O palestrante da Sessão Cultural da ASRM, o cirurgião oncológico e do trauma José Pio Rodrigues Furtado, foi muito além da temática anunciada do evento virtual desta terça-feira (17) sobre “Médicos Escritores”. O autor de nove romances elaborados na última década incursionou pela literatura universal e nacional e, ao final, tratou do desafio imposto à humanidade a partir da consolidação da Inteligência Artificial.
Segundo ele, a volumosa quantidade de médicos que escrevem, desde a Grécia Antiga, pode ser atribuída às condições e características do profissional da Medicina, notadamente um precioso observador e comentarista dos dramas dos pacientes. “O médico tem, também, necessidade de transmitir, de contar sua experiência e é, ainda, uma pessoa que lê”, afirmou Pio Furtado. “A gente passa por uma prova oral por dia. E, nas respostas que tem que dar, para pacientes ou parentes, usa linguagens diversas do arsenal literário com exemplos e metáforas”.
Ele falou ainda de sua trajetória literária que iniciou com o romance “Neoplasia- O homem e o peso de sombra”, editado em 2013, contando a história de um homem com câncer, e tem no livro “Provência” a mais recente publicação, todas pela Editora Alcance.
Após, tratou das profundas mudanças que a Inteligência Artificial, amparada em algoritmos e no predomínio da automação, acarretará à literatura e à própria vida do homem, frente ao poder das máquinas. “Já existe um romance chamado “The day a computer writes a novel” inteiramente escrito por uma máquina graças ao trabalho de IA liderado pelo professor japonês Hiroshi Matsubara”.
Pio Furtado salientou que enquanto isso não exercitamos mais a memória preferindo recorrer ao Google, delegando à máquina a incumbência de pensar por nós; não lemos mais e conversamos cada vez menos. “No aniversário os amigos não telefonam mais, enviam mensagens de WhatsApp com parabéns desenhos de emojis festivos. É triste”.
Ele até aventa a possibilidade da instituição de um código de conduta e ética, no qual se separe o que é criação literária humana do que produção mecânica. “Sartre dizia que o homem está condenado a ser livre. Mas pergunto: será mesmo, Sartre?”