Pesquisar

Maio Roxo: Doença Inflamatória Intestinal

Doença Inflamatória Intestinal (DII) é um termo abrangente que engloba condições crônicas inflamatórias do trato gastrointestinal, sendo as mais comuns a doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI). A sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, imunológicos, ambientais e microbiológicos.

Essa enfermidade afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com uma evolução histórica que revela um aumento significativo na incidência e prevalência nas últimas décadas.

Embora a DII possa afetar pessoas de todas as idades, ela é mais comum em adultos jovens, entre 15 e 35 anos. No entanto, casos pediátricos estão em ascensão, apontando para uma mudança no perfil epidemiológico da doença. A prevalência varia geograficamente, sendo mais comum em países industrializados, especialmente nas regiões ocidentais.

A história da DII remonta à antiguidade, mas apenas no século XX ela começou a ser reconhecida como entidade clínica distinta. Avanços na endoscopia, histologia e genética molecular proporcionaram uma compreensão mais profunda da patogênese e da variabilidade clínica dessas condições.

A DII representa um desafio significativo da saúde pública devido a sua cronicidade, impacto na qualidade de vida e custos associados ao tratamento e complicações.

Há uma crescente preocupação da relação da DII com outras condições, como câncer colorretal e distúrbios hepatobiliares.

A Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI) pode evoluir para câncer colorretal especialmente em casos de inflamação crônica não controlada, presença de complicações como displasia colônica, duração da doença (risco aumenta muito depois de 8 a 10 anos de doença), extensão e gravidade da inflamação, nos mais jovens e nos com história familiar.

A relação entre a doença de Crohn e o câncer colorretal é complexa e pode variar de acordo com diversos fatores, incluindo a extensão e a gravidade da doença, o tempo de evolução, a presença de complicações como fístulas e estenoses, e o controle da inflamação. O risco absoluto de câncer colorretal na doença de Crohn pode ser menor do que na RCUI, mas isso não significa que a doença de Crohn não esteja associada ao câncer colorretal.

Indivíduos com história familiar de DII têm um risco aumentado de desenvolver a doença. Além disso, fatores ambientais, como dieta ocidentalizada, tabagismo e estresse, podem desencadear ou exacerbar os sintomas em pessoas geneticamente predispostas.

Os sintomas da DII variam de acordo com a localização e extensão da inflamação no trato gastrointestinal. Os principais incluem dor abdominal, diarreia, sangramento retal, perda de peso e fadiga. Manifestações extraintestinais, como uveíte, artrite e lesões cutâneas podem ocorrer.

O diagnóstico da DII envolve uma combinação de história clínica, exame físico, exames laboratoriais, endoscopia e exames de imagem. Testes genéticos e marcadores sorológicos específicos podem auxiliar na diferenciação entre doença de Crohn e RCUI.

O tratamento da DII visa controlar a inflamação, aliviar os sintomas e prevenir complicações. Isso geralmente inclui o uso de medicamentos, como aminossalicilatos, corticosteroides, imunomoduladores e biológicos. Em casos graves ou refratários, a cirurgia pode ser necessária para remover áreas afetadas do intestino.

O prognóstico da DII varia de acordo com a gravidade da doença, resposta ao tratamento e presença de complicações. Embora muitos pacientes possam alcançar remissão e ter uma boa qualidade de vida, outros enfrentam uma doença debilitante. A DII também tem implicações socioeconômicas significativas, afetando a capacidade de trabalho e gerando custos elevados para os sistemas de saúde.

No mundo moderno, o aumento da incidência da DII tem sido atribuído a mudanças na dieta, estilo de vida e exposição a agentes ambientais. Além disso, a globalização e urbanização podem estar contribuindo para a disseminação da doença em regiões anteriormente menos afetadas.

Portanto, abordagens integradas que combinam prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz são essenciais para enfrentar esse desafio de saúde pública em constante evolução.

Artigo escrito pelo gastroenterologista e Acadêmico Cláudio Augusto Marroni.