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SESSÃO CULTURAL DA ASRM: Exposição com comentários e revelações de Clara Pechansky

Existe, para os apreciadores das artes plásticas, prazer maior do que assistir uma exposição da consagrada artista gaúcha Clara Pechansky, com a beleza característica manifestada em desenhos, pinturas e gravuras em metal?

Sim, existe: uma exposição comentada pela própria autora, como puderam constatar privilegiados participantes da Sessão Cultural da ASRM desta terça-feira (19) em que a convidada especial do evento brindou a todos com as particularidades do seu processo criativo e frases de efeito a respeito da atividade.

“O processo de criação de uma obra de arte é único e tem sua própria história”, costuma dizer aos seus alunos, embora rejeite firmemente o rótulo de professora. “Sou uma orientadora, uma supervisora, jamais intervenho do trabalho do aluno do meu atelier”, garante.

Outra afirmação singular: “O processo de criação não se repete nem se transfere de uma obra para outra. E eu jamais uso borracha para apagar os rabiscos iniciais”.

O nome da apresentação da live, “Fidelidade ao Repertório”, alusivo às raízes da obra da artista, marcada pela figura humana e por temas de impacto social, foi comprovado pelas imagens recorrentes de seus temas prediletos como instrumentos musicais, flores, chaves e imagens bíblicas, presentes em pinturas, desenhos, gravuras em metal e serigrafias.

Clara considera-se, acima de tudo, desenhista, pois foi desenhando capas de livro, para Editora Globo, da capital, aos 21 anos que iniciou a premiada carreira de mais de 65 anos. Conta que somente uma única vez deixou de incluir desenhos em uma exposição de suas obras. “O desenho jamais desaparece no meu trabalho que sempre, inicia com rabiscos que ainda permanecem presentes na obra, dando pistas ao expectador de como começou a obra”, afirma, observando que, por isso, não utiliza linhas retas, mas acentua curvas.

Entretanto, é apaixonada, também, pelo processo de criação da gravura em metal quando trabalha com agulhas delineando traços precisos. Gosta, igualmente, de usar retalhos de tecidos para fazer colagens. “Tudo começa com a escolha da técnica que se vai usar. Mas é preciso confiar no traço e deixar ele fluir, correndo riscos. Na maioria das vezes não sei o que vai acontecer com o desenvolvimento dos rabiscos”.

E porque, afinal, os rostos humanos de Clara não possuem boca? “Não sei mesmo. Em certo momento desapareceram e vi que não faziam falta. Na época da ditadura podia se dizer que os personagens estavam sofrendo censura que não podiam se expressar. Mas foi só meio que coincidência. Não houve essa intenção deliberada. As pessoas podem ver o que quiser”.

Só com as mulheres, porém, compartilha o sentimento da metáfora da gestação, do parto e do puerpério que aplica a criação uma obra de arte, da qual, após concluída, custa a desfazer-se, sofrendo por deixá-la partir para fora do berço do atelier. “Se tenho que expor 12 obras, pinto 24 para que metade continue comigo porque a casa nunca pode ficar vazia”.

Nome fundamental para a história da arte, com obras que já percorreram os cinco continentes, ela nasceu em Pelotas, em 1936, graduou-se Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes de Pelotas (UFPEL) em 1956. Transferiu-se para Porto Alegre em 1957. Cursou Licenciatura em Desenho e História da Arte na Faculdade de Educação da UFRGS (1972). Estudou com importantes mestres, como Aldo Locatelli, Xico Stockinger, Glenio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Anico Herskovits. Realizou mais de 60 exposições individuais no Brasil, Alemanha, Argentina, Bélgica, Colômbia, Espanha, Estados Unidos e Holanda, mostrando pintura, desenho e gravura em galerias e museus. Representou o Brasil em mais de 100 coletivas de Desenho e Arte Gráfica em 20 países, tendo conquistado prêmios internacionais. Suas obras integram coleções particulares e públicas.