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Depoimento com Acadêmicos – Dr. Heitor Hentschel

A intensidade com que ele descreve a imposição trabalhista para deixar o cargo de professor da UFRGS ao completar 70 anos de idade dá uma ideia da ojeriza à imposição da legislação do serviço público. “Infelizmente foi uma aposentadoria expulsória, e não compulsória”, ressalta o Acadêmico Heitor Hentschel, titular da cadeira 13 da ASRM desde 2019.

Nascido na Beneficência Portuguesa da capital, na noite gelada de 22 de maio de 1942, recebeu a sentença de encerramento da carreira profissional de docente de medicina em 2012. Entretanto, recusou-se a ir para casa e usufruir apenas dos benefícios das funções agradáveis do avô de cinco netos, que compartilha com a companheira de 53 anos, a esposa Flávia Beatriz Lange Hentschel. Ambos são pais do médico Eduardo e do biólogo Ricardo.

Por dois anos, continuou como voluntário no trabalho docente, mas logo tratou de registrar suas memórias, animado por uma oficina de literatura e pelo estímulo de um editor diante dos primeiros manuscritos de “Histórias de um médico de senhoras” (Volumes I e II), lançado em 2019. Logo depois, escreveu “Histórias de um médico do interior”, seguido de “A cama-gaita, o peru do vizinho e outras histórias”, lançado em dezembro passado.

Nas obras, Heitor relembra suas andanças na vida desde que nasceu em Porto Alegre, assim como seus pais Norberto Wendelino e Irma Olga, e três dos quatro avós. Na infância, em casa, falava alemão até que, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, o idioma germânico falado pelo avô austríaco, único que não era porto-alegrense, foi rigorosamente proibido no Brasil, aliado das forças que combatiam o nazismo.

Assim, ao ingressar no primário no Grupo Escolar Dona Leopoldina, sentia-se constrangido pelo seu escasso conhecimento do português. Cursou o científico no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e, em 1963, aprovado no vestibular, ingressou na faculdade de medicina da UFRGS.

Gostava de geologia e tinha horror à matemática; rumou para a área da saúde.

“Foram seis anos maravilhosos”, elogia, lembrando de colegas como os acadêmicos Germano Bonow e o saudoso Carlos Henrique Menke, entre outros contemporâneos. Começou a fazer plantões no Pronto Socorro Floresta na Sexta-feira Santa de 1963 e ali atuou por muitos anos. Por vezes, assistia às aulas na UFRGS com a farda do serviço militar prestado no CPOR.

Na faculdade, tinha apreço por psiquiatria e pediatria; gostava muito da emoção e do aparato da sala de cirurgia. Acabou decidindo pela ginecologia e obstetrícia – “que tinha tudo isto”. Fez residência na maternidade do Hospital Mário Totta e passou a realizar plantões de obstetrícia no Inamps.

Trabalhou no Hospital Presidente Vargas e no recém-inaugurado Hospital Divina Providência.

Aprovado em concursos, foi auxiliar de ensino e professor assistente antes de conquistar a titularidade docente.

Foi médico chefe do posto do instituto de previdência na galeria Malcom, no centro histórico de Porto Alegre.

Em 5 de maio de 1980, deixou o complexo da Santa Casa para ingressar no novo Centro Obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), do qual foi chefe.

Destaca que foi convidado por Germano Bonow, secretário estadual da Saúde em 1983, para coordenar um programa de controle da fertilidade da mulher, em um ambiente cultural que rejeitava a anticoncepção.

Em junho de 1999, inaugurou, no HCPA, o primeiro ambulatório do sul do Brasil para atender a pessoas com dificuldades sexuais. Em 2006, apresentou a tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas, com o título “Função Sexual em Mulheres de Casais Inférteis e em Mulheres com Esterilização Cirúrgica”.

Na área associativa, presidiu o Departamento de Ginecologia e Obstetrícia (DGO) da AMRIGS por quatro anos, auxiliado pelo ex-colega de turma Carlos Henrique Menke, que ele convidou para ser secretário da hoje Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul (SOGIRGS). Nessa época, viajou bastante, participou de congressos, ministrou palestras e frequentou eventos científicos no Brasil e no exterior.

Fez cursos no Uruguai, Argentina, Chile, Japão e Estados Unidos.

O gosto pela leitura e por escrever, expressos em relatórios e boletins da especialidade, o conduziu à literatura que ocupa os dias atuais em 2024, pós-enchentes de maio. Sem ser vítima direta do flagelo das cheias que atingiram a editora do novo livro, teve atrasado o lançamento da quinta obra. É seu primeiro romance, em que ficciona acontecimentos reais, com inspiração em um médico que conhece e é o personagem principal de “Eugênio e Amélia, uma história de amor”.

Assista ao depoimento completo do Acadêmico no vídeo disponível abaixo.