Com a carreira encaminhada com a graduação na Faculdade de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS) em 1983, Darcy Ribeiro Pinto Filho traçou um plano para o futuro. Nascido em 8 de fevereiro de 1959 em Vila Segredo, então 9º distrito de Vacaria, foi trazido ao mundo por seu pai, o médico responsável pelo hospital local.
O projeto de futuro era voltar a Tramandaí, onde passou a infância e a pré-adolescência, e onde seu pai mantinha um ambiente médico que favorecia sua carreira profissional. Mas seu pai, Darcy, cunhou uma frase contundente, inesquecível e decisiva: “Médico de poeira na família basta eu; você tem que ser médico de asfalto”, disse o Dr. Darcy, respeitado na pequena cidade que, nos meses de veraneio, se transformava na trepidante capital do estado.
Em Tramandaí, Darcy realizou os estudos iniciais no Grupo Escolar Almirante Tamandaré. A inexistência do ciclo ginasial na cidade fez com que fosse matriculado no Colégio Conceição, em Osório. “Nos quatro anos no ginásio, construímos um grupo de amigos tão consistente que seguimos juntos para a capital, na metade dos anos 70, para cumprir o científico e fazer a preparação para o vestibular. Uma verdadeira ‘colônia’ do litoral norte do RS foi instalada em Porto Alegre”, conta ele, que concluiu o científico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos em Porto Alegre. Foi em Caxias do Sul, entretanto, que ingressou no curso de Medicina na UCS em 1978.
Durante a graduação, em todas as férias de verão frequentou, como interno, o Pronto Socorro Tramandaí, de propriedade de seu pai. No antigo Hospital Mário Totta, também pela mão do pai, foi levado ao bloco cirúrgico para auxiliar em cesarianas e pequenos procedimentos. Não precisou de muito mais para Darcy entender o quanto aquele ambiente lhe trazia felicidade e realização. Contava os minutos para a conclusão do curso e o regresso à cidade onde crescera e de que tanto gostava.
Quando, também em 1983, o falecimento precoce de sua mãe, Diulma Machado Pinto, impactou fortemente o primogênito de quatro filhos, Darcy descartou retornar ao litoral. Seguiu o conselho paterno à risca: iria se aprimorar para clinicar ‘no asfalto’ das cidades maiores. Seu primeiro curso de especialização, em Cirurgia Geral, foi feito entre 1984 e 1985 no Hospital Lazzarotto de Porto Alegre.
Não hesitou em deixar o RS quando surgiu uma vaga de cirurgião no Paraná. Durante a estada no hospital de Guarapuava, foi convidado a ocupar um posto para o qual teria de realizar especialização em cirurgia pediátrica ou torácica. Escolheu as intervenções no tórax, mas para obter o melhor aperfeiçoamento, teria que aprender no local de referência na especialidade, o Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa de Porto Alegre. Em 1986, durante dois anos, frequentou o ambiente onde a genialidade do Prof. Nelson Porto liderava um dos grupos mais qualificados de pneumologistas e cirurgiões torácicos que o Brasil já conheceu. Desta escola levou aprendizados para toda uma existência. No entanto, conforme seu próprio relato, seu maior encantamento se deu com a maestria cirúrgica, exemplo de dedicação aos pacientes, inteligência cativante e inquietação motivadora do seu mentor, seu pai-médico, Prof. José Camargo.
Em 1986, a convite de seu professor Wilson Spiandorello, voltou a Caxias do Sul para iniciar a consolidação de uma carreira notável – que ainda se revigora através dos filhos da união com Eliana Maineri Pinto: os gêmeos Vítor e Lívia Maineri Pinto, e o caçula Bruno. A filha é veterinária, e os dois homens são igualmente cirurgiões torácicos.
Aprovado em concurso como docente do Curso de Medicina da UCS em 1996, assumiu a coordenação do curso onde fez sua graduação, sendo responsável, com seu colegiado, pela implantação de um inovador projeto pedagógico. Também em 1996, foi presidente fundador da Sociedade de Cirurgia Torácica do Rio Grande do Sul (Socitors). Concluiu o curso de mestrado em Pneumologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1998, com a dissertação sobre a cirurgia minimamente invasiva – pleuroscopia – no tratamento das infecções pleurais. Em 2000, lançou seu primeiro livro, Manual de Cirurgia Torácica, da Sociedade de Cirurgia Torácica do Rio Grande do Sul, seguido imediatamente, em 2001, pela obra Condutas Clínicas em Cirurgia Torácica, de coautoria com seu colega pneumologista, o Prof. Dagoberto Godoy.
Mais dois livros tiveram sua autoria: Conceitos e Rotinas em Oncologia Torácica, com a coautoria do Dr. Ruy Reinert, e Tópicos de Atualização em Cirurgia Torácica, editado em 2010, com seu mestre Prof. José Camargo.
Ao concluir sua tarefa como coordenador do Curso de Medicina, assumiu a direção médica do Hospital Geral, hospital de ensino da Fundação Universidade de Caxias do Sul, permanecendo à frente desta diretoria entre 2002 e 2008. Neste período, defendeu com vigor o conceito de que o Hospital Geral representava o pilar principal do binômio docência e assistência, sendo imprescindível seu gerenciamento pela Universidade de Caxias do Sul. Tese contestada por interesses políticos da época, mas que obteve êxito pela força dos argumentos.
Defendeu sua tese de doutorado em Medicina – Pneumologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2002, com trabalho experimental sobre suturas pulmonares, desenvolvido integralmente nos laboratórios da Universidade de Caxias do Sul. Seu orientador foi seu grande amigo, o Prof. Airton Schneider.
Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica desde a abertura do Hospital Geral em 1998, sempre estimulou e orientou seus alunos para obtenção de vários prêmios e publicações pela elaboração de trabalhos científicos. Desde 2010, coordena o programa de Residência Médica em Cirurgia Geral do Hospital Geral de Caxias do Sul.
Ao apresentá-lo como candidato à vaga de acadêmico da ASRM, em 2015, o Prof. José Camargo assim se manifestou:
“Portador de grande talento pedagógico e esmerado na relação com os pacientes, sempre despertou intensa empatia nos alunos. O que explica a condição de três vezes paraninfo de turmas médicas, cinco vezes professor homenageado e duas vezes Homenageado de Honra. Sempre com participações ativas e convincentes nos eventos nacionais, granjeou a simpatia dos cirurgiões torácicos brasileiros, e em 2013 assumiu a Presidência da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica por aclamação. Pela primeira vez, um cirurgião torácico de uma cidade do interior do Brasil chegava à condição de presidente da sua entidade maior.” Foi reeleito para mais um mandato, encerrando este ciclo em 2017.
No mês de junho de 2024, festejou, com muito orgulho, seu nono ano de ingresso na Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, como titular da cadeira 56, anteriormente ocupada pelo Acadêmico José Geraldo Vernet Taborda.
Saiba mais sobre a trajetória do Acadêmico, no vídeo completo disponível abaixo: