Nasceu o Dr. Mário Totta em Porto Alegre, no dia 5 de janeiro de 1874, sendo filho de Augusto Rodrigues Totta e Dona Emília Ribeiro.
Médico e literato, poeta e ativo batalhador nos meios sociais para a melhoria do nível social e econômico do indivíduo, o Dr. Mário Totta iniciou sua vida modestamente, depois dos estudos primários, a partir de 1882, com apenas oito anos, com os professores Jesuíno dos Santos e, a seguir, Dona Maria das Dores. Seguiu, também os cursos do Colégio São Pedro, dos irmãos Castilhos, onde completou o curso secundário, ao mesmo tempo em que se iniciava em trabalhos comerciais, como caixeiro da Livraria Americana. Os preparatórios, fê-los com o Prof. Dr. Alfredo Clemente Pinto.
Foi como caixeiro que publicou sua primeira poesia num jornalzinho de propaganda da Livraria Americana, em 1892, contando 18 anos de idade. Também por essa época colaborava na imprensa, em especial, no Jornal do Comércio, dirigido por Aquiles Porto Alegre. Trabalhava, na época, nesse órgão de imprensa o moço Caldas Júnior, casado com uma filha do diretor do jornal, ao qual Mário Totta logo se ligou por estreitos laços de amizade. Saindo Caldas Júnior da redação do Jornal
do Comércio, por divergências com o sogro, acompanhou-o Mário Totta, e Paulino de Azurenha também os seguiu, fundando os três, mais tarde, o Correio do Povo (1º de outubro de 1895).
E começou a grande carreira literária do jovem poeta, totalmente integrado no grupo intelectual e boêmio da época. Em 1897, publicava, com Souza Lôbo e Paulino de Azurenha, o romance que causou escândalo – Strychinina, (Estriquinina) – editado pela Livraria Americana.
Embora não fosse político militante, sempre se dedicara à política de Júlio de Castilhos, o que lhe valeu, com a assunção ao governo do Estado pelo Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros (25 de janeiro de 1898), a nomeação para Secretário Geral da Instrução Pública, que exerceu durante algum tempo, enquanto estudava Farmácia.
Casou a 16 de maio de 1901 com Dona Alaíde Olivais, e em seguida se formava farmacêutico.
Descontente, entretanto, e querendo subir cada vez mais, ingressou na Escola de Engenharia, onde completou o 1º ano, mudando, a seguir, para a Faculdade de Medicina cujo curso completou com brilhantismo.
Ainda quintanista de Medicina, foi nomeado Interno da Santa Casa de Misericórdia, tendo sido o primeiro a ser nomeado para aquele estabelecimento de caridade, por proposta do Prof. Protásio Antônio Alves, Diretor, então da Sétima Enfermaria – Cirurgia Geral de Mulheres.
Formou-se em 1904, integrando, assim, a primeira turma de médicos graduados pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre. No ano seguinte, era nomeado médico-adjunto do Ambulatório da Santa Casa de Misericórdia, e logo depois Assistente da Cadeira de Clínica Obstétrica e Ginecológica da Faculdade de Medicina.
Continuando na Santa Casa, ali exerceu os mais diversos postos médicos, culminando com sua eleição de Irmão da benemérita Instituição a 19 de janeiro de 1909.
No ano seguinte, a 24 de dezembro, depois de séria preparação, criou o Natal das crianças pobres, realizado na Santa Casa de Misericórdia. Em 1917, criava a campanha dos agasalhos para os pobres.
Enquanto isso, não descurava suas atividades de médico, quer na Santa Casa, quer no consultório, que sempre tinha cheio de clientes. Foi um dos médicos mais queridos de Porto Alegre. Entretanto, ao falecer, praticamente nada deixou, pois a Medicina, para ele, não era meio de vida, mas meio de cooperar para a saúde e melhoria de vida do ser humano. E nesse sentido foi que sempre trabalhou e exerceu a Medicina.
Dinâmico ao extremo, outros cargos aceitou, como o de Diretor do Gabinete de Identificação e professor de Higiene da Escola Normal. Foi a maternidade da Santa Casa a instituição mais beneficiada pelo seu espírito empreendedor e generoso. Quando ali começou a exercer suas funções, em 1908, escandalizou-se com as instalações para atendimento às mulheres grávidas, que eram alojadas junto às parturientes, puérperas e pacientes infectadas. As gestantes para as quais não houvesse leitos, vagavam durante o dia pelo hospital e, à noite, dormiam na enfermaria em que sobrasse leito. Em 1931, inaugurava-se, pelos seus esforços, uma estrutura totalmente diferenciada. No entanto, o aumento da demanda e o espírito inquieto do doutor forçaram mais uma etapa na história da maternidade da Santa Casa: a construção de novo edifício, o pavilhão Daltro Filho. Em 1940, fazendo-se justiça à atuação devotada deste Patrono da Academia Sul-rio-grandense de Medicina, a maternidade recebeu o nome de Mario Totta, que a ela se referiu: casa da mãe e do filho… Deus concedeu-me a graça de não me deixar morrer sem que eu visse realizado o sonho pelo qual trabalhei com amor durante tantos anos.
Desde 1912, Mario Totta foi professor catedrático da Cadeira de Patologia Geral da Faculdade de Medicina, tendo exercido, também, o cargo de professor substituto da Cadeira de Clínica Obstétrica da mesma Faculdade, cargo este que exerceu de 1916 a 1924.
Aposentou-se das suas atividades como professor da Faculdade de Medicina em 1942, sendo-lhe conferido então o título de Professor Emérito pela Congregação da mesma.
No campo da Medicina, foi sócio fundador do Sindicato Médico do Estado. Membro da Sociedade de Medicina de Porto Alegre, foi seu presidente.
Em toda a parte, via-se a personalidade calma e serena de Mário Totta, sempre reclamada e solicitada, em salões sociais, em sociedades desportivas, em campos de futebol, em conferências, assistindo ou realizando, em exposições, na imprensa com artigos seguidos, conselhos médicos, poesias e crônicas, Diretor de Enfermarias, depois efetivo da Maternidade da Santa Casa de Misericórdia, mesário da mesma Santa Casa, mordomo dos expostos da mesma, nas montras das livrarias com obras de medicina, obras de poesia, como “Meu Canteiro de Saudades” publicados pela Globo, em 1938, em memória de sua esposa, recém-falecida, e assim continuou, num dinamismo exemplar, até que, cansado, exausto, mas sempre disposto, a morte o veio buscar na tarde de 17 de novembro de 1947, pondo fim às constantes atividades, as mais variadas, e sempre exercidas com eficiência, como se nada mais, além daquilo, tivesse que fazer.
Amigo de todos os intelectuais, que sempre procurou prestigiar, fez de seu Clube Jocotó a tribuna cultural de Porto Alegre, depois de ter, por todos os meios a seu alcance, auxiliado os poetas e escritores desde o momento que lhe foi possível dispor livremente de alguns vinténs seus. Além de Zeferino Brasil, casado com sua irmã, dona Celina Totta, estava ligado por grande amizade a Paulino de Azurenha, Caldas Júnior, Marcelo Gama, Pedro Velho, Otávio Dornelles, Souza Lôbo e, mais tarde, da nova geração que acolheu, toda ela, no Jocotó, onde tiveram ocasião de se apresentar, quase que um por um, em conferências, recitais de poesia, de canto e de música, criando um autêntico ciclo de cultura em Porto Alegre que durou, sempre com êxito crescente, por mais de dez anos. Até intelectuais de outros Estados da União mandava buscar para apresentar ao público porto-alegrense nos notáveis saraus do Jocotó.
Mário Totta, por suas atividades de 1892 ao seu falecimento, foi, direta e indiretamente, o mais destacado movimentador da sociedade da capital gaúcha, quer no terreno humanitário, quer no social, propriamente dito, quer como cientista e médico sempre presente onde a dor se manifestasse. E foi um animador constante do carnaval.