Com palestras sobre o ensino médico no Brasil e causas da paralisia cerebral em recém nascidos, a ASRM realizou sua reunião ordinária, tradicional no último sábado do mês (dia 26), prestigiada por um público diferenciado. Além dos acadêmicos habituais, compareceram ao auditório do CREMERS, médicos atraídos pelos temas abordados e familiares do Acadêmico Carlos Grossman falecido em 9 de junho.
Ele foi homenageado pelos integrantes da entidade, através de um tributo prestado pelo Acadêmico Cláudio Eizirik, destacando a trajetória pessoal, a carreira profissional e o legado de Grossman (assista ao vídeo com a homenagem clicando AQUI)
Paralisia cerebral
Eizirik também foi um dos participantes da reunião científica com uma palestra conectada com a exposição do Acadêmico Sérgio Martins Costa, vinculando a contribuição inovadora de Sigmund Freud na elaboração de diagnóstico de recém nascidos com paralisia cerebral.
Na apresentação intitulada “A navalha de Ockham e a paralisia cerebral de recém nascidos”, Sergio Costa ressaltou que, para John Little, o dano no cérebro de bebês era provocado por partos difíceis e consequentes manobras durante o procedimento com asfixia do feto. A crença obedecia ao conceito defendido pelo filósofo da linha escolástica Guilherme de Ockham de identificar causas de situações complexas com a explicação mais simples.
Com este raciocínio, Little conquistou uma vitória imaginária no confronto inicial com Freud, cujas observações neurológicas indicavam que doenças anteriores ao parto podem determinar a paralisia cerebral.
A partir dessa reflexão, descobriu-se que Freud podia estar certo.
Observando 53 crianças – que lhe permitiram escrever três monografias sobre o assunto- constatou que o desenvolvimento anormal do feto levava à paralisia cerebral e que crianças com asfixia no parto podiam ter desenvolvimento normal. Escreveu em 1893 que “o parto difícil é apenas um sintoma dos efeitos mais profundos que influenciam o desenvolvimento do feto”.
Eizirik enfatizou a importância dessa primeira etapa da prática neurológica na carreira de Freud entre 1882 e 1885, antes da fase da criação da psicanálise, que o consagrou para sempre a partir de 1895.
“Ele sempre procurava seguir grandes mestres, tinha uma personalidade forte que contestava a ‘maioria compacta’ e viveu no lugar certo, a cidade de Viena, quando era o grande centro efervescente da ciência e da cultura”.
Ensino Médico
O convidado do encontro científico, professor José Geraldo Ramos Lopes concluiu sua palestra sobre O Ensino Médico no Brasil – apresentando um amplo panorama histórico do país – com um prognóstico pouco alentador para o profissional oriundo das faculdades. Infelizmente, o ensino da medicina, especialmente nas escolas privadas, transformou-se em um grande negócio, dominado por grupos econômicos, até mesmo com ações na bolsa de valores americana Nasdaq.
Para o professor, é muito difícil reverter a situação de excesso de cursos e de profissionais que chegam ao mercado em quantidade desnecessária.
“Seria necessário que os grandes meios de comunicação ajudassem a desconstruir o anseio generalizado, despertado por uma falsa ideia, de que faltam médicos no Brasil” , acentuou ele.
Mas também seria preciso regulamentação, legislação e ainda mudanças políticas já que principalmente em cidades do interior os políticos reivindicam novas faculdades porque é uma ação que rende votos.
No estado, por exemplo, segundo dados do CREMERS, entre as 15 atuais solicitações para criação de novas faculdades quatro são de uma única cidade, Caxias do Sul, que se iguala em números de pedidos à capital na ambição de sediar mais cursos de medicina.
Assista ao vídeo com a íntegra das palestras clicando AQUI