Durante a sua apresentação, na Sessão Cultural da ASRM, desta terça-feira (16), o acadêmico Blau Fabrício de Souza demonstrou de forma eloquente suas habilidades de escritor, historiador e apaixonado pelo Rio Grande do Sul, especialmente pelo bioma Pampa que se estende da metade sul do estado para o cone sul latinoamericano. Ao mesmo tempo, reverenciou o escritor gaúcho Érico Veríssimo, que ao lado de historiadores profissionais contribuiu para o legado escrito da história desta região.
Em exposição, clara, didática e emocionante que rememorou parte dos 80 anos de sua jornada de médico nascido e ainda com ligações fortes com Lavras do Sul, o Acadêmico Blau proporcionou um aprendizado a todos os participantes da lição virtual sobre o tema “O pampa, o gado e o gaúcho” com o subtítulo “Chasque inicial.Paixão pelos campos.O Pampa Histórico”.. Uma verdadeira aula nas palavras da diretora cultural, acadêmica Miriam da Costa Oliveira,
Autor de vários livros (*), entre os quais “Contos do Sobrado e outras histórias”, que remete à estância rural onde reside, Blau define-se como um médico que promoveu um êxodo às avessas, retornando ao campo de suas origens lavrenses, depois de encerrar a carreira na Medicina onde teve trabalho pioneiro e inovador em cirurgia cardíaca e torácica.
Em seu retorno, voltou munido da tecnologia contemporânea e encontrou o gaúcho contemporâneo igualmente atualizado, em um ambiente em que “nem o cavalo se assusta mais com o toque do celular”, como ele brincou. Em sua atividade atual que mescla presente com passado, associa pecuária com cuidado da terra, mantendo metade da mesma em seu formato natural de gramíneas nativas, e em pequenas áreas utiliza o plantio de soja para melhorar o solo devido a capacidades intrínsecas da mesma.
Com o apoio de recursos audiovisuais e auxílio tecnológico de seu neto, Blau dividiu sua exposição em capítulos ilustrados por mapas, desenhos e pinturas históricas, abordando temáticas da formação dos gaúchos, a chegada do cavalo e do gado, a formação do conceito do gaúcho no Brasil e na Argentina, a identidade cultural e a presença na literatura.
Após o término da apresentação, o encontro alongou-se com manifestações e questionamentos dos assistentes da live, buscando mais detalhes históricos do RS. Blau não decepcionou os colegas interessados respondendo a todas as indagações, desde a redução da criação de ovinos até diminuição dos campos nativos, passando pelo predomínio da monocultura da soja, a questão controversa do reflorestamento com espécies exóticas, como pinus e a ameaça de extinção de espécies da fauna da região do Pampa decorrente desta mudança.
Observou que está vinculado à “Alianza del pastizal”, entidade multinacional que busca conservação e exploração responsável oo Bioma Pampa.
Ensinou com o talento e a sensibilidade que já revelou na medicina e na literatura. Questionado sobre a possível explicação da presença marcada de médicos na literatura do gaúcho, Blau respondeu de uma forma eloquente, que acredita que seja devido ao fato do médico essencialmente escutar as pessoas em sua anamnese e prática diária. E a escuta do gaúcho fornece um conhecimento profundo de pessoas e de suas visões e experiências de mundo. Assim, o médico teria uma reserva de conhecimento fornecida pela prática diária que permite um conhecimento mais profundo do habitante deste bioma. Uma lição que se mostra útil para todos que praticam a medicina.
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Sua mais recente obra é o livro de memórias Octoginta (2021).
Em 1992, lançou o livro De Todo Laço, por ocasião do centenário de nascimento de seu pai, médico e líder regional. Em 1998, Contos do Sobrado e Outras Histórias. Participou da coordenação dos livros Médicos (Pr)escrevem, desde o primeiro até o quinto. Ainda em 1997, ajudou na edição do livro Poesia Cotidiano Sonho, produzido pelos médicos do Hospital Nossa Senhora da Conceição, e onde há três textos de sua autoria. Tem escrito para jornais e revistas sobre assuntos médicos, política de saúde, literatura e história.
