Thomaz Larangeira Mariante – (1891-1975) – Nasceu em Porto Alegre em 21 de junho de 1891. Filho de Maria Joaquina Larangeira Mariante e Serapião Mariante. Cabe aqui uma interrupção na história de Thomaz para lembrar quem foi Serapião. Segundo o professor Elyseu Paglioli em artigo escrito para o Panteão (1943): “Serapião foi um dos primeiros e também dos maiores mestres da cirurgia entre nós. Homem sereno e dotado de extraordinárias virtudes, exercia sua profissão e seu magistério com grande dedicação e profundo saber. (Panteão, p. 62). Diplomado na Faculdade Nacional de Medicina (Rio de Janeiro) em 1885, estudou na Europa e aprofundou-se mais em cirurgia, ginecologia e obstetrícia. Em 1898, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, seu professor, diretor e paraninfo de mais de uma turma de médicos.
Seu filho, Thomaz, frequentou os cursos primário e secundário no ginásio Anchieta (colégio dos jesuítas em Porto Alegre), bacharelando-se em ciências e letras (1908), (Panteão, p. 530). Formou-se em Medicina pela Faculdade de Porto Alegre, defendendo a tese de doutoramento: Partoanalgia (1915), (Panteão, p. 530).
O livro que registrou os 100 anos da Faculdade de Medicina: Fogos de Bengala nos céus de Porto Alegre relaciona os prêmios escolares conferidos pela Faculdade de Medicina e entre eles a “Láurea, conferida ao aluno de maior número de aprovação com distinção em mais de 2/3 das disciplinas do curso e sem penas disciplinares” (Fogos de Bengala, p. 187). No ano de 1915, esta distinção foi conferida ao aluno Thomaz Larangeira Mariante.
Após a conclusão do curso de medicina aproximou-se de duas notáveis lideranças clínicas: Octávio de Souza (1875-1933) e Antonio Austregésilo. O primeiro, gaúcho de Porto Alegre, formado no fim do século XIX no Rio de Janeiro. Sobre ele diz Raul Pilla: “clínico na verdadeira acepção da palavra, que ao saber aliava a intuição, o tacto e a bondade, foi Octávio de Souza também um grande professor. (Panteão, p. 40). “O segundo, pernambucano de Recife, Antônio Austregésilo (1876-1960), trabalhava como professor clínico e neurologista. Sobre ele Carlos Lacaz cita as palavras do Prof. Almeida Prado: “o professor Austregésilo foi sempre o homem da ciência por amor à verdade, o erudito por insaciável curiosidade mental, o realizador por temperamento e o grande clínico por indeclinável vocação”. (Vultos da Medicina Brasileira, p. 43).
Concluindo o que hoje poderíamos chamar de estágio ou “residência médica”, junto a estes notáveis nomes da medicina brasileira, “retorna à Faculdade para cumprir etapas de um concurso para catedrático de clínica médica. Aprovado vai para a reunião da congregação de 30 de maio de 1919, na qual tomou posse de sua cátedra conquistada por concurso e ouvir as palavras do Diretor Sarmento Leite: “… sou um esperançoso eterno e convicto, e essa esperança se reafirma, essa convicção se revigora toda vez que um punhado de moços vem empenhar suas energias na cruzada santa do magistério”. (Panteão, p. 35).
A sua vida de professor e de clínico teve como cenário, na maior parte dos dias, as enfermarias da Santa Casa de Porto Alegre. Ali, foi admitido pela Mesa Administrativa como Irmão em fins de 1918, e ocupou a direção de várias Enfermarias. Nestas enfermarias, testemunhou, com outros colegas, o uso pela primeira vez, em nosso meio, da penicilina. (Fogos de Bengala, p. 118). No livro em que a Faculdade comemorou o centenário (1998) o nome do Dr. Thomaz aparece inúmeras vezes, algumas já citadas, outras, ainda não. Entre as outras lembro: Na página dedicada às Famílias dos Professores, no tópico referente à família Mariante, divide o espaço com o pai Serapião e com o filho Flavio Py Mariante. Seu nome consta como Professor Emérito da UFRGS no ano de 1973; Como seu pai também paraninfou uma turma, a dos médicos formados em 1933.
Publicou muitos artigos científicos ao longo de sua vida de professor de clínica médica em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Seus escritos, no Rio Grande do Sul, estavam distribuídos em revistas médicas e anais da Faculdade de Medicina de Porto Alegre e do Congresso Rio-grandense de Oftalmologia. Proferiu conferências sobre assuntos relacionados à clínica médica como “Vitaminas e Hormônios” no 2º Congresso Panamericano de Endocrinologia em Montevidéu (1941) ou “A noite do Cardíaco” na Sociedade de Medicina. Porto Alegre, 1941. Mas também abordou temas atuais para a época durante a Segunda Guerra: “O dever do médico ante a situação do mundo e do Brasil” – Aula inaugural – Porto Alegre, 1942 ou “O papel do médico na organização da defesa civil” Sociedade de Medicina, 1942.
A clínica e o magistério não o impediram de trabalhar nas entidades médicas em favor de uma medicina mais qualificada. Ocupou a cadeira número 48, como Membro Titular e Fundador do Instituto Sul-Rio-Grandense de História da Medicina. Foi sócio da Sociedade de Medicina de Porto Alegre e articulista da publicação Arquivos Rio-Grandense de Medicina. Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (1935-), quando presidiu o Congresso Médico Sindicalista Regional e apresentou o “Histórico da atuação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul”, mostrando a necessidade de combater o charlatanismo e o curandeirismo” (Boletim do Sindicato Médico do RGS, ano IV, Porto Alegre, maio-junho 1935).
O Professor Thomaz Mariante entrou para a história da medicina gaúcha através de um escrito de Oly Lobato no livro “Fragmentos da História da Nefrologia Gaúcha”. O título do artigo – A Enfermaria 2 e a primeira clínica médica: o início da nefrologia gaúcha – O artigo narra a história de um grupo de médicos que no fim dos anos cincoenta e no início de (1961) dos anos sessenta transforma em cos, como era a Enfermaria 2 nesta época, e como era a Enfermaria nas décadas anteriores. Cita alguns médicos que trabalhavam nessa época: Antonio Azambuja, Carlos Britto Velho e Thomaz Mariante.
Sobre Mariante, ele conta:
“Em 1934, o Professor Thomaz Mariante já tinha escrito vários capítulos sobre Doenças Renais, no seu livro “Noções de Patologia e Clínica”, Editora Globo, 1936. Eram relatos sobre casos de Nefrologia, numa época que não havia laboratório, radiologia ou ecografia adequados ao diagnóstico nefrológico. Os trabalhos do Dr. Thomaz, em Nefrologia, eram baseados muito mais em sua intuição clínica”, seu vasto conhecimento de medicina, principalmente, orientado pela medicina francesa e nos modestos exames comuns de urina e dosagem de ureia no sangue. (Fragmentos da História da Nefrologia Gaúcha – C. Vieira, I. Antonello – E. Barros. Porto Alegre: Next Comunicação. Sustentável 2013, p. 30).