Todos os anos no dia 1º de dezembro é celebrado o Dia Mundial da Luta contra a AIDS. Desde o surgimento das infecções pelo HIV, a transmissão desse vírus da gestante para seu filho durante o pré-natal ou o parto, “transmissão vertical”, tem sido uma grande preocupação para infectologistas, obstetras e pediatras. Em 1994, foi publicado no New England Journal of Medicine, o famoso protocolo 076, mostrando que o uso da zidovudina (AZT) em gestantes com HIV, durante o pré-natal, trabalho de parto, e nos recém-nascidos reduzia significativamente a transmissão do vírus. Desde então, o desenvolvimento de novas terapias anti-retrovirais (TARV) para serem usadas por gestantes durante o pré-natal, mostraram grande eficácia e segurança, fazendo com que, em grávidas acompanhadas no pré-natal e com boa aderência aos tratamentos, a proteção aos bebês alcançasse níveis perto de 100%. Nos países desenvolvidos, as taxas de transmissão vertical do HIV encontram-se menores do que 1%, situação muito diferente da observada em países em desenvolvimento. No Brasil, em 2022, a taxa de detecção de HIV em gestantes foi de 3,0 para cada 1000 nascidos vivos. Em toda a série histórica de registro de casos no Brasil, a região sul e, em especial o Rio Grande do Sul, tem as maiores taxas de detecção do HIV em gestantes. Em 2021, 12 UF apresentaram taxas superiores à média nacional com destaque para o Rio Grande do Sul com 8,4 casos para cada 1000 nascidos vivos. Porto Alegre é a capital com maior taxa de detecção, 17,1 casos/mil nascidos vivos, quase 6 vezes a taxa nacional. Não é admissível que um estado que se orgulha de ter um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH), esteja assim tão vergonhosamente representado nessa questão de saúde tão crucial.
O objetivo do tratamento no pré-natal, é diminuir ao máximo a carga viral no sangue materno tornando-a indetectável ou, pelo menos, com uma contagem abaixo de 1000 cópias por ml. Quando se alcança este objetivo, a transmissão do HIV para o bebê é evitada.
A testagem para o HIV é obrigatória no pré-natal e quando a gestante interna em trabalho de parto. Todos os testes e os tratamentos são fornecidos gratuitamente pelo SUS. Uma boa assistência pré-natal, além de viabilizar a prevenção da transmissão vertical, naquelas gestantes com HIV e com doença ativa, ou seja, com AIDS, têm a oportunidade de melhorar suas condições de saúde, tratar eventuais outras infecções oportunistas e prepará-las adequadamente para darem à luz bebês saudáveis.
Por estes motivos, a ASRM conclama todas a gestantes para que busquem uma atenção pré-natal e que recebam cuidados humanizados e efetivos, para que deixemos para trás esta triste liderança, de sermos o estado com as maiores taxas de transmissão de HIV para os recém nascidos.