A dimensão da vida de um homem não está somente no que ele faz mas também no exemplo que ele deixa, pois a vida é feita de memórias e a lembrança é um forma de encontro – o que morre não desaparece, só o que é esquecido.
“Um homem se torna sábio quando adquire três qualidades: não desprezar quem estiver abaixo dele, não invejar quem estiver acima dele e não comercializar seu saber”.
Sem dúvida, este é o perfil de João Guilherme Valentim, médico, cujas características humanas marcaram sua trajetória na história médica de sua cidade adotiva. O seu universo está ainda muito perto de nós. Acreditou mais no contato humano que em todos os diplomas do mundo; seu maior valor eram as pessoas.
Nasceu em Santa Maria da Boca do Monte em 30 de abril de 1893, filho de Guilherme Valentim e Emília de Carvalho Valentim. Órfão muito cedo, sentiu-se responsável pela família. Seu primeiro emprego em uma farmácia despertou sua atenção pela medicina e sua sensibilidade concentrou seu foco nos mais humildes. Transferiu-se aos 14 anos para Porto Alegre. Embora trabalhando em escritório de engenharia – Viação Férrea do Rio Grande do Sul – e conquistando a amizade e simpatia de seus superiores, nada demoveu o médico em potencial de seu objetivo.
Toda grande caminhada começa com o primeiro passo; partiu para o interior do Estado, – mais precisamente Sananduva —. De regresso a Porto Alegre casou-se com Eldira Cirne Candiota com quem teve 5 filhos.
Não procurou ser onipresente. Trabalhou sempre com carinho, modéstia e competência. Sua autoridade e presença eram puramente carismáticas. Chegava ao essencial com a profunda sabedoria da simplicidade e da nobreza. Substituiu o Prof. Dr. Alberto de Souza no Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia, sendo simultaneamente o Chefe do mesmo Serviço na Beneficência Portuguesa. Limitado por motivo de saúde – conforme carta datada de agosto de 1935 e dirigida a então Diretoria da Beneficência Portuguesa – solicitou a demissão deste cargo optando pelo primeiro “pois não seria elegante escolher um serviço remunerado em detrimento de outro gratuito, parco de recursos e necessitado de seus esforços”, conforme sua justificativa.
O princípio que norteou sua vida é hoje lema de seus descendentes, ressaltando a humildade e a grandeza do ser humano e destacando que sábio não é quem ensina mas quem aprende. Inovou a especialidade em vários aspectos, usando sua numerosa clínica não só pra praticar o bem mas para aprender pela experiência, sendo reconhecido líder da especialidade na sua época.
Aos 84 anos, entrevistado sobre seu pioneirismo em desvincular a especialidade de oftalmologia da de otorrinolaringologia, sua confessada e humilde conclusão foi a seguinte: “acho que progredi, nunca tive vergonha de aprender”.
Duas homenagens foram registradas após sua morte: Em Porto Alegre no Instituto Rio-Grandense de Ciências e Letras, por meio de seu Presidente Dr. Fernando Palmeiro da Fontoura e nos Anais da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional por solicitação do Dep. Célio Marques Fernandes. A primeira em outubro de 1978 e a segunda no Diário Oficial da União em 17 de maio de 1977.
Faleceu em 11 de maio de 1977, aos 84 anos de idade. Entre seus descendentes encontram-se um filho e dois netos médicos otorrinos, um médico anestesista e um médico neurocirurgião.