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SESSÃO CULTURAL: Doenças infecciosas e o impedimento à imigração: o caso do tracoma

A apresentação da médica e historiadora Leonor Schwartsmann na Sessão Cultura da ASRM, na última terça-feira (19), foi tão consistente e exitosa que rendeu-lhe sugestões para cogitar inscrever-se para integrar a entidade.
“A Academia sairia ganhando”, afirmou a presidente Acadêmica Miriam da Costa Oliveira, apoiando ponderação similar do Acadêmico Paulo Roberto Prates.

As manifestações dos acadêmicos, expressas após a abordagem do tema “Doenças infecciosas impedindo a imigração, o caso do tracoma”, variaram do elogio ao nível de aprofundamento da pesquisa à sugestão de avançar em estudos similares sobre outros males, como os que atingem o fígado, conforme solicitado pela Acadêmica Themis Reverbel da Silveira.

Confidenciando que será autora do verbete “tracoma” em um futuro dicionário nacional mapeando as doenças no Brasil, a Dra. Leonor mostrou profundo conhecimento acerca do assunto, proporcionando aos participantes da live um panorama histórico sobre a origem da doença, sua ocorrência e as restrições impostas aos navegadores europeus e escravos africanos que, após longas e insalubres viagens marítimas, buscavam aportar no país. Portando diversas moléstias contagiosas, esses grupos ainda enfrentavam a prática da eugenia.

Com capacidade de contágio direto, o tracoma, que infeccionava os olhos e podia levar à cegueira, começou a ser fiscalizado por lei, de forma rigorosa e pioneira, a partir de 1904 no porto de Santos, estado de São Paulo. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, sob um governo positivista que priorizava a liberdade individual, permitindo inclusive o charlatanismo na medicina, a fiscalização só foi legislada nos anos 1930, durante a gestão de Getúlio Vargas. Isso aconteceu graças à dedicação do médico e parlamentar Victor de Britto, que usava a tribuna da Assembleia Legislativa e as páginas do jornal A Federação para debater o tracoma, que estigmatizava os doentes, em geral pobres, vitimados por habitarem áreas sem saneamento básico. Em 1950, com 30 mil casos cadastrados, a doença era considerada endêmica.

Um dado curioso revelado pela historiadora é que os tratamentos para a doença incluíam sais orgânicos de prata, “pomada amarela”, sulfato de cobre e até terapias com urina de criança.
Hoje, segundo o Acadêmico e oftalmologista Ítalo Marcon, o tracoma é tratado, em regiões remotas do norte e nordeste, com alguns comprimidos de antibiótico azitromicina.

Assista à palestra completa abaixo: