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REUNIÃO CIENTÍFICA: A Formação Médica Contemporânea

Coordenador do Núcleo de Educação Médica da ASRM, Acadêmico Darcy Ribeiro

Apresentado pelo Coordenador da Reunião Científica e segundo Vice-Presidente da ASRM, Acadêmico Darcy Ribeiro Pinto Filho, o vídeo que mostra a deficiência dos médicos que atuam em São Paulo impactou fortemente os participantes do encontro mensal da entidade realizado neste sábado (27) no auditório do CREMERS. De acordo com pesquisa do Conselho de Medicina de São Paulo, sete em cada 10 médicos não sabem sequer diagnosticar um princípio de infarto e nem mesmo medir corretamente a pressão arterial, conhecimentos básicos para exercer a profissão sem arriscar a vida dos pacientes.

Com esta denúncia veiculada em canal de TV e redes sociais, o cirurgião torácico e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) disse que é imprescindível refletir e também tomar posição sobre a Formação Médica Contemporânea, tema do painel que seguiu com três palestrantes considerados referências na profissão e no ensino da Medicina.

Para o Presidente do CREMERS, cirurgião gástrico e professor, Eduardo Trindade, é necessário que seja implementado um exame de ordem nos moldes do que a OAB realiza. “As entidades médicas como o Conselho e a Academia, que são repositórios técnicos, morais e éticos, precisam agir para mudar esta situação sem deixar a solução apenas para o Ministério da Saúde”, afirmou ele.

Presidente do Conselho Regional de Medicina do RS, Dr. Eduardo Trindade

Trindade destacou que a superpopulação de médicos, oriunda de 389 escolas de medicina no país (20 delas no RS), não é só nociva para a qualificação da profissão, mas implica em alto risco de atendimento aos pacientes. “Nos últimos 13 anos, o número de médicos aumentou muito, com perto de 38 mil profissionais, atingindo um índice de 51,7%”, garante ele. Observando que 42% atuam na capital, ele acha que a interiorização só se tornará realidade quando houver carreira em serviço público e os salários não forem precários, contrariando políticas públicas populistas. “A saída passa por melhores universidades e um exame de ordem obrigatório”, reforça ele, destacando o caráter de desafio político da empreitada que deve unir médicos e a sociedade.

O segundo palestrante, o Vice-Reitor da UCS, Asdrubal Falavigna, abordou as chamadas “Avaliações Seriadas” dos cursos de Medicina, anuais, semestrais ou períodos maiores, individuais ou coletivas, de âmbitos internos e externos, voluntárias e as obrigatórias do MEC. “Na UCS, tivemos uma adesão de 82% dos alunos na última avaliação do Teste de Progresso”.

Vice-Reitor da Universidade de Caxias do Sul, Dr. Asdrubal Falavigna

A faculdade de Medicina caxiense também foi a primeira a receber o selo do Sistema de Acreditação de Escolas de Medicina (Saeme), que é feito desde 2016 e só tem adesão de 12% das escolas médicas do país. A avaliação envolve os professores, os estudantes, a gestão educacional, o programa educacional e o ambiente educacional. O médico acha que as avaliações seriadas são válidas para as direções dos estabelecimentos, mas não mensuram o comportamento e a ética do dia a dia do profissional e do futuro médico. “É preciso, porém, desconfiar de rankings duvidosos e do uso de avaliações apenas para marketing”.

O Acadêmico José de Jesus Camargo, ex-presidente da ASRM e cirurgião torácico consagrado, defendeu enfaticamente a humanização do médico, tida como desaparecida das práticas profissionais dos dias atuais de predomínio dos avanços tecnológicos responsáveis pelo aumento da expectativa de vida da população. Para ele, os médicos devem evitar o deslumbramento pela tecnologia e o embotamento trazido pela rotina de trabalho. “A nossa soberba nos impede de medir a ansiedade do paciente, ouvir seus temores e saber dos sofrimentos anteriores”.

Diretor de Cirurgia Torácica no Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa de Porto Alegre, Acadêmico José Camargo

Camargo acredita em uma futura depuração da classe médica em tempos de inteligência artificial, incapaz da necessária compaixão no cuidado com a pessoa. “A formação médica deve contemplar uma ação pedagógica transversal incluindo o tema do humanismo em todas as disciplinas. E estimular a inteligência emocional através da arte que humaniza. Quem não gosta de gente não pode ser médico”, acentua. “É melhor nem seguir a profissão pois não vai receber a gratidão do paciente”, resumiu.

Assista ao vídeo completo da Sessão aqui.