A Sessão Cultural da ASRM organizada pela diretora cultural Miriam Oliveira, nesta terça-feira (14) abordou o tema “A Arte nas Missões Jesuíticas dos Guaranis” através de uma enriquecedora palestra de Flávio Gil, doutor em História da Arte e Arquitetura pela PUC RJ, pesquisador de Arte Sacra e membro do Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre pelo segmento de Patrimônio Histórico. Com credenciais como Mestrado em História da Arte -Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em Cultura e Arte Barroca da Universidade Federal de Ouro Preto e formado em Comunicação Social pela UFRGS, Flávio Gil proporcionou uma visão aprofundada das manifestações culturais elaboradas nas reduções jesuítas povoadas por índios guaranis.
Durante mais de uma hora, partindo do recorte que chamou de “reflexão sobre a produção artística na província jesuítica do Paraguai”, o pesquisador discorreu sobre o ambiente de disputa territorial entre Portugal e Espanha e no cenário de 30 reduções que incluem sete povoados indígenas catequizados pelos religiosos no RS. Destacou esculturas em madeira, pedra e cerâmica, mas também mostrou gravuras e pinturas, com imagens preservadas hoje em museus, igrejas e ruínas declaradas como patrimônio histórico e predominantemente alusivas a santos, cada qual com uma atribuição (proteção de safras, de invasores e agressores e particularmente de proteção da saúde), com apresentação e comentário de figuras originais da Companhia e de esculturas, como o do próprio fundador da ordem da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola, canonizado pelo Papa Paulo III, São miguel, São Luiz Gonzaga, São Cosme e São Damião.
Sob o efeito da exitosa catequese dos jesuítas (após o fracasso dos padres franciscanos), os guaranis tiveram proteção contra os ataques dos bandeirantes em busca de escravos (entre 1609 e 1640). Mas também perderam características culturais que mantinham em suas pequenas tribos familiares, agora transformadas em agrupamentos maiores e mais diversificados, com planos de traçados de urbanização bem definidos. Deixaram de ser guerreiros, polígamos e antropófagos; viraram aprendizes em oficinas de mestres em artes sacras.
Por isso, se observam detalhes curiosos em certas esculturas, em que as partes do corpo foram produzidas por várias diferentes mãos. “Alguns eram especialistas em faces, outros em mãos, pés ou tórax e dorsos”, explicou Gil, exibindo, ainda, um Jesus Cristo crucificado com feições claramente indígenas.
De especial interesse para o estudo da Medicina e saúde da época, o palestrante mostrou e comentou imagens de esculturas em madeira policromadas de São Cosme e São Damião, elaboradas em escala humana medindo 1,64 metro de altura. Explicou que, ao invés de espadas (usualmente identificadas nos mesmos que carregam objetos longos e ponteagudos), carregam em uma mão, palmas, que identificam a martirização na idade média e na outra, frascos de medicamentos. Os santos Cosme e Damião, conhecidos também como os santos gêmeos, se santificaram através do exercício da medicina, da oração e da doação aos mais necessitados. Os dois irmãos estudaram medicina na Síria e exerceram o ofício em várias cidades do Oriente Médio por volta do ano 260, e ficaram conhecidos como padroeiros dos médicos, farmacêuticos e protetores das crianças. Juntando sua fé ao exercício da medicina, eles curaram muitos doentes não só fisicamente, mas também espiritualmente, levando-os ao conhecimento de Deus. Segundo o relato, atendiam a cada paciente como fosse o próprio Jesus Cristo, dispensando a eles todo amor e atenção de que precisavam. As caixinhas representam os unguentos e remédios que os irmãos preparavam (https://cruzterrasanta.com.br/significado-e-simbolismo-de-sao-cosme-e-damiao/134/103/).
Em sua íntegra, a derradeira Sessão Cultural de 2021 pode ser apreciada no YouTube, em vídeos no site da ASRM. Clique AQUI para assistir.