O câncer é uma afecção em que as células do corpo crescem descontroladamente. A pele pode ser a sede desse processo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, o número de casos novos de câncer de pele não melanoma estimados para 2025 é de 220.490, o que corresponde a um risco estimado de 101,95 por 100 mil habitantes, sendo 101.920 em homens e 118.570 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 96,44 casos novos a cada 100 mil homens e 107,21 a cada 100 mil mulheres.
Os três tipos mais comuns de câncer de pele (não melanoma) são os Carcinomas Basocelulares, os Carcinomas Espinocelulares (ou Epidermoides) e os Melanomas. Os carcinomas derivam de células do revestimento: os primeiros começam na camada basal da epiderme e nos folículos pilosos, e os segundos, nas camadas mais altas e escamosas da pele. O terceiro, o melanoma, menos frequente, porém mais agressivo, tem origem nos melanócitos, que são células pigmentares formadoras de nevos (sinais), bem como as da própria epiderme, responsáveis pelo bronzeamento.
O número de casos novos estimados de melanoma é de 8.980 por ano, o que corresponde a um risco de 4,13 por 100 mil habitantes, sendo 4.640 em homens e 4.340 em mulheres. Na Região Sul, o câncer de pele melanoma é mais incidente quando comparado às demais regiões, para ambos os sexos.
No Brasil, ocorreram, em 2020, 2.653 óbitos por câncer de pele não melanoma e 1.923 por melanoma.
O câncer de pele é o tipo mais comum em populações de pele clara, inclusive no Brasil.
Pessoas com certos fatores de risco têm maior probabilidade de desenvolver câncer de pele (albinos, portadores de genodermatoses como o xeroderma pigmentoso, histórico familiar de câncer de pele, nevos congênitos gigantes, exposição a carcinógenos como alcatrões, arsênio, etc.).
Os fatores de risco podem variar para diferentes tipos de câncer de pele, mas o excesso de exposição à radiação ultravioleta (RUV) e seu acúmulo na pele desde a infância é o fator de risco mais importante em todos os três tipos. A causa mais evitável de câncer de pele é a superexposição indiscriminada à radiação ultravioleta (RUV), seja solar ou de fontes artificiais, como camas de bronzeamento, acumulada ao longo da vida.
Sendo uma lesão resultante da proliferação desordenada de células, o câncer de pele costuma tomar um formato que sugere sua origem. Por exemplo, como o carcinoma basocelular tem origem nas células mais profundas da epiderme (células basais), seu aspecto mais frequente é o de uma “ferida que não cicatriza”, uma ulceração que penetra na derme. O carcinoma epidermoide, oriundo das camadas mais altas, geralmente tende a crescer para cima, com aspecto vegetante ou verrucoso, formando uma “verruga ulcerada”.
O melanoma, por sua vez, sendo o vizinho escuro das células basais, inicialmente cresce em superfície (como uma mancha escura que aumenta irregularmente) e, com o tempo, prolifera em todas as dimensões. Com o avanço, a superfície pode ulcerar.
Existem melanomas não diretamente relacionados à RUV, como os das palmas das mãos, plantas dos pés, mucosas orais e genitais, e do aparelho ungueal. Outros fatores de risco, ainda não bem estabelecidos, podem ser os responsáveis pela estimulação melanocítica maligna nesses casos.
Assim, qualquer lesão crônica na pele pode ser um sinal de câncer: um novo crescimento, uma ferida que não cicatriza, um sinal que muda de aspecto ou uma mancha nova que cresce irregularmente. Lembre-se de que nem todos os cânceres de pele têm a mesma aparência, pois dependem de sua célula de origem.
Para diminuir o risco de contrair câncer de pele, você pode proteger sua pele desde cedo dos raios UV do sol e de fontes artificiais, como camas de bronzeamento e lâmpadas solares. Resumidamente, sugere-se:
- Evitar exposição ao sol entre 10h e 16h, mesmo no inverno e em dias nublados.
- Usar protetor solar de amplo espectro UVA/UVB (FPS 30). O protetor solar não bloqueia completamente todos os raios UV que possam causar câncer de pele, mas reduz seus efeitos nocivos e seu acúmulo.
- Durante atividades ao ar livre, reaplicar o protetor solar a cada duas horas ou com mais frequência se estiver nadando ou suando.
- Usar roupas de proteção solar com fator de proteção ultravioleta (UPF) 50+, que bloqueia 98% dos raios solares. Chapéus de abas largas e roupas que cubram braços e pernas também ajudam a proteger a pele.
- Reduzir o tempo de exposição solar para fins de bronzeamento. Evitar camas de bronzeamento artificial. Lembre-se: “Bronzeado não é sinal de saúde”.
- Realizar um autoexame na pele. Caso note diferenças, como manchas ou alterações incomuns, procure um dermatologista, especialmente se tiver maior risco de câncer de pele.
No autoexame da pele, foi criado um acróstico para facilitar a detecção de possíveis melanomas: a Regra do ABCDE. Observe lesões que apresentem:
- A – Assimetria (uma metade diferente da outra).
- B – Bordas irregulares.
- C – Cores variadas (bege, marrom, preto na mesma lesão).
- D – Dimensões (crescimento ao longo do tempo).
- E – Evolução (e elevação) de uma lesão pigmentada.
Além do autoexame, uma avaliação periódica feita por um dermatologista é recomendada. Pode-se realizar também um exame de imagem, conhecido como “Mapeamento Digital Corporal Total”, com câmeras e aparelhos de dermatoscopia digital, para avaliação, controle e detecção de lesões novas. Esse exame é especialmente útil para pessoas com grande número de lesões pigmentares, cuja presença dificulte o autoexame.
Artigo escrito pelo Acadêmico e dermatologista Lúcio Bakos, e pelo dermatologista e Professor Associado de Dermatologia do Departamento de Medicina Interna da UFRGS, Renato Marchiori Bakos.