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Cadeira 54

Olympio Olinto de Oliveira

Olympio Olinto de Oliveira foi uma das mais notáveis figuras do cenário médico e cultural rio-grandense e brasileiro, no final do século XIX e na primeira metade do século XX.

Nasceu em Porto Alegre a 5 de janeiro de 1866. Era o mais velho de oito irmãos. Seu pai foi, por muitos anos, funcionário da Secretaria da Santa Casa de Misericórdia. Formou-se médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se em 1887, com tese de doutoramento sobre “as paralisias na infância”. No curso acadêmico foi discípulo dileto do Professor Moncorvo (pai), considerado como o verdadeiro iniciador dos estudos de Pediatria no Brasil. Formado médico, Olinto de Oliveira, retorna ao sul onde inicia sua extraordinária carreira profissional, dedicada fundamentalmente à Pediatria.

Logo após chegar, cria uma instituição de assistência médica infantil, por muitos considerada como a primeira creche do Brasil.

Em 1889, casa-se com Maria Emília Pereira da qual teve sete filhos: Ester, Carlos, Silvio, Jorge, Paulo, Mário e Décio.

A 13 de setembro de 1892, junto com as mais importantes lideranças médicas da época, comandadas por Rodrigo Azambuja Villanova, funda a Sociedade de Medicina de Porto Alegre da qual foi o primeiro Secretário e, poucos anos após, seu Presidente. Esta Sociedade foi a primeira congregação formal das forças médicas do Rio Grande em defesa da medicina acadêmica e em contraposição ao regime de liberdade profissional que, por inspiração positivista, adotada pelo governo do Rio Grande, imperava no Estado. Tudo indica que a Sociedade de Medicina funcionou como um núcleo condutor à fundação, seis anos mais tarde, da Faculdade de Medicina de Porto Alegre.

Criada a Faculdade de Medicina, em 25 de julho de 1898, procedeu-se à constituição de seu primeiro quadro de professores. Olinto de Oliveira, eminente pediatra e médico de sólida formação cultural e acadêmica, foi nomeado lente da escola em 28 de fevereiro de 1899. As aulas da primeira turma médica iniciaram-se no mês seguinte. Olinto foi convidado para ocupar duas cadeiras: a de Anatomia e Fisiologia Patológicas, a ser ministrada no 2o ano do curso, e a de Clínica Pediátrica, a ser ministrada no 5o ano.

A atuação de Olinto de Oliveira foi tão destacada e tão marcante que esta primeira turma o escolheu para Paraninfo. Sabendo-se as características especiais de uma primeira turma de qualquer faculdade, pelos múltiplos desafios materiais e sentimentais que a experiência encerra, pode-se valorizar apropriadamente o que significa ser escolhido por ela como seu Professor Paraninfo.

Olinto teve importante presença no amplo debate político-fiiosófico que cercou o período inicial da vida da Faculdade, em relação à doutrina positivista e às duras conseqüências que a sua pregação de exercício profissional livre trouxe para a Faculdade a qual, obviamente, só podia acatar o exercício profissional da Medicina por portadores de diploma acadêmico. Os debates de Olínto, em público e peja imprensa, marcaram época.

Seu interesse pela escola ultrapassou todos os limites e incluiu atividades de administrador e de construtor. Assim, foi o criador do Dispensário de Crianças, um dos primeiros núcleos de exercício específico da Pediatria no território da Santa Casa de Misericórdia e que serviu de palco a muitas de suas aulas de Clínica Pediátrica. De 1910 a 1911, ocupou a Direção da Faculdade, tendo como seu Vice-Diretor, Eduardo Sarmento Leite da Fonseca. Na sua gestão cria o Instituto Pasteur, para tratamento preventivo da raiva, em prédio alugado à praça Dom Feliciano, e cuja direção entregou a Raymundo Gonçalves Vianna. Ainda nesta gestão, lidera a luta pela criação do Instituto Oswaldo Cruz, finalmente instalado em 1911, à Rua Gen. Vitorino, no 2, em prédio igualmente alugado tal como alugado também era o prédio da própria Faculdade, na mesma rua. Neste Instituto, do qual foi o primeiro Diretor, foi iniciada a realização da reação de Wassermann, pelo processo original, em Porto Alegre. O Instituto foi também um centro de pesquisas médicas nele tendo funcionado laboratórios pertencentes às cadeiras de Química Fisiológica, Patologia Geral e Anatomia e Fisiologia Patológicas.

