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SAMU: Um exemplo de cidadania

A profissão de médico não raro envolve atendimentos ao paciente em sua própria casa. Em geral, através de pequenos ajustes ou intervenções, se promove significativo alívio ou benefício ao paciente e à família.

Desta vez, era uma situação mais complexa. Uma provável infecção estava levando o paciente, já nonagenário, a uma falha cardíaca e pressenti que tínhamos que agir. Levar o paciente às pressas para o hospital seria uma odisseia hercúlea: elevador pequeno, transporte sem recursos, poderíamos não chegar a tempo.

Chamamos o Samu, que acolheu prontamente o chamado. Em poucos minutos, meu paciente estava recebendo oxigênio por máscara, recebendo drogas endovenosas e realizando ecografia pulmonar portátil para refinar o diagnóstico. Em casa. Um alívio inestimável. Após a devida estabilização, foi removido. Imbuído da situação de urgência, acompanhei o paciente na ambulância: “cor laranja!”, disse o médico ao motorista (Fiquei imaginando como seria a vermelha.) E saímos de sirene ligada sem parar nas esquinas e celeremente fomos entregues na sala de emergência do hospital. O paciente, quase centenário, evoluiu bem, sem sequelas desse episódio e passará mais uma virada de ano na presença da família.

A palavra que me veio à cabeça foi: cidadania. O Samu é um serviço público, que entrega serviço com profissionais selecionados e muito qualificados, com equipamento adequado e atualizado e cumpre seu objetivo: salvar vidas. Basta o paciente ser um cidadão. Um exemplo a ser seguido.

Mais recentemente, um projeto gestado no Samu de Porto Alegre, com apoio do Ministério da Saúde e da prefeitura através do Programa Proadi-SUS, em parceria com instituições privadas como Hospital Moinhos de Vento, Farmácias Panvel, Farmácias São João e outros colaboradores, está prevendo um treinamento de milhares de voluntários em atendimento de parada cardíaca, com a disponibilidade de desfibriladores nas farmácias, coordenados por aplicativo, numa espécie de “Uber da parada cardíaca”. Tornando Porto Alegre uma “cidade cardioprotegida”, nome do projeto. O Samu funciona bem e ficará maior e melhor. Um alento a toda a população.

Para ser um voluntário, acesse: gzh.rs/samu_sus.

*Luís Beck da Silva Neto (Médico cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs)

  • Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora em 29 de dezembro de 2023.