O virtuoso pianista gaúcho que realiza concertos no mundo inteiro orgulha-se de ser um médico com ativa e intensa atuação profissional.
Por isso, Ney Fialkow celebra o Dia do Médico em 18 de outubro, paga em dia o CRM, conta que já atendeu cinco passageiros que passaram mal em voos comerciais e não esconde a satisfação ao ser tratado, nos EUA, como “doctor – doctor”. Nos Estados Unidos, explica ele, “agregar o título obtido na Medicina à atividade musical é bem apreciado, ao contrário da Europa onde sugerem que não mencione a carreira de profissional da saúde para não correr o risco de ser considerado um mero músico diletante”.
Na última Sessão Cultural da ASRM deste ano, nesta terça-feira (19), o são leopoldense de 63 anos reforçou que sua identidade é indissolúvel, de músico e médico. “Não consigo viver sem as duas condições pois a formação médica foi muito importante e decisiva para minha construção pessoal como músico e professor de piano”.
Ney começou cedo a envolver-se com música vendo a irmã mais velha Lea (também futura médica) tocar piano e acompanhando o pai ouvindo compositores eruditos entre ondas de chiados da transmissão da Rádio da Universidade. Mas tinha certeza que seria médico e gostava de anatomia, aprendida nas leituras da Enciclopédia Barsa. Na escola, entretanto, gostava tanto de canto orfeônico que passava o recreio com a professora de piano. Logo, aos 10 anos, foi encaminhado ao estudo formal com a professora Zuleica Guedes que, traumatizada pela morte precoce do marido, médico e músico Paulo Guedes, só abriu uma exceção para voltar a ministrar aulas quando ouviu o pequeno Ney tocar piano com talento incomum.
Nesse ritmo de narrativa, compartilhando a dupla trajetória que poucos conhecem, ele compatibilizou os estudos de medicina e música na UFRGS por bom tempo; depois esqueceu o piano durante o período de residência como intensivista e tornou-se médico concursado nos Hospitais Lazzarotto, Moinhos de Vento e HPS.
Voltou a dedilhar o instrumento musical após ganhar uma bolsa de mestrado na Universidade de Boston e, mais tarde, de doutorado na Universidade John Hopkins.
Como as duas atividades profissionais exigem dedicação elevada e intensa, em 1991 optou, enfim, por uma delas. Atendendo ao que chama de “decisão vulcânica, vinda de dentro”, foi galgando posição destacada no cenário musical mundial. Encaminhou simultaneamente a carreira como docente na universidade pública onde se dispõe a ensinar o aluno a tocar e pensar e, sobretudo, ouvi-lo como um bom médico escuta seu paciente. No fundo, o músico Ney Fialkow nunca deixou de ser médico.