Não foi somente a alma sensível da Acadêmica Liselotte Menke Barea que permitiu-lhe confessar, em público, no auditório do Cremers, neste sábado (27), que foi levada às lágrimas na Sessão Científica da ASRM, cujo tema central foi Crise climática e saúde: O maio de 2024. Alguns acadêmicos experimentaram sentimentos similares e até mesmo palestrantes, como o Acadêmico José Camargo e a Dra. Simone Hauck, não esconderam a forte emoção durante suas apresentações, recordando cenas fotográficas das cheias em Porto Alegre – que podem ser compartilhadas no vídeo do YouTube gerado no encontro da ASRM.
O ambiente tensionado pelas lembranças das ações televisionadas ao vivo, mostrando a enorme solidariedade da sociedade, e marcado pelo comprometimento pessoal dos médicos em relação às vítimas das cheias, contribuiu para a concentração permanente dos participantes por cerca de duas horas. Todos permaneceram em seus lugares até o encerramento formal do painel, coordenado pelo Acadêmico Darcy Ribeiro Pinto Filho, com a participação do integrante do Programa Jovem Talento, psiquiatra Ives Cavalcante Passos, que dimensionou os efeitos das enchentes como de “retraumatização”, por somarem-se aos danos da epidemia da Covid-19.
Oficialmente aberta pela presidente da entidade, Acadêmica Miriam da Costa Oliveira, a reunião científica começou com a apresentação do Acadêmico e Professor Emérito de Cardiologia, Dr. Carlos Gottschall, sobre “A história das enchentes em Porto Alegre”, cujo registro mais longevo é o das lendas indígenas. Ele também comparou as duas maiores cheias da capital, de 1941 e de 2024, confirmando que a mais recente durou 60 dias neste ano (contra 22 dias na anterior), sendo, sem dúvida alguma, a maior catástrofe já ocorrida no estado. O Acadêmico acredita que os governantes “falharam na manutenção de um sistema de proteção contra as cheias do rio Guaíba”. “Apenas eles têm o poder de buscar mecanismos obrigatórios de prevenção”, disse.
Em seguida, discorrendo sobre “As catástrofes e o melhor e o pior do ser humano”, o Acadêmico José Camargo salientou que desafios inesperados, como o das cheias, provocam improvisos nos quais as pessoas são forçadas a se revelar como boas ou imprestáveis. Segundo ele, “o mau caráter não é repentinamente moldado pela tragédia, mas já estava pronto”. No entanto, como ninguém nasce mau e o ser humano é vocacionado para buscar a felicidade, Camargo afirma que cultiva sólidas esperanças nas pessoas.
A professora da UFRGS, Dra. Simone Hauck, que atua no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e conduz a pesquisa “Impacto da catástrofe climática de 2024 na saúde mental de moradores do Rio Grande do Sul”, espera que os resultados do estudo inédito – realizado enquanto acontecia a enchente, de 6 de maio a 6 de junho – possam ajudar a evitar novas calamidades, incidindo sobretudo nas crianças, potenciais vítimas de ansiedade e depressão. Entre as atitudes de precaução que sugere está a disseminação de informações para a construção de uma sociedade mais resiliente, pois daqui para a frente as catástrofes serão mais frequentes.
Antes, houve expediente administrativo da habitual reunião mensal da entidade, com a palavra da presidente e manifestações de acadêmicos.
Confira a palestra e os debates ao final disponíveis no link abaixo.