O professor Cesar Ávila foi o grande propulsor e orientador da cátedra de Ortopedia e Traumatologia de nossa querida Faculdade de Medicina de Sarmento Leite Leite.
Cesar Ávila foi uma das mais lúcidas inteligências que surgiram em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, foi, indubitavelmente, cirurgião dos mais categorizados em todo o país. Alvo da atenção dos seus contemporâneos, médicos ou não, teve a sua personalidade pontilhada com extensa gama de adjetivos elogiosos, restritivos e até agressivos.
Já na infância de Cesar, compareceram algumas contradições. Nasceu prematuro, teve a infância frequentada pelas doenças próprias da época e perturbada pela insuficiência de conhecimentos da medicina antiga. Malgrado tudo, tornou-se homem bem desenvolvido, de boa aparência física e espantosa resistência ao esforço e ainda dotado de apreciável sensibilidade moral. Fez vestibular e curso médico na Faculdade Nacional do Rio de Janeiro. O que mais lhe interessou e provocou grande admiração foi a Assistência Pública do Rio de Janeiro, em que a prática e a urgência formavam uma medicina mais ativa e mais didática do que as oferecidas pelas Santas Casas, onde o velho professor às vezes mais cansado, passava o ensino ao seu assistente.
Ajudá-lo em ato cirúrgico era prazer excelso: capacidade técnica, tática precisa no momento exato, na cirurgia para o tratamento da tuberculose, eliminação de aderências impedientes de pneu motórax, policostectomia de Saeurbruch com a sua brutalidade atenuada.
Na área médica, nenhum atentado a ética, deslize algum na técnica e na tática cirúrgicas, inteira indiferença pela crítica dos colegas, total despreocupação pelo próprio prestígio, quando certas atuações se impunham.
Além de seu gosto pelo jogo, da sua queda pelos boêmios, pelas longas e inócuas conversas em mesas de bar, Cesar se interessava pela política, bem entendido em nível superior. Em suas clínicas de cidades do interior, observava com os seus próprios olhos o grande abismo que existia entre a situação dos humildes e ignorantes peões de estâncias e seus patrões, muitas vezes indiferentes a qualquer preocupação de justiça social. Poderia Cesar Ávila ter sido um elemento eficaz do Partido Comunista? Absolutamente não. Não saberia ser opaco, trancafiar segredos, perseguir adversários e outras atitudes diversas ao seu temperamento e que o partido tanto desejava. Um grande homem e um grande médico.
Cezar Ávila morreu no dia 19 de fevereiro de 1974. Nos seus últimos tempos, não esqueceu que era um intelectual, continuou escrevendo e pintando, embora já abandonado pela inteligência, já mergulhado na neblina anunciadora da morte.