O complexo do Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre é o maior legado arquitetônico do final do século XIX no RS, assegura a arquiteta Renata Galbinski Horowitz, especializada em obras de restauração do Patrimônio Histórico com reconhecida atuação na área. O chamado prédio centenário, com seis pavilhões, foi tombado pelo Estado em 2000 e pela prefeitura em 2002. Em 2003, o espaço foi gravado como praça no Plano Diretor da capital graças ao valor do vazio frontal que preserva intocado o jardim. Entretanto, depois de tentativas de restauro por empresas com insuficiente qualificação técnica, mudanças de governos, falta de recursos públicos e indefinição sobre o uso da edificação, as obras estão inacabadas desde 2018. E, ainda pior: com o abandono, a estrutura sofre uma crescente deterioração patrimonial que leva a arquiteta Renata a não se surpreender se ocorrer uma ação severa do Ministério Público Estadual cobrando o descaso governamental.
A arquiteta Renata foi a palestrante da primeira Sessão Cultural da gestão presidida pela Acadêmica Miriam Oliveira e coordenada pelo diretor de Cultura da ASRM, Acadêmico Cláudio Marroni, no entardecer desta terça-feira (20), que abordou o tema Hospital Psiquiátrico São Pedro – História e Arquitetura.
Em sua apresentação, ela recuperou a trajetória do então hospício, desde 29 de junho de 1877 quando foi inaugurado no limite leste do município. Concluído em 1903, abrigou inicialmente 41 pacientes que em 1970 eram estimados em uma superpopulação de 5.000 internos, constituindo uma pequena cidade que, na opinião da arquiteta,cumpre o papel de “testemunha da história da psiquiatria do RS”.
Nos anos seguintes, a população diminuiu, os pavilhões sofreram intervenções e outros prédios surgiram no espaço de 13 mil hectares reduzido dos 33 mil hectares originais. A Lei Estadual da Reforma Psiquiátrica de 1992 ajudou a esvaziar o hospital e a escassez de recursos financeiros do Estado contribui para sua degradação. Nos anos 2000, se impôs a necessidade de restauração do bem público que se esvaía.
De 2008 a 2013, Renata integrou o grupo de trabalho que reuniu secretarias estaduais da Saúde, de Obras e da Cultura e o Instituto de Patrimônio Público Histórico e Arquitetônico Estadual (IPHAE) para pensar em projetos de restauração dos prédios definindo, em 2010, a execução em duas etapas. Só uma fase, no entanto, seria concluída em 2017, lamenta Renata, acreditando que o futuro do São Pedro passa pela ressignificação do prédio que se mantém íntegro para utilização pelo que for definido pelo governo e pela sociedade.