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Depoimento com Acadêmicos – Dr. Ítalo Mundialino Marcon

O irmão mais velho era tão firme e irredutível quanto era insistente o caçula. “Não, guri, só vais entrar numa sala cirúrgica se e quando passares no vestibular de Medicina”, repetia Natalino, doutor de trajetória profissional adiantada em oftalmologia e otorrinolaringologia. Em 1961, quando venceu o primeiro concurso do vestibular feito, ele mal viu o nome completo, Ítalo Marcolino Marcon, na lista dos aprovados, afixada no saguão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), rumou apressado para a Santa Casa de Porto Alegre. Sorridente, ingressou no bloco cirúrgico e avisou o irmão que havia passado. “Então, coloca o avental e vem assistir à cirurgia”, concedeu finalmente o Dr. Natalino Marcon, que foi a inspiração maior para a decisão da carreira futura do jovem nascido em Garibaldi, em 1 de maio de 1941, o mais novo dos oito filhos do casal Pietro e Agnese Marcon, italianos chegados no Brasil em 1923. Pietro, de profissão carabinieri, virou Pedro, marceneiro, escultor e empresário de móveis e construções. Agnese foi renomeada como Lúcia Ignez no Brasil.

Em Garibaldi, Ítalo cursou o primário na Escola Santa Inês e o ginásio no Colégio Santo Antônio. Na capital, estudou no Colégio do Rosário e cursou o científico no Colégio Nossa Senhora das Dores, onde se envolveu “pela primeira e única vez em política” – no caso, política estudantil – presidiu o grêmio estudantil dorense e liderou o departamento de pesquisas científicas da instituição. Durante o curso de Medicina, onde graduou-se em 1967, na ausência da instituição da residência nas especialidades, fez estágios e plantões, por seis anos, na Santa Casa, no Sandu, no HPS Floresta e no INAMPS.

Atuou no Hospital Militar como médico civil contratado e ingressou por concurso no HPS da capital. A jornada na docência começou em 1972 por convite do Dr. Rivadávia Correia Meyer para ser professor voluntário na Faculdade Católica de Medicina – hoje Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA).

A afinidade com o mestre Rivadávia Corrêa Meyer desviou-lhe do caminho traçado com a família dos irmãos Marcon de voltarem para Garibaldi.

Natalino de fato retornou à terra natal, mas Ítalo ficou em Porto Alegre para prosseguir em 1976 na carreira de professor concursado da FFFCMPA, só concluída em 2011 quando completou 70 anos de idade, após 39 anos e seis meses de dedicação docente.

Foi orientador de Bolsa de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (FAPERGS) pela já então Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), nos anos de 1994 e 1995. Tem Mestrado em Oftalmologia (1995) e Doutorado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (1999). Realizou concurso para Livre Docência na UFCSPA em 2001. Foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de Glaucoma em 1981. Fundador e primeiro Coordenador do Curso de Especialização em Oftalmologia ligado à FFFCMPA, credenciado pelo CBO, de 1972 a 1986. Fundador e primeiro Coordenador do Curso de Especialização em Oftalmologia ligado ao Hospital Banco de Olhos, credenciado pelo CBO, de 1988 a 1993. Chefe do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa, de 1993 a 2006. Foi supervisor da Residência Médica em Oftalmologia na UFCSPA/Santa Casa desde 1993. Foi presidente do Departamento de Oftalmologia da AMRIGS, de 1970 e 1971, da Sociedade Brasileira de Glaucoma, de 1987 a 1989, presidente do Congresso Pan-americano de Glaucoma em 1989 e do Congresso Brasileiro de Oftalmologia em 2011. Autor dos livros: “3° Consenso Brasileiro: Glaucoma Primário de Ângulo Aberto”. Sociedade Brasileira de Glaucoma. São Paulo, 2009. “I Consenso de Glaucoma Secundário da SBG”. Editora Awa. São Paulo, 2015. “Memórias da Criação da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre”, 2007.

Foi Homenageado Especial no III Congresso Sul Brasileiro de Oftalmologia, em Curitiba, 1990. Certificado de Reconhecimento por serviços prestados à Santa Casa de Porto Alegre, em 2005. Homenagem por serviços prestados como Professor pela UFCSPA, em 2011. Certificado por Excelência no XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia, Porto Alegre, em 2011. Menção Honrosa no desenvolvimento da oftalmologia gaúcha e brasileira, na Jornada Gaúcha de Oftalmologia, Canela, em 2014. Certificado pelo expressivo trabalho na causa dos Transplantes do Rio Grande do Sul, pela Secretaria da Saúde do Estado, em 2017. Foi homenageado por serviços prestados e como fundador da Sociedade Brasileira de Glaucoma, em São Paulo, 2019.

Entre seus orgulhos, honrarias, menções e distinções, presidência de congressos nacionais, autorias de livros sobre oftalmologia, otorrinolaringologia e glaucoma, estão o ingresso na cadeira 27 da ASRM (motivado pelo convite dos colegas e amigos acadêmicos Telmo Bonamigo e José Carlos Costa Gama) e a atenção dedicada a um paciente especial, Mario Quintana, encaminhado pelo irmão Itálico, poeta e literato.

Uma cópia emoldurada do poema “Mapa”, em letras manuscritas pelo próprio Quintana, decora uma parede do consultório particular da Clínica Marcon. Também ocupa o espaço vizinho uma cópia de sua autoria, elaborada sobre a temática do “homem do século 20” para uma aula particular de inglês ministrada pela professora Judith Scliar – viúva do escritor Moacyr Scliar.

Leitor voraz, entretanto, Ítalo não se anima a publicar os poemas que guarda em gavetas e que só compartilha com a esposa Neide, mãe do oftalmologista Alexandre, do engenheiro Pietro e da empresária Clarissa. Alexandre, aliás, substitui o pai na chefia do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa.

Assista aqui ao depoimento completo sobre a vida pessoal e profissional do Acadêmico.