(este texto não é o original, pois foram suprimidos nomes de pessoas sem mudar a essência do relato)
“A fita branca colocada no pulso sintetizava o tempo vivido: 59 anos, 4 meses e 11 dias. Minha vida até ali fora sempre repleta de emoção, especialmente quando do nascimento dos dois filhos, a intensidade sempre impeliu tudo que fiz na vida, desde criar os filhos, trabalhar, e nas infinitas paixões que tenho desde o Internacional, o surfe, a natação, as corridas, a bike, a pescaria com amigos e caçar no Uruguai, enfim, “vivi como se não houvesse amanhã”. Sempre a mil, até então sem nunca adentrar hospital por qualquer problema de saúde. Antes da pulseira da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre em meu pulso, uma invenção digital, dia e noite, medindo meus passos e batimentos cardíacos. No Garmin o registro: 2.824.754 passos ou 3.441 mil Km em 12 meses. Sim, faço quase tudo a pé, não admitia ter de pegar carro para o escritório, e muitas vezes até para o Trabalho larguei na pernada, de terno e gravata! Não havia distância; outubro foram 8 mil passos/dia.
Buenas, no início de novembro do fatídico 2020, seu terrível olhar me alcançou, sentindo o seu fedido hálito da morte. Depois de duas noites mal dormidas, suspeitando tratar-se de Covid-19 por certa dificuldade em respirar, encaminhei-me a um hospital para saber o que estava havendo comigo; depois de uma madrugada de exames nada fora encontrado de mais grave, apenas “algumas manchas” no pulmão, reforçando a suspeita de Covid-19. Mesmo assim acabei liberado para aguardar em casa o resultado do exame que ficaria pronto no dia 11/11.
Foi aí que entra em ação meu anjo da guarda, na forma de médico/amigo/irmão. Não fosse seu profissionalismo e competência, reconhecidamente como um dos mais competentes Oncologistas do Brasil, médico que professa a cada dia seu amor à profissão no fiel juramento de Hipócrates, não estaria aqui escrevendo essas singelas linhas.
Na quinta-feira 5/11 ligo cedo para ele, amigo desde priscas eras, parceiro de tantas caminhadas, da flauta no futebol – ele gremistão dos quatro costados –, relatando os fatos e da dificuldade respiratória. De pronto sentenciou, “não podemos esperar até dia 11!” “Precisamos saber hoje!” Pedindo para que eu fizesse imediatamente exame em laboratório particular, argumentando que em poucas horas teríamos o resultado. Dito e feito, não tardou o toque no celular indicava a mensagem do laboratório – negativo para Covid-19!
– “Meu amigo, o exame deu negativo”. “Algo está errado”, alertou. “Pedirei para um Pneumologista da minha confiança entrar em contato; fica em casa!” Em seguida uma ligação por vídeo diagnostica: “o problema é no coração!” “Vem logo para a Santa Casa!”. Quê! “Não pode ser” – contrarrazoei – mas dirigi-me para lá.
Na Santa Casa, depois de algum tempo, o primeiro médico que me atendeu lascou de pronto: “teu coração está com problema”. Não havia mais dúvida. O diagnóstico estava correto. Exames posteriores indicavam o rompimento de duas cordoalhas da válvula mitral.
Entra em cena o Cirurgião, sua equipe, e o Cardiologista, que deram todo suporte e atenção. Entre os dias 06 e 10 de novembro fui virado ao contrário para fazer todos os exames para estudar qual a melhor solução para a tal ruptura das cordoalhas. Depois de muita análise, o Homem do Coração da Santa Casa bateu o martelo: “plastia na válvula!”. Técnica aperfeiçoada na Itália por um integrante da equipe, que vem a ser filho do meu primeiro médico conceituado médico em Farroupilha, casado com minha primeira professora. Realmente o mundo é muito pequeno. Justamente o jovem cirurgião, nascido depois que saímos da “segunda entrância” do pai, promotor de justiça, quando viemos residir na Capital.
Dia 10/11 entro na faca, a cirurgia foi um sucesso, tudo facilitado pela excelente condição física não precisando sequer fazer as coronárias por conta da inexistência de gordura nas artérias. Enfim, é isso.
Agradecimentos: Aos amigos médicos, que não encontro palavras para agradecer. Simplesmente porque existem pessoas incomparáveis e imensuráveis. Obrigado, irmãos! Sigamos rindo.
A um grande Pneumologista, de extrema dedicação e humanismo, uma vida dedicada à medicina; que faz da Santa Casa sua casa. Impressionante seu profissionalismo!
Ao Cirurgião-chefe e sua equipe, especialmente ao já gigante jovem Cirurgião Cardíaco que me operou. Ao Cardiologista-chefe, humanista e competente, meu muito obrigado.
Aos médicos da unidade intermediária de Arritmia do Hospital São Francisco.
À todos que me assistiram, pelo genuíno carinho e dedicação. Especialmente àquela que hoje desembarcou na Inglaterra – por tanto amor e dedicação, sem arredar um minuto o pé do lado do pai. I will never Forget!
Ao meu pai e demais familiares, por sua fé e força, sempre um porto seguro e farol a guiar.
Aos colegas de escritório, por todo apoio e carinho.
Aos manos.
Aos amigos do peito, aos colegas de trabalho, outros advogados, amigos e clientes que ficaram diariamente na torcida manifestando carinho e preocupação.
Aos funcionários e médicos da Santa Casa de Misericórdia que diariamente emprestavam um sorriso e palavras de otimismo. Desde o mais simples colaborador até o mais graduado, todos superaram minha expectativa de ser tratado como ser humano e indivíduo dentre as centenas de pacientes assistidos pela Instituição.
“O Valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
As cicatrizes são feitas para lembrar que a luta foi grande e a superação ainda maior. Sigamos.
Ronaldo Farina
(08/12/2020)