João Lisbôa de Azevedo, nasceu em Porto Alegre em quatro de setembro de 1893. Era filho de João Baptista Ferreira de Azevedo e de Clarice Azambuja Lisbôa. Seu pai, comerciante na capital gaúcha, faleceu aos 36 anos, quando o futuro doutor João Lisbôa contava seis anos de idade. Eram seus avós paternos o comendador João Baptista Ferreira de Azevedo e Generosa Barcellos Ferreira de Azevedo e avós maternos o comendador Francisco Pereira da Silva Lisbôa e Juliana Mafalda d’Azambuja Lisbôa. Era descendente direto de Jerônimo de Ornellas de Menezes e Vasconcellos, um dos primeiros povoadores da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, pai da primeira mulher branca nascida em terra rio-grandense, Gertrudes Barbosa de Menezes, e proprietário das terras em que está situado o centro da cidade de Porto Alegre.
Iniciou seus estudos no Colégio Anchieta de Porto alegre e “era um estudioso, o primeiro da aula, o orgulho dos professores, estudava pelo prazer enorme de saber e se salientava não para fazer jus aos prêmios do colégio e da família, mas como um imperativo da vontade e da inteligência, sabia fazer do cérebro a razão de ser da própria vida” (Correio do Povo, abril de 1945). Concluiu o secundário no Anchieta em 1911 e ingressou na Faculdade de Medicina de Porto Alegre em 1912. Foi interno das clínicas oftalmológica do professor Victor de Britto; oto-rino-laringológica do professor Julio Velho; e médica dos professores Luiz Masson e Octavio de Souza. Durante o curso, foi auxiliar praticante do Instituto Oswaldo Cruz. Formou-se médico em 1917 e sua tese de doutorado “O Tono Vago-Sympáthico na Demência Precoce” foi aprovada com distinção por banca examinadora constituída pelos professores: Heitor Annes Dias (presidente), Froes da Fonseca e Luiz Guedes. Em 16 de abril de 1923, foi nomeado professor assistente da cadeira de Clínica Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina de Porto Alegre.
Dedicou-se por mais de cinqüenta anos à Santa Casa de Misericórdia. Nela, iniciou suas atividades quando estava no terceiro ano da faculdade e atendia pacientes da 9ª Enfermaria. Em 1920 passou a adjunto e logo a titular dessa enfermaria. Foi médico chefe e diretor de várias enfermarias e o estágio dos alunos no último ano da Faculdade de Medicina era orientado por ele. Foi diretor geral das clínicas hospitalares, membro de várias mesas administrativas e eleito diversas vezes para o Conselho dos Irmãos Definidores da Santa Casa. Dela recebeu todos os títulos honoríficos: Irmão (1926), Irmão Benemérito (1952), e por fim Irmão Grande Benemérito (1966), “considerando a dedicação e o espírito humanitário que sempre demonstrou no desempenho de suas atividades profissionais, o altruísmo de seus serviços e, sobretudo, a abnegação com que colocou sua enfermaria à disposição da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre”. Em 10 de agosto de 1973, a Santa Casa prestou-lhe uma homenagem: a Enfermaria 35 de Clínica Médica passou a chamar-se Enfermaria João Lisbôa de Azevedo.
Para manter de forma mais completa o segredo profissional, estudou estenografia e passou a usar um código pessoal para registro de dados nas fichas de seus pacientes. Exímio valorizador da semiologia francesa, procurava obter através dos sentidos tudo o que fosse útil para chegar a um diagnóstico. Auxiliado por aparelhos na avaliação da pressão arterial, apenas complementava com eles a ausculta cardíaca e a minuciosa tomada dos pulsos nas artérias, valorizando todas suas características, bem como sua evolução na patologia tratada. Gratificava-se, intimamente, ao verificar que a pressão arterial registrada pelo esfigmomanômetro aproximava-se muito da estimada pelo seu exame. Pela sua reconhecida competência, passou a ser o médico de seus professores, colegas, com suas respectivas famílias, bem como de grande número de religiosos. Quando ia para Torres não descansava de todo, pois passava a médico da colônia de pescadores de Cidreira e Torres durante os meses de verão e amparava com medicamentos e agasalhos a todos os necessitados. Era dono de rica biblioteca e dominava vários idiomas. Legou seus livros de Medicina ao doutor Antônio Milhein, seu amigo e médico assistente, que doou à Santa Casa, os escritos em alemão.
Participava das atividades associativas na Sociedade de Medicina de Porto Alegre e foi o tesoureiro da primeira diretoria no início do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, sob a presidência do doutor Gabino da Fonseca. Simples, modesto, era incapaz de ostentar riqueza ou buscar vantagens pessoais. Mas gostava de carros e dirigia com muita segurança o seu Jaguar. Jogador de golfe, caminhava muito e isso certamente contribuiu para a sua longevidade. Muito ativo, depois dos 80 anos de idade, caiu do telhado de sua casa assobradada quando tentava consertar a antena da televisão. Machucou-se sem gravidade.
Casou-se em 20 de julho de 1921 com Maria de Barcellos Menezes, neta materna do doutor Ramiro Fortes de Barcellos, ilustre médico, político e escritor rio-grandense. Dona Maria, durante os 63 anos de convivência matrimonial, sempre o acompanhou nas campanhas em prol da Santa Casa e dos menos favorecidos, sobretudo os pobres da Ilhota, berço de Lupicínio Rodrigues, Tesourinha e da Liga dos Canela Preta, de importância histórica no futebol e na cultura negra de Porto Alegre. Do casamento, nasceram quatro filhos: Clarice, casada com Armando Pinto da Fonseca Guimarães; Maria Luiza, casada com Mário Lobo Aragon; Beatriz, casada com Osmar Caleffi e José de Azevedo, falecido tragicamente em Torres aos 19 anos de idade. Ao falecer em sete de agosto de 1984, com 91 anos de idade, o doutor João Lisbôa Ferreira de Azevedo deixou 11 netos e 15 bisnetos.