Graças à tecnologia da comunicação permitindo acessar a palestra desta terça-feira (13) na plataforma do youtube, “com bastante calma”, como sugeriu a acadêmica Miriam da Costa Oliveira, será possível rever ou desfrutar pela primeira vez sem perder nada do notável conteúdo artístico e histórico exposto pelo convidado especial da Sessão Cultural da ASRM, José Francisco Alves, doutor em História da Arte, escritor, professor e curador.
Ao abordar a temática proposta ” Os monumentos e obras de arte ao livre de Porto Alegre: patrimônio a preservar”, Alves compartilhou o seu profundo conhecimento, em uma apresentação enriquecedora, como anteviu o presidente Luiz Lavinsky ao apresentá-lo, agradecendo a participação honrosa do Professor José Francisco, na viagem cultural sobre a cidade em que se transformaria o evento virtual.
De início, definiu a arte pública como “ocupação de espaços de circulação de público”, geralmente ao ar livre, em busca de um espectador eventual – ao contrário do frequentador de galeria e exposições específicas de arte.
José Francisco dividiu a história da arte pública da capital em quatro grandes períodos, inicialmente com muitas peças elaboradas na Europa e trazidas para o Brasil em longas viagens de navio. O primeiro Periodo, o “surto escultório” ocorreu no início do século XX, centralmente nos anos de 1901 a 1930 com estátuas, fachadas, monumentos públicos e funerários. Despontam, neste Período, entre outras obras, o Paço Municipal, o Palácio Piratini, o Viaduto Otávio Rocha, o prédio dos Correios, a fachada do Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), o Colégio Júlio de Castilhos destruído por incêndio, sedes de bancos, cervejaria.
O segundo Período ocorreu por ocasião do Centenário da Revolução Farroupilha nos anos de 1935/1936, revelado em monumentos, marcos e obeliscos, com patrocínio da prefeitura de Porto Alegre, do governo do estado e de comunidades estrangeiras aqui radicadas. Neste período os monumentos a Giuseppe e Anita Garibaldi foram feitos na Itália e doados ao município.
O terceiro período aconteceu na década de 1970 com as manifestações artísticas públicas acompanhando as obras viárias do “surto desenvolvimentista urbano” da cidade, como viadutos, rotatórias e túneis, utilizando temas históricos, lendários e cívicos através de artistas como Vasco Prado, Xico Stockinger, Carlos Tenius, Paulo Siqueira.
O mais recente e derradeiro foi nos anos 1991/1999 com o projeto “Espaço Urbano, Espaço Arte”, da Prefeitura de Porto Alegre, promovendo concursos para premiar e valorizar artistas em atividade no estado e embelezar a cidade. A iniciativa inspirou outras instituições como hospitais e universidades e mesmo empreendimentos privados.
José Francisco citou instituições com obras importantes em seus espaços internos, como o Hospital Moinhos de Vento e a Faculdade Federal de Ciências da Saúde, ressaltando o papel ativo da então reitora desta Universidade , nossa Acadêmica Miriam Costa de Oliveira, hoje diretora cultural da ASRM.
Neste período, insere-se a dimensão da Primeira Bienal do Mercosul, de 1997, que revitalizou a arte pública com autores internacionais. interrompida em 2016 e retomada em 2018, na gestão do então Presidente, Acadêmico Gilberto Schwartsmann.
Dois monumentos que ele não enquadra na retrospectiva de quatro fases distintas, enunciadas antes, são a Estátua do Laçador, de 1954, e o Monumento ao Expedicionário , de 1957, ambos de autoria do gaúcho Antonio Caringi.
Para a plateia majoritária de acadêmicos, o professor destacou médicos que são escultores contemporâneos reconhecidos, Paulo Aguinsky, Lucio Spier, Frederico Krahe e Paulo Favalli. Igualmente ressaltou a importância da exposição “Arte e Medicina” na qual realizou a curadoria em 2013,
Alves ainda anunciou um novo livro, versando sobre a biografia da estátua O Laçador, e a reedição de uma obra que está esgotada e que teve repercussão internacional especialmente na Espanha, Portugal e França, intitulada “A Escultura Pública de Porto Alegre – história, contexto e significado” (2004).
Na manifestação final, o professor defendeu a importância da preservação do patrimônio artístico público – que ele próprio pratica rotineiramente com suas pesquisas, curadorias de exposições, livros e palestras que divulgam a riqueza artística da capital gaúcha. “O grande desafio, nos espaços públicos, é evitar a destruição do que restou, pois o que ainda resta é um acervo maior e mais significativo que o acervo da maioria das cidades brasileiras”, asseverou.