Paulo de Queiroz Telles Tibiriçá nasceu em São Paulo, SP, onde cursou a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em 1939, defendeu tese de livre docência nesta universidade, versando sobre o estudo anatomopatológico das vias aéreas superiores em moradores de rua desta capital e descobrindo que a maioria apresentava lesões provavelmente devidas à exposição ambiental, seja a poluição ou doenças virais e muito indicadoras de que a etiologia das sinusites banais devia-se a essas etiologias e não a causa bacteriana, como então se pensava. Após alguns concursos à cátedra de Patologia, em que saiu vencedor em outras instituições, conquistou-a na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1944, causando admiração a seus pares pela organização que imprimiu, sua disponibilização de materiais didáticos de anatomia patológica e vindo a formar numerosos assistentes até sua aposentadoria, em 1963.
Além de eminente professor e pesquisador, Tibiriçá foi um ser humano exemplar, em companhia de sua esposa Celina, também paulista, fundadora e primeira diretora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para com ela aqui criar seus filhos. Era também conhecido pela sua notável qualidade de destrinçador de problemas, então procurado ora no âmbito da faculdade, ora nos famosos cafés de outrora da nossa cidade, onde reuniam-se os colegas e amigos no Café Colombo, na esquina da ladeira, no Nacional ou em seu fronteiriço, o Liberal, na rua da Praia.
Como líder, foi presidente da Sociedade de Medicina do RS, associando seus esforços aos de Bruno Marsiaj, presidente da Sociedade de Cirurgia do RS, unificando ambas na Associação Médica do Rio Grande do Sul, AMRIGS e sendo seu primeiro presidente, em 1955. Na ata da fundação, escrita pelo então 1º Secretário, o saudoso Dr. Franklin Veríssimo, consta que a reunião foi realizada na sede do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, já consolidado sob o signo liberal da atuação médica e que vinha ameaçado por excessiva intromissão governamental no sindicalismo a fins políticos. Entretanto, defendia os preceitos da medicina social com abrangência a toda população, como antevisto por Érico Veríssimo em sua temática visionária do romance “Olhai os lírios do campo”, obra de grande repercussão a ver-se traduzida em diversas línguas.
Com a particularidade de saber tirar lições dos acontecimentos do quotidiano, Tibiriçá em seu discurso de posse na Associação Médica citou o poema em que Charles Chaplin, genial intérprete e diretor do filme “O Grande Ditador”, colocou com muita ironia na fala da personagem: “Olhai para o cimo, no alto as nuvens se desvanecerão, o sol abrirá caminho e sairemos das trevas para a luz”.