O médico Maurício Seligman nasceu na colônia Philippson, situada na zona rural de Santa Maria em 1904, pertencente à primeira geração de corajosos homens que abandonaram tudo e, enfrentando as dificuldades da língua estranha e dos costumes que contrastavam com suas origens, procuraram novos horizontes, novas esperanças.
Em sua tenra infância em contato direto com a terra, herdou o cuidado especial com a natureza, cuidado este só excedido pelo trato com o ser humano.
Sua vida profissional iniciou-se muito jovem quando foi trabalhar na Viação Férrea do Rio Grande do Sul em Santa Maria, onde na modesta função de escriturário obteve destaque que o transferiu para a capital. Aqui em Porto Alegre formou-se na Escola Superior de Comércio, mas seu verdadeiro dom foi se revelar em 1930, quando ingressou na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Desde os bancos acadêmicos, seu trabalho era solicitado pela comunidade mostrando que, mesmo antes de se formar, o caminho humanitário do futuro médico já estava determinado.
Formou-se em 1936 e passou a exercer a profissão na clínica privada e na enfermaria 27 da Santa Casa de Misericórdia, do Prof. Antonio Saint Pastous, do qual foi assistente. Nesta instituição dirigiu também o ambulatório 12 de Clínica Médica por aproximadamente 30 anos, onde havia habitualmente estágio de estudantes e médicos. O Dr.Mauricio tinha um especial carinho pelo ambulatório, tendo padronizado uma ficha clínica de exame dos pacientes e um fichário para consulta, que eram seguidos rigorosamente.
Dedicou-se especialmente à Endocrinologia com ênfase no Diabete, áreas na qual foi precursor no Rio Grande do Sul. Nessa especialidade fez cursos e participou de congressos no Brasil e Exterior.
Na década de 1950 participou da fundação do departamento de Angiologia da AMRIGS junto com os Drs. Arthur Mickelberg, Luis Carlos Ely, Nilo Medeiros, Mario Silva e outros. Na década de 1960 participou com o Dr Arthur Mickelberg em trabalhos sobre arteriografia em diabéticos.
Foi agraciado com o título de Irmão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia.
O Dr. Mauricio foi um dos poucos médicos da época com atividade exclusiva em clínica privada, sem nenhum vínculo empregatício.
Dedicou-se amplamente à comunidade judaica, realizando obras memoráveis nas várias instituições que presidiu. Trabalhando intensamente teve sua atenção despertada para os problemas da velhice e, na busca de soluções, lançou-se com afinco no estudo da gerontologia.
Com grande sensibilidade e visão administrativa, lançou-se talvez no maior desafio de sua vida: construir um local em que junto dos idosos morassem a dignidade e o carinho.
Junto de outros valorosos homens, idealizou, projetou e realizou um dos maiores feitos da história da comunidade judaica de Porto Alegre: O ‘ Lar dos Velhos’. Um lugar, um verdadeiro lar, que abriga e cuida com humanismo e responsabilidade dos idosos. Atualmente denomina-se Lar Mauricio Seligman.
Ainda em seu último dia de vida dedicou-se ao Lar com o mesmo entusiasmo do jovem estudante de Medicina, reuniu em sua casa sua equipe médica onde se declarou satisfeito com o trabalho realizado e que estava pronto para partir. Ainda teceu um comentário que tenta resumir sua filosofia de vida: a morte só poderia ser aceita de uma maneira tácita, quando a vida foivivida com dignidade.
Entre os papéis que deixou sobre sua mesa de trabalho, estava uma carta dirigida aos netos que estavam cursando Medicina, em que se destacava uma frase de grande valor simbólico da qual o Dr. Mauricio Seligman fez uma constante prática: “Se não pudermos ser um bom médico, sejamos um médico bom”.