No último dia 11, na sede da ASRM, o presidente da Academia, Luiz Lavinsky, e a diretora cultural Miriam Oliveira receberam um presente que enriquece a biblioteca da entidade e orgulha os colegas: é o livro “Bases históricas da Cardiologia e desenvolvimento no Brasil”. Entregue pelo ex-presidente, professor e cardiologista Carlos Antônio Mascia Gottschall, autor e também coordenador da publicação., o livro faz parte do projeto Memória da Cardiologia Brasileira e teve apoio de uma equipe de historiadores no trabalho de pesquisa e escrita, além de uma comissão composta por médicos membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A obra foi um pedido do ex-presidente da SBC e atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que assina o prefácio.
Segundo o acadêmico Gottschall, “Bases históricas da Cardiologia e desenvolvimento no Brasil” é o primeiro livro sobre história geral e brasileira da cardiologia editado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Em entrevista ao jornal Correio do Povo, anunciando o lançamento da obra ocorrida em 18 de fevereiro, o autor discorreu. “O coração sempre fascinou a humanidade e os médicos. A cardiologia acabou apontando caminhos estruturantes para medicina, porque foi a primeira especialidade a se desvincular da clínica médica, isso porque as doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo, à medida que a sociedade humana cresce e se complica. A Sociedade Brasileira de Cardiologia, então, resolveu registrar sua história para conhecimento e lição de como pequenos passos podem construir o grande monumento que é a cardiologia atual. Então, nesse livro são descritas várias situações, como o passo mais fundamental, que foi dado pela descoberta da circulação do sangue pelo inglês William Harvey, em 1628. Essa descoberta é considerada a maior descoberta médica do milênio 1000 a 2000 porque sepultou míticas suposições imaginárias e aplicou pela primeira vez o método científico na medicina, transformando a medicina em ciência. Um século depois começaram as primeiras medidas fisiológicas e, no começo do século 19, o francês René Laennec inventou o estetoscópio, que foi o instrumento médico mais importante na clínica no século XIX e é importante até hoje, porque permitiu um extraordinário desenvolvimento da clínica. Somente no fim do século XIX é que foi inventado o aparelho para medir a pressão arterial. Com isso, os médicos começaram a diagnosticar e tratar a mais prevalente moléstia da cardiologia, que é a hipertensão arterial. Também no fim do século XIX surgiram os raios-X de ampla aplicação diagnóstica. Aí, nos primeiros anos do século XX, o holandês Willem Einthoven desenvolveu o eletrocardiógrafo e a eletrocardiografia, que foram os gatilhos da especialidade. A cardiologia nasceu pela eletrocardiografia. Nessa época, eram efetivos apenas três medicamentos cardiológicos: pó de folhas de Digitalis, para insuficiência cardíaca, e nitritos, e quinina para arritmias cardíacas. Outros remédios efetivos não se conheciam. Em 1915, o inglês James Mackenzie tornou-se o primeiro cardiologista clínico a se dedicar integralmente à especialidade e a atender frequentes problemas cardiológicos, principalmente de soldados do exército britânico que apresentavam doença cardíaca devido à sobrecarga por estresse e esforço. A partir daí, a especialidade se desdobrou em braços clínicos, epidemiológicos e acadêmicos.