Nasceu em Porto Alegre, em 14 de novembro de 1916, e morreu, aos 52 anos, em 24 de fevereiro de 1969, durante o veraneio, em Torres, de um segundo enfarto do miocárdio, três meses após o primeiro.
Estudou no Ginásio Anchieta, onde os jesuítas preparam os filhos da elite porto-alegrense para a universidade. A formação médica foi feita na única faculdade da época, de 1934 a 39.
Filho do Catedrático de Psiquiatria da única faculdade de medicina do Estado, Paulo já nasceu no ambiente que deu a principal característica e importância de sua vida. Falar um pouco do Hospital São Pedro ajuda a entender tanto a Paulo como a psiquiatria sul-brasileira. Paulo o conheceu sob todos os ângulos, como filho do Diretor, como aluno de medicina em aulas que eram ministradas lá, como médico estagiário, como Professor de Psiquiatria e como fundador, com David Zimmermann e vários outros professores, da Unidade Melanie Klein, uma grande contribuição para a modernização do hospital.
Fundado em 1879 como “Asilo de Alienados” da Santa Casa, com 25 pacientes, o Hospital São Pedro foi inaugurado solenemente, com prédio próprio, em 1884.
A Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul (fundada em 1938) passou muitos anos inativa até ser revivida, com a fundação da Associação Médica do Rio Grande do Sul, tendo Paulo como seu primeiro presidente psiquiatra, de outubro de 52 a outubro de 53. Por contrato, passou a exercer as funções de Departamento de Psiquiatria da AMRIGS em 1952 e se tornou Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul em 1970. Como em todo o Brasil, a psiquiatria gaúcha era organicista, incipiente e inseparável da clínica médica até a terceira ou quarta década deste século. Foi um Professor de Ginecologia, Martim Gomes, entre 1920 e 30 quem deu as primeiras aulas de psicanálise e introduziu as ideias de Freud no curso de Medicina. Pouco depois, Dionélio Machado, em 1930 traduz “Elementos de Psicanálise”. Celestino Prunes, em 1934, inclui no ensino de Medicina Legal, na parte relativa a Deontologia Médica, os fundamentos da teoria do inconsciente. Décio Soares de Souza passa a ensinar Psiquiatria em 1944. Paulo Guedes o sucede em 1951.
Foi seu prestígio social e universitário, que permitiu o início e, sobretudo, a continuação regular de aulas de psicologia médica desde o início do curso de medicina.
O Centrode Estudos Psicoanalíticos de Porto Alegre, fundado em 1957, teve em Paulo Guedes não só um dos Fundadores como a pessoa que conferiu prestígio universitário ao treinamento psicanalítico, até o reconhecimento por Buenos Aires em 1959 e pelo Rio em 1961. O início do Curso de Psicologia Médica para os alunos das primeiras séries médicas em 1953.
Paulo Guedes contribuiu muito, com seu prestígio social e universitário, para que estas pessoas fossem convidadas para conferências na Faculdade de Medicina. Seu aval se mostrou ainda mais importante em situações em que afirmações dos mesmos sofriam críticas severas de tradicionais professores.
A ClínicaPinel, fundada por Marcelo Blaya Perez em 28-3-60, foi pioneira em muitos pontos, inclusive nas técnicas de Ambientoterapia, na formação de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros sob o regime de residência e na publicação dos “Arquivos da Clínica Pinel”, com grande difusão e prestígio nacionais.
Em1940, Paulo foi nomeado Assistente de Ensino da Cadeira de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina. Em 1942, defendeu tese de Doutoramento, com trabalho intitulado: “Meteorologia e Crises Epiléticas”. Em 1944, fez brilhante concurso para Livre Docência com a tese: “Contribuição ao Estudo das Psicoses de Situação”. Em 1950, Paulo Guedes, como Docente Livre, assumiu a Cátedra e a exerceu interinamente até a morte.
Em1947, Mário Martins, formado em 3 anos pela Associação Psicoanalítica Argentina, iniciou a prática em Porto Alegre.
O primeiro Curso, constituído de Psicologia Psicoanalítica, Propedêutica e Clínica Psiquiátrica, durou um ano, com oito horas semanais de ensino prático e teórico, perfazendo 320 horas de seminários. Visava integrar a psiquiatria descritiva com a dinâmica, criando uma nova consciência no aluno. A pedido dos que concluíram, o curso continuou por mais dois anos, transformado em curso de Especialização. Paulo participou desde 1958, quer dizer, na primeira turma, no prolongamento.
Diplomou-se no Curso de Música, da Escola de Artes em 1934. Já em 36 ingressou no magistério superior, como Assistente de Ensino da Disciplina “Conjunto de Câmara”, tendo pouco depois assumido a Cátedra, que dirigiu por trinta anos. Exerceu, também a Cadeira de História da Música, na Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Não se limitou, entretanto, ao ensino: tocava vários instrumentos, especialmente o violino, e o fazia com maestria suficiente para integrar, durante dez anos, o Quarteto Oficial da Escola. Mais do que tocar, Paulo compunha e o fazia a ponto de ter como co-autores (das letras), nada menos do que Carlos Drummond de Andrade e Ovídio Chaves, entre outros. Seu “Noturno” para piano fez parte do Álbum Musical Comemorativo do Bicentenário de Porto Alegre. A “Suite Infantil’ (crianças brincando, acalanto e corrupio) foi publicada nas Edições da Associação Rio-grandense de Música.
Citamos, também, para ilustrar seu estilo: “Quatro Esboços Brasileiros” (Chorinho, toada, cantiga e dança); “Suite para Orquestra”; “Três Peças de Caráter Popular para Flauta, Violão e Orquestra de Cordas”; “Brinquedo de Roda”; “A Moda da Moça Muda”; “Modinha”; “Menina dos Oio Grande”. Quarta vertente: família e sociedade Casado com Zuleika Rosa Guedes, filha de intelectual e Professora Catedrática de Piano na UFRGS, Paulo tinha em casa a companheira ideal. O casal de filhos não negou a origem, gostam de música, têm ótimas relações sociais e familiares, Paulo Sérgio é psiquiatra e Berenice casada com médico, Prof. João Müsnich.
Como presidente da Sociedadede Neurologia, Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul, Paulo inaugurou e manteve a tradição de promover jantas mensais, geralmente no Restaurante Renner, o melhor da época, onde havia grande confraternização entre psiquiatras, neurologistas e neurocirurgiões.