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Cadeira 19

Dyonélio Tubino Machado

Em 21/8/1895, em Quaraí, dois anos antes do fim da Revolução Federalista, nasce Dyonélio Machado, filho de Silvio Rodrigues Machado, funcionário de um saladeiro, e Elvira Tubino Machado. Aos 7 anos, perde o pai, assassinado a facada em um episódio até hoje pouco esclarecido. Um ano após, em 1903, começa a trabalhar vendendo bilhetes de loteria, com o que ajuda nas finanças familiares. Para conseguir matrícula para si e para o irmão menor na Escola de Aurélio Porto, recentemente aberta na cidade, toma o encargo de monitor das turmas mais atrasadas. Já completara 12 anos quando foi admitido como servente no jornal semanário O Quaraí e pouco depois balconista da livraria de João Antônio Dias, um seu parente. Dyonélio teve uma infância pobre, mas cercada pela palavra, seja na escola, no jornal ou na livraria.

Em 1912, aos 16 anos, deixa Quaraí e chega a Porto Alegre, cidade que contava na época com 180.000 habitantes. Permanece em Porto Alegre até 1914, quando, por ocasião do início da I Grande Guerra, retorna a Quaraí. Em 1921, aos 25 anos, casa-se com Adalgiza Martins, professora de música

Em 1924, aos 29 anos, inicia seus estudos na Faculdade Porto-Alegrense de Medicina. Sua atuação como estudante foi impecável, só raramente obtendo nota inferior a 8. Em 1928, aos 33 anos, faz concurso público para funcionário do Hospital São Pedro, classificando-se em primeiro lugar. No Hospital São Pedro, trabalhou durante trinta anos. Em 1929, obteve seu diploma de Médico e, em 1930 e 1931, especializou-se em Psiquiatria, no Rio de Janeiro. Desde então, passou a exercer sua profissão, em consultório particular à tarde e no Hospital São Pedro pela manhã. Entre 1933 e 1944, publicou os seguintes trabalhos: Uma definição biológica do crime; Eletroencefalografia: alguns aspectos; Traumatismo não craneano e afecção orgânica do encéfalo; Neurose traumática.

Manteve durante toda a sua vida uma posição de esquerda, o que lhe causou muitos dissabores. Assim, em 1934, é envolvido na greve dos gráficos da Livraria do Globo, em protesto pela dissolução da Aliança Renovadora Nacional. É preso em quartel militar, na Praia de Belas. Solto, vai para o interior ajudar uma sobrinha doente. Volta a ser preso em 1935, por ocasião da Intentona Comunista. É enviado para o Rio de Janeiro, onde conhece Graciliano Ramos. Em viagem, prisioneiro, vem a saber que “Os Ratos”, seu primeiro romance, acabara de receber o Prêmio Machado de Assis, sendo publicado no mesmo ano. Regressa a Porto Alegre em 1937, no mesmo dia em que ocorre o golpe do Estado Novo. Decidido a não ser preso novamente, foge pelo litoral do RS até Santa Catarina com falsa identidade. Em 1947, é eleito Deputado Estadual Constituinte

pelo Partido Comunista Brasileiro, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Em Memórias de um Pobre Homem, publicado postumamente, Dyonelio se refere aos episódios de prisão, ainda que rapidamente, uma vez que ele se dizia infenso às reminiscências pessoais.

Em 1902, aos 7 anos, escreveu os primeiros versos: um poema intitulado “As Calças do Barbadão” sobre um episódio que envolvia pobreza familiar e a costura de uma calça. Aos 16 anos, funda em Quaraí, o jornal “O Martelo” e, em 1912, ingressa numa república de estudantes, onde conhece Alceu Vamosy. “Formávamos um singular grupo a que pertenciam, além do Wamosy, o Souza, o Almir, o Hermínio, o Santana e quejandos — um garçon (o Carlos), um cachorrinho e a lua (…) Esses rapazes reuniam-se no meu ‘quarto’, uma peça pobre de estudante, o tabernáculo da mais sã, da mais efusiva, da mais fluente verve que jamais se produziu em Porto Alegre. A nossa fantasia brilhava mais que um archote. Praticávamos o trocadilho, a sátira, a anedota, mas, sobretudo, fazíamos blague, cousa nova, que inventávamos para o nosso uso e que consistia numa estranha mistura de trocadilhos, anedotas, versos alexandrinos, cafezinhos e caricaturas. Líamos muito e cultuávamos o banho diário e o asseio das unhas. Dávamos o exemplo da mais sólida e desinteressada amizade. Entre nós, o socialismo de bens tomara a sua cristalização definitiva e triunfante…” (Apud TILL, Rodrigues. Dyonelio Machado: o homem – a obra. ERF Edições, 1995: 40)

A partir de 1915, passa a colaborar permanentemente com a imprensa, em especial do RS: escreveu artigos para a Gazeta do Alegrete, Correio do Povo, Diário de Notícias e Diário Carioca e muitos outros. A partir de 1923, começou a publicar seus numerosos livros:

1923 – Política Contemporânea (ensaios políticos); 1927 – Um Pobre Homem (contos); 1935 – Os Ratos; 1942 – O Louco do Cati; 1944 – Desolação; 1946 – Passos Perdidos; 1966 – Deuses Econômicos; 1980 – Prodígios; Endiabrados; 1981 – Sol Subterrâneo; Nuanças; 1982 – Fada; Ele Vem do Fundão.

Em 1979, recebe o Prêmio Especial de Crítica de São Paulo e é empossado na Academia Rio-Grandense de Letras, na Cadeira de Eduardo Guimarães.

Em 1983, o romance “Os Ratos” é editado na França e, em 1985, D. Adalgisa recebe do governo francês a Comenda Ordre des Arts et des Lettres, concedida poucos dias antes da morte de Dyonelio.

Durante sua vida, recebeu as seguintes distinções literárias: Prêmios Machado de Assis, Felipe D’Oliveira, Jaboti e Fernando Chinaglia. Dyonélio Machado teve uma preocupação básica em todas as suas atividades: o ser humano oprimido. Resumindo sua vida, Artur Madruga assim se expressa: “foi na medicina que teve seu sustento; na política, seu tormento e na literatura, seu alimento”.

Faleceu em Porto Alegre em 19 de junho de 1985 aos 89 anos de idade.