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SESSÃO CULTURAL: O neurocirurgião e o historiador (ou de doutor a professor e de professor a doutor)

Em meio a brincadeiras, os colegas médicos especulavam se ele não tinha “saído da casinha”. Além das piadas, houve um ‘estranhamento’ até na família, como ele próprio diz. Sem entender bem a mudança de rumo que o Dr. Guazzelli tomava, a funcionária que trabalhava em sua casa e no consultório, Dona Doralice, achava que o graduado em medicina na UFRGS, em 1975, com futuro profissional confortável garantido, tinha sido rebaixado a professor.

O pai, advogado de militância comunista, também não escondia certo desconforto ao reforçar o qualificativo da especialidade médica quando apresentava o herdeiro de carreira desviada. “Este é meu filho, Cesar Augusto, neurocirurgião”, salientava. Não mencionava que César Augusto Barcellos Guazzelli já tinha se decidido a trafegar pelos caminhos da história, deixando o bisturi de lado, depois de 13 anos de jornada na área da Saúde.

E como isso aconteceu?

Talvez um encontro do passado, fortuito e inesperado, em Brasília, com o astronauta russo Yuri Gagarin, tenha despertado a curiosidade histórica do menino de nove anos de idade pela corrida espacial disputada entre Estados Unidos e União Soviética. Conhecia, ali, em carne e osso, o protagonista da história da humanidade que tripulou a nave Vostok 1, como primeiro ser humano a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961. Como não se emocionar ao apertar a mão do pequeno cosmonauta de 1,57m de altura que autografou uma fotografia guardada até hoje como preciosidade inestimável?

Mais determinante, porém, foi sua estadia de seis meses na cativante cidade de Buenos Aires, onde cumpriu um período de estudos, quando entrou em contato com a história dos caudilhos argentinos e conheceu detalhes das vivências nas fronteiras, especialmente no século XIX. Desde então, o porto-alegrense que passou a infância a cavalo e cercado de livros em Vacaria, formado em história em 1987 também na UFRGS, segue aperfeiçoando-se profissionalmente e construindo um sólido legado.

Aos 72 anos, ministra aulas como professor titular, atuando nas áreas de teoria e metodologia da história, história da América e do Rio Grande do Sul, com ênfase nas fronteiras durante o século XIX. Criou a área de História Social do Futebol e o G.T. “Fronteiras e Territorialidades” da ANPUH Nacional.

Escreveu mais de duas dezenas de livros publicados, organizados ou edições, destacando-se O Horizonte da Província: a República Rio-Grandense e os Caudilhos do Rio da Prata (1835-1845), História Contemporânea da América Latina (1960-1990) e À Sombra das Chuteiras Meridionais: uma História Social do Futebol (e Outras Coisas…).

E compartilha com entusiasmo seus conhecimentos.

Foi o que aconteceu, para privilégio dos colegas médicos da ASRM, na última terça-feira, dia 16, na Sessão Cultural da entidade, disponível em vídeo no YouTube, com o título O neurocirurgião e o historiador (ou de doutor a professor e de professor a doutor), com que ironiza, de certo modo, a lembrança do “rebaixamento profissional” que Dona Doralice lamentara.

Assista abaixo à palestra completa do Dr. Cesar Guazzelli: