Mário do Amaral Araújo nasceu na cidade de Pelotas, a 21 de maio de 1893. Filho de Francisco José Rodrigues de Araújo e de D. Albertina Amaral. Seu pai, farmacêutico, formado no Rio de Janeiro, era figura de destaque nos meios sociais e científicos de Pelotas. Foi fundador do Colégio Pelotense e da Faculdade de Farmácia e Odontologia, onde lecionou por longo tempo. Foi também professor de Zootecnia na antiga Escola de Agronomia Eliseu Maciel.
Mário Araújo foi para o Rio de Janeiro estudar Medicina. Em 1915, interrompeu seus estudos a fim de se juntar à missão de médicos brasileiros que, liderada por Nabuco de Gouveia, seguiu para a Europa por ocasião da Primeira Grande Guerra Mundial. Após um período de permanência no Velho Mundo, regressou ao Rio de Janeiro, reiniciou seus estudos, tendo se formado em 1917 pela antiga Faculdade Nacional de Medicina.
Regressando a Pelotas, começou a acompanhar Nabuco de Gouveia em suas idas a Bagé para realizar cirurgias e lá resolveu fixar residência. Trabalhou durante algum tempo na Santa Casa de Caridade de Bagé, cujo serviço de cirurgia havia sido organizado por Nabuco de Gouveia. Mais tarde, arrendou o prédio da Sociedade Portuguesa de Beneficência e montou ali um serviço médico-cirúrgico que logo granjeou renome, não só em Bagé, como em todo o Rio Grande do Sul.
Inquieto e batalhador, não estava ainda satisfeito com sua obra. Via falhas com as quais não se conformava: o prédio onde estava trabalhando já não comportava o desenvolvimento enorme de sua clínica. Via também que um prédio para obedecer às condições clássicas de um moderno hospital, com capacidade para comportar e bem alojar os enfermos, com serviços bem distribuídos, permitindo a criação de novas seções, deveria ser construído sob uma correta orientação. Foi o que fez. Realizou o sonho que, segundo ele próprio declarou, vinha acalentando desde os tempos de juventude: criou seu próprio hospital, a Casa de Saúde Dr. Mário Araújo, inaugurada a 14 de julho de 1940.
São suas estas palavras, pronunciadas por ocasião da inauguração de sua Casa de Saúde: “Esta Casa de Saúde é resultante de um sonho acalentado desde os bancos acadêmicos. Certamente não se igualam sonhos e realidades, maximé quando aqueles provêm da mocidade cheia de risonhas esperanças e de amenas ilusões; esta realidade se concretiza num declínio da vida, como resultante de ingentes esforços em prol de um ideal. Sonhos de mocidade lembram claras manhãs primaveris em todo o seu radiante e luminoso esplendor: tudo são esperanças e alegrias. O despertar post-meridiano da realidade recorda o entardecer, as sombras dos crepúsculos vespertinos, a descida do sol para o ocaso, a marcha para o silêncio e para as trevas. No ciclo da vida, contamos com uma só risonha madrugada e um único crepúsculo vespertino.
Na curta trajetória, cumpre ser útil, agindo rapidamente, saltando obstáculos, rodeando dificuldades para atingir os fins colimados, na ânsia de dar à existência uma finalidade útil e digna.”
Mário Araújo procurou sempre observar seus mestres, vendo-os trabalhar, estudando-lhes os métodos e seguindo-lhes a orientação, a fim de adaptá-los à sua própria vida profissional. Visitou e frequentou inúmeros hospitais, no país e no estrangeiro, fez acuradas observações e lançou-se ao arrojado empreendimento: dotar Bagé de uma modelar Casa de Saúde.
Disse ele na ocasião: “a cirurgia bageense tem grandes responsabilidades; aqui trabalharam profissionais da envergadura de Daniel de Almeida, Nabuco de Gouveia, Brandão Filho e Paulo de Rio Branco.”
A par de seu acurado preparo científico e grande habilidade cirúrgica, Mário Araújo possuía um incomum senso de humanidade e desprendimento. Criou em sua Casa de Saúde enfermarias e seções para indigentes que eram atendidos com o mesmo carinho e dedicação. O Pronto Socorro do Hospital, com moderníssimas instalações e aparelhagem, servia quase que exclusivamente às populações de parcos recursos. Sua capacidade profissional e sua benemerência eram por todos decantadas. Um jornal da época, comentando sobre a personalidade do ilustre cirurgião, diz: “o Dr. Mário Araújo trouxe do berço, com doação paterna, a predestinação de ser um benfeitor e, como tradição de família, o devotamento a seus semelhantes”.
A Casa de Saúde, como era de se esperar, logo ganhou fama, estribada em suas modernas instalações e na inegável tenacidade e competência profissional de seu idealizador. Tornou-se, assim, um centro de referência de toda a região.
Mário do Amaral Araújo casou-se com D. Clélia Osório Gomes em 1919. Faleceu em Bagé, a 22 de janeiro de 1956, aos 62 anos de idade. Teve a felicidade de ver materializado o ideal com que sempre sonhou e pelo qual sempre batalhou: criar em Bagé um centro cirúrgico, cujas benesses se estendessem, indistintamente, a todas as classes sociais de uma vasta região do Estado, tudo dentro dos mais apurados padrões técnicos existentes na época.
Inteligência privilegiada, espírito empreendedor, batalhador incansável, cirurgião de escol, cidadão benemerente, Mário do Amaral Araújo legou a todos um bem muito maior: o seu exemplo de vida.