Em 1914, Olinto foi mais uma vez eleito Paraninfo pelos formandos do ano. De acordo com o permitido pela legislação da época, em 1917, havendo vagado a 1a. Cadeira de Clínica Médica, por morte de seu titular, o Professor Olinto e mais dois professores do Corpo Docente da Faculdade pleitearam transferência para aquela vaga. Não obstante ser o Professor Olinto um dos mais qualificados, sua pretensão não foi vitoriosa. Desgostoso, demitiu-se da Faculdade e, pouco depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde viveu o resto de sua longa vida. Ao encerrar sua carreira na Faculdade, Olinto de Oliveira foi alvo de grandes homenagens. A Congregação percebendo como inúteis seus esforços para dissuadi-lo de seu pedido de demissão, concedeu-lhe por unanimidade o Título de Professor Honorário. E os alunos prestaram-lhe uma carinhosa e comovedora homenagem em cerimônia realizada na própria Faculdade, com a presença do Diretor, convidado pelos alunos.

Além de grande médico Olympio Olinto de Oliveria era um virtuoso cultor das letras, e emérito musicista e crítico de arte. A 1o. de dezembro de 1901, fundou a Academia Rio Grandense de Letras, da qual foi o primeiro presidente e ocupou a cadeira No. 1. A 22 de abril de 1906, fundou e foi o primeiro Presidente do Instituto Livre de Belas Artes, hoje Instituto de Artes, da Universidade do Rio Grande do Sul.

No Rio de Janeiro, Olinto veio a cumprir uma outra exitosa etapa profissional médica de sua vida. Entre outros destaques, obteve a ciração e dirigiu, até sua aposentadoria, o Departamento Nacional da Criança. E, em 1939, instituiu a “Semana da Criança”, movimento anual de propaganda e ensinamento, destinado a promover, em todo o Brasil, o interesse pela criança e os meios de protegê-la.

Em 1953, Gastão de Figueiredo referiu que “o Professor Olinto de Oliveira foi eminente brasileiro, que enobreceu a sua Pátria e engrandeceu a nacionalidade, oferecendo o melhor dos seus esforços em prol da infância brasileira”. Em 1956, Martinho da Rocha assinalou que “Olinto de Oliveria foi, indiscutivelmente, grande entre os maiores vultos da galeria pediátrica Nacional”. No mesmo ano, Olinto teve seu nome inscrito no “Livro do Mérito”, destinado a receber o nome de pessoas que cooperaram de maneira meritória para o enriquecimento do patrimônio material ou espiritual da Nação e merecido o testemunho público do seu reconhecimento.

Olinto de Oliveira publicou inúmeros trabalhos científicos. Dirigiu os Arquivos Brasileiros de Pediatria e foi conselheiro do Jornal de Pediatria.

Uma história familiar estabeleceu um curioso vínculo entre Olinto de Oliveira e um outro vulto maior da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Sua filha mais velha, enamorou-se de um estudante que completaria o curso médico em 1916. O estudante, filho de imigrantes italianos, como genro não agradava a Olinto, que proibiu o namoro. Com a transferência da família para o Rio de Janeiro, pouco tempo após, Ester lá veio a casar-se.

O estudante, e logo médico, permaneceu solteiro. Em 1925, disputou, com brilho, o título de Livre Docente em Fisiologia. E, em poucos anos, afirmou-se como a maior expressão Professoral da Faculdade e uma das maiores expressões políticas do Estado, nos meados do século: Raul Pilla. No final da vida de Olinto, viúva sua filha, Pilla, já com prata nos cabelos, veio com ela a casar-se num epílogo romântico que enterneceu a todo o Brasil.