos epidemiológicos e controle, publicando-se um Caderno Técnico, traduzido para o inglês e adotado pela Organização Mundial da Saúde.
Na PUC-RS, criou a disciplina de Cardiologia, da qual foi professor titular, e o Serviço de Cardiologia do Hospital Universitário. No Departamento de Medicina Interna, implantou o sistema de Equipes Verticais, integrando os diversos níveis de ensino-aprendizado, interagindo a psiquiatria com medicina interna.
Membro da Sociedade de Cardiologia do RS e da Brasileira, criou, juntamente com a doutora Rachel Snitkowsky, o Departamento de Cardiologia Pediátrica.
Pesquisas, docência e prêmios
Os programas de controle das doenças cardiovasculares e também de câncer ginecológico, diabetes melito e doença de Chagas, acompanhados de material educativo, particularmente para a população escolar e das unidades sanitárias, foram modelos para outros estados por mediação do Ministério da Saúde. Em 1977, com o Dr. Eduardo de Azeredo Costa, professor da Escola Nacional de Saúde Pública, coordenou pesquisa epidemiológica sobre Pressão Arterial e Fatores de Risco na população adulta (de 20 a 74 anos) do RS, a primeira de porte nesta área no hemisfério sul, seguindo orientação do cardiologista e epidemiologista da Universidade de Londres, Geoffrey Rose. Esta pesquisa favoreceu apresentações em congressos, teses e publicações e famoso estudo internacional multicêntrico (Intersalt).
A pesquisa epidemiológica e de educação em saúde sobre tabagismo em escolares de Porto Alegre e depois de todo o estado, realizado pelas Secretarias de Saúde e de Educação, motivou o primeiro Prêmio Nacional de Saúde Pública pela Associação Médica Brasileira. Fez parte do painel sobre Fumo ou Saúde da Organização Mundial da Saúde de 1982 a 1999, participou da elaboração de Informe Técnico sobre o Controle do Tabagismo nos países em desenvolvimento, prestou assessorias para a Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde e foi um dos quatro editores seniores fora dos Estados Unidos na elaboração do “1992 – Report of the Surgeon General: Smoking in The Américas”, publicação anual desde então abordando o problema em âmbito continental. É membro do painel de especialistas do Programa Nacional de Controle do Tabagismo do INCA.
Prestou assessoria sobre doenças crônicas e saúde do adulto para o Banco Mundial, contribuindo para relatório sobre o problema como um desafio para o Brasil (1989), para o “1993 – World Development Report: Investing on Health”, e para estudo da mortalidade por doenças crônicas em países menos desenvolvidos. Foi membro do Conselho de Prevenção da Febre Reumática da Sociedade Internacional e Federação de Cardiologia (ISFC 1982-1990), depois Federação Mundial de Cardiologia, cuja comissão científica presidiu (1990-2002).
Em 2002 foi agraciado com o Prêmio Mundial de Cardiologia, em Sidney, pelos serviços prestados à prevenção de doenças cardiovasculares e à sociedade durante 30 anos.
Na UFRGS ingressou como Auxiliar de Ensino em 1963, aposentando-se em 1995, como Professor Adjunto 4, tendo criado a Disciplina de Promoção e Proteção da Saúde 3, com ênfase no adulto e no idoso. Participou como pesquisador principal de estudo sobre fatores de risco na população adulta de Porto Alegre, parte de um estudo multicêntrico, promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde, envolvendo sete capitais da América Latina.
Ouvido de ouro
Na Enfermaria 38 da Santa Casa começou sua fama de “ouvido de ouro”, graças à facilidade de auscultar o interior do peito dos pacientes. A perícia na audição com o recurso único do estetoscópio em épocas sem os exames de imagem de hoje era fundamental, principalmente no diagnóstico de crianças nas quais se manifesta o ‘sopro inocente’ que atemoriza os pediatras, pois pode esconder um temido mal congênito.
Médico cardiovascular, ele sempre teve muita necessidade da precisão para ouvir o coração alheio e sempre procurou aperfeiçoar treinando o dom natural. “Hoje não é mais de ouro o ouvido”, diz em busca de um quarto aparelho auditivo suficientemente evoluído tecnologicamente, com capacidade de compatibilizar a boa escuta tanto de vozes de pessoas quanto de sons eletrônicos. Descarta cirurgia invasiva ou implantes. “Anestesia ou sedação profunda não são indicadas para minha faixa etária”.
Academia
Em 1991, um ano depois da fundação da ASRM em 1990, foi convidado pelo colega Manoel Albuquerque para ingressar na ASRM. Mais tarde, em 1997, compôs como vice a chapa do candidato eleito presidente, o cardiologista e colega de Instituto de Cardiologia, Ivo Nesralla. Em 1999, virou presidente da entidade, reeleito para o cargo no ano seguinte. Em suas duas gestões, destaca especialmente a organização da Coleção Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina – Cem Anos de Formação Médica no Rio Grande do Sul (Tomos I, II e III). Também reserva lembrança afetiva à comemoração da pioneira década de existência da Academia em 2000, realizada no novo salão nobre da sede da Avenida Ipiranga da AMRIGS, da qual foi dirigente.
Acometido por doença, pediu para deixar de ser acadêmico titular da cadeira número 31 – que passou a dividir com o colega Paulo Dornelles Picon – e foi alçado à condição de Emérito.
Hoje, menos ativo desde a pandemia e a viuvez, pode ser encontrado, às vezes, presencialmente em reuniões ordinárias mensais e em eventos especiais, e com frequência na tela do computador de casa, participando das lives dos encontros científicos e culturais da Academia.
Novos capítulos
Como admirador da máxima de autoria do amigo e epidemiologista de Chicago, professor Jeremiah Stamler, segundo a qual para uma pessoa viver bastante e bem precisa ter sempre um novo projeto futuro com cinco anos de duração, o Dr. Achutti já planeja os capítulos que vai escrever enquanto segue editando semanalmente o Blog AMICOR e, ainda, imaginando a publicação das fotos de autoria de seu pai. O farmacêutico Bortolo Achutti, que inspirou o neto Luiz Eduardo, professor e fotógrafo reconhecido, andava sempre com uma câmera a tiracolo, o que lhe rendia o apelido de senhor Kodak entre os jovens de Santa Maria, onde Aloysio nasceu.
Assista aqui ao depoimento completo sobre a vida pessoal e profissional do Acadêmico.