“A Sexualidade Humana no Mundo Contemporâneo” revela-se extremamente diversificada, com novos personagens e comportamentos que surpreendem os mais conservadores. Jovens que não se interessam muito por sexo, crianças precocemente erotizadas; bissexuais, transexuais e adultos com fantasias pedófilas que, contudo, não praticam agressões sexuais, compõem um inesperado e surpreendente mosaico comportamental, desconhecido há pouco menos de um século.
Neste cenário nebuloso dos dias de hoje, o Acadêmico Cláudio Marroni confessou sua profunda e crescente confusão, indagando: “o que é normal, afinal de contas?”. A presidente da ASRM, a Acadêmica Miriam da Costa Oliveira, questionou o diagnóstico que considera a juventude desinteressada sexualmente, com preferências específicas por ascensão financeira e profissional, fadada à ansiedade e à depressão, automaticamente impedida de viver feliz. Talvez esse conceito, que fixa tais jovens como doentes, possa ser modificado no futuro, assim como vários conceitos sobre a sexualidade o foram no século passado.
Com abertura da presidente da ASRM, coordenação do Acadêmico Sérgio Martins-Costa e do médico do Programa Novos Talentos da Academia, Daniel Freitas, a Sessão Científica da Academia, realizada na manhã deste sábado (31), no auditório do CREMERS, tratou exatamente dessas mudanças na sexualidade humana.
O painel iniciou com a apresentação “Aspectos da Sexualidade Feminina”, de autoria do Acadêmico Heitor Hentschel. O ginecologista lembrou das pioneiras operações de ligadura de trompas, logo seguidas de queixas de mulheres que perdiam o interesse no ato sexual. Ele também traçou um histórico da conceituação tradicional da atividade sexual desde o referencial do psiquiatra Sigmund Freud até o cientista alemão Ernst Gräfenberg, que, nos anos 1950, divulgou o mito do ponto G na zona de prazer na anatomia sexual feminina.
Em seguida, o Acadêmico Cláudio Telöken abordou a “Sexualidade Masculina”. Após atualização em recente encontro científico em Amsterdã, o urologista destacou o “adoecimento” sexual dos homens cada vez mais cedo, com prevalência de disfunções na faixa etária dos 16 aos 45 anos, segundo constatação de seguradoras da Holanda, Suíça e Suécia, preocupadas com a elevação dos gastos com médicos e medicamentos. O Acadêmico também denunciou o panorama brasileiro, com o aumento das disfunções sexuais motivadas pelo uso excessivo e indiscriminado de drogas que fortalecem a estrutura muscular dos homens, especialmente na região do tórax, com danos colaterais refletidos na saúde física e mental.
Encerrando o painel, a Dra. Maria Inês Lobato falou sobre “Interesses Sexuais Atípicos – Resultados de um Estudo Populacional Brasileiro”. Com ênfase nas chamadas parafilias, que incluem a pedofilia e as agressões sexuais a crianças, a médica só vê saídas na prevenção para proteger os vulneráveis, vítimas de estupros e atingidos por assédios da pornografia infantil através da internet, principalmente na chamada deep web, além de ameaçados pelo uso nocivo da inteligência artificial. “Os dados são assustadores”, afirmou ela. “Os abusadores são presos, mas os abusos continuam”. Ela participa de um programa originado na Alemanha, o Projeto Dunkelfeld, que promove uma polêmica campanha com o objetivo de convencer pedófilos a se inscreverem em um tratamento confidencial para reverter sua atração sexual por crianças, mesmo que já tenham cometido abusos no passado. A iniciativa, denominada Projeto de Prevenção Dunkelfeld (PPD), já envolveu mais de 430 homens que buscaram o tratamento oferecido. Muitas outras pessoas fizeram contato em busca de conselhos ou para obter informações sobre as terapias disponíveis.
Assista às palestras completas do evento no link abaixo: