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Cadeira 18

Décio de Almeida Martins Costa

O doutor Décio de Almeida Martins Costa nasceu em 15 de agosto de 1900, em Porto Alegre, filho de José de Almeida Costa

Jr., de profissão Advogado e de Maria do Carmo de Carvalho Martins Costa. Fez o curso primário e ginasial no colégio Anchieta, e, após um concurso de seleção, iniciou, aos 16 anos, o de Medicina, tendo obtido o diploma de Doutor em 1922, defendendo tese, que foi aprovada com distinção (grau 10).

Começou sua atividade profissional em Lageado onde permaneceu 6 anos. Em 1928, especializou-se em Pediatria com o professor Martinho da Rocha no Rio de Janeiro.

De 1929 a 1930, permaneceu em Berlim no Hospital Charité Kinder Klinik com o professor Adalbert Czerny, que, na época, era a maior expressão da Pediatria mundial.

Em 1932, submeteu-se ao concurso para obter o título de Livre Docente de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil. Defendeu tese “Da Tuberculose no Terreno Sifilítico”, tendo sido aprovado novamente com distinção. Após, foi nomeado Assistente da Cátedra de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil da UFRGS.

Em 1938, voltou a Berlim para adquirir novos conhecimentos em Pediatria acompanhando os cursos dos professores Opitz, Bessan e Zeller, os quais foram interrompidos pelo início da 2ª Guerra Mundial.

Em 1940, foi nomeado Diretor do Ambulatório de Crianças da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Em 1953, foi nomeado Diretor do Hospital da Criança Santo Antônio.

Durante 41 anos, dedicou-se, intensamente ao ensino, ao atendimento dos seus pacientes e às crianças pobres, ao Hospital da Criança Santo Antônio e à política.

Exerceu, com entusiasmo, o ensino da Pediatria nos Ambulatórios da Santa Casa e Hospital da Criança Santo Antônio, onde Médicos e estudantes completavam sua formação pediátrica para após, exercerem sua profissão com eficiência. Durante 15 anos, proporcionou aos doutorandos, no fim do ano, um curso com aulas de aperfeiçoamento sobre os mais variados temas de Pediatria: Recém-nascidos, Puericultura, Doenças Infecciosas e com ênfase especial aos assuntos pedagógicos, problemas emocionais e psicológicos da infância. O ensino baseava-se muito sobre a bio-estatística e era enriquecido pela sua grande experiência profissional. Por estes ambulatórios, verdadeiras forjas, passaram e deles saíram substancial parte do brilhante grupo de especialistas que labutam em todos os recantos do Estado.

Além desta atividade de ensino na Faculdade, ministrou no Departamento Estadual de Saúde, por vários anos, cursos de aperfeiçoamento aos médicos sanitaristas destinados ao Serviço de Assistência à Maternidade e à Infância. Ainda ministrou aulas de Puericultura e Assistência à Infância no Curso de Samaritanos da Cruz Vermelha Brasileira.

De 1943 a 1955, no Instituto de Educação, exerceu a Cátedra de Puericultura, tendo declarado: “ter intencionalmente disputado, em concurso, a Cátedra de Puericultura naquele estabelecimento, ponto estratégico a ser atingido por um Pediatra preocupado com os problemas sociais, dado o papel saliente que as professoras primárias devem realizar num plano de sadio desenvolvimento da consciência sanitária do povo”.

Aos trabalhos científicos publicados, deu sempre um intenso cunho social, como: “Da Importância do Aleitamento Materno”; “Dos Direitos da Criança ao Seio Materno”. Porém, o que mais se destacou pela sua originalidade das conclusões foi sobre a “Mortalidade Infantil no Rio Grande do Sul, Importância da Densidade Demográfica no Estudo do Problema”. Foi apresentado no Congresso Latino-Americano de Pediatria realizado em 1950, na cidade de Montevidéu.

Teve uma intensa vida profissional, atendendo diariamente, todas as manhãs, inclusive aos domingos após a missa, as crianças pobres do Hospital da Criança Santo Antônio. À tarde, no seu consultório, atendia seus pacientes e amigos vindos de todos os recantos do nosso Estado. Frequentemente, atendia casos graves em que, com sua inteligência, sua cultura e sua longa experiência, elucidava o diagnóstico. Quando a cura não era possível, o carinho e a dedicação amenizavam muito o sofrimento dos familiares e do doente – com sua atenção e com suas palavras, exercia plenamente a medicina como um verdadeiro sacerdócio.

Desde os tempos acadêmicos, pertenceu ao Partido Libertador, em cuja organização era figura proeminente. Exerceu o mandato de Deputado Estadual Constituinte de 1935 a 1937. Concorreu à deputação Federal pelo Partido Libertador em 1945. Foi candidato do P.L. e da U.D.N. ao Governo do Estado em 1947 e em 1950, concorreu ao Senado da República, obtendo em todas as eleições apreciável número de votos.

Motivado pelo sucesso alcançado pelos seus trabalhos científicos publicados sobre a mortalidade infantil, resolveu dedicar-se ao término da construção do Hospital da Criança Santo Antônio, que se arrastava por mais de uma década. O Hospital, com suas modernas instalações de Ambulatório e Enfermarias e Centro de Ensino onde trabalhavam dezenas de alunos, médicos e professores, tendo também um trabalho conjunto com a Secretaria da Saúde, certamente resultaria, como mais tarde os índices demonstraram, em uma importante redução da mortalidade infantil.

Foi durante 10 anos o Diretor do Hospital da Criança Santo Antônio, tendo sido inaugurada uma placa de bronze comemorativa em sua honra no dia 19 de março de 1963 com os seguintes dizeres: “Ao eminente Prof. Décio Martins Costa, a homenagem da Santa Casa de Misericórdia, de todos os colaboradores e a gratidão das crianças pobres do Rio Grande do Sul”. Naquele momento, assim ele se manifestou: “Como me faz bem este momento, Sr. Provedor, 10 anos decorridos na atividade deste Hospital, eu poder dizer, que não tive sequer um incidente com um colega deste Hospital. Ninguém deu margem a isso, todos compreenderam da mesma maneira, como deveriam cumprir o dever”.

Na manhã do dia 26 de agosto de 1963, falecia subitamente, na Faculdade de Medicina da UFRGS, ao apresentar um professor alemão de Pediatria que iria proferir uma conferência sobre Anemia na Infância. Não morreu nos corredores do Hospital da Criança Santo Antônio como chegara a prever, mas na Escola de Medicina onde estudou, em cujos corredores ele começou sua incessante atividade política, e que também era, certamente, uma parte do Hospital, diante da mocidade que ele estimava, próximo aos seus queridos e fiéis companheiros de trabalho e seus antigos alunos.