Carlos Henrique Menke**
De uns tempos para cá, os meses do ano tornaram-se “coloridos”, associando campanhas de saúde a determinadas cores. Agora, todos os meses estão vinculados a uma – ou mais – cores, simbolizando a conscientização sobre várias doenças. Assim o ano começa com o Janeiro Branco (doenças mentais), segue com o Fevereiro Roxo (Lúpus, Alzheimer), o Março Azul Marinho (câncer colorretal) e vai passando, colorido, até chegarmos ao Setembro Amarelo (Suicídio) e ao Outubro Rosa (Câncer de Mama). Vem depois, o Novembro Azul (Câncer de Próstata) e o Dezembro Laranja (Câncer de Pele). Todos são importantes, mas o mais conhecido e de maior impacto é o Outubro Rosa. Foi o primeiro também, tendo sido lançado nos Estados Unidos em 1990, com o lacinho rosado como logomarca e que se difundiu pelo mundo inteiro.
Com a chegada de outubro, as entidades médicas, os órgãos públicos, as ONGs e a imprensa em geral se mobilizam para divulgar ações de prevenção do câncer de mama. E isso ocorre, de forma maciça, por duas razões: a primeira, porque é um problema de Saúde Pública por sua alta incidência e morbidade – as estatísticas mostram que é a neoplasia feminina mais freqüente no nosso país, principalmente na Região Sul; segunda, acomete o órgão símbolo da mulher, de tamanha importância na estética, na vida sexual e na manutenção da espécie (através do aleitamento). Esses fatores contribuem para que a doença cause tanta repercussão psicossocial e justificam toda essa publicidade.
Mas este Outubro Rosa de 2020 traz consigo uma mensagem de otimismo para todas as mulheres: o câncer de mama não é mais aquele inimigo imbatível, aterrador, que antes se imaginava. Sim, continua sendo uma enfermidade grave, porém o que a Medicina tem a oferecer nos dias de hoje é muito, mas muito mais do que disponibilizava há alguns anos.
Para começar, os métodos de diagnóstico precoce – mamografia, ecografia, ressonância magnética – tiveram enorme avanço técnico, descobrindo tumores cada vez menores e elevando os percentuais de cura: se antes alcançávamos taxas de 40-50% de sucesso no tratamento, agora subimos para 80 – 90%. Não são só esses números que reconfortam, mas conseguimos, em grande parte, superar o fantasma da mutilação que, quase sempre, acompanhava as operações radicais tipo mastectomia. Atualmente, técnicas comuns de cirurgia plástica associadas ao tratamento primário – a chamada oncoplastia – contornam o problema da deformidade e possibilitam melhor readaptação da paciente. Também na área da terapia sistêmica (quimioterapia, bloqueadores hormonais, agentes biológicos) obtivemos progressos significativos e o surgimento de marcadores moleculares/ genéticos levou ao conceito de Medicina Personalizada. Não é mais o mesmo tratamento para todas e sim a individualização de acordo com as características de cada uma. Enfim, o tratamento do câncer de mama se humanizou. E isto podemos comemorar neste Outubro Rosa de 2020, ano de pandemia de tão penosa travessia.
*Artigo publicado originalmente no jornal Zero Hora em 3 e 4 de outubro de 2020
*Médico Mastologista – Presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